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sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

O clichê da maternidade

Ando muito cansada emocionalmente falando...talvez seja por isto que tenha me mantido quieta neste cantinho. Mas embora esteja quieta a cabeça não para de matutar e quase sempre a mesma coisa. Tem sido tempos difíceis...e é como dizem: sorte no amor...azar em todo resto (no meu caso). Este período de exílio voluntário tem me trazido outras questões à tona, ou melhor são as mesmas questões, os mesmos problemas mal resolvidos de sempre, mas agora com mais intensidade. Realmente sinto-me esgotada, cansada no meu papel de mãe. O Fabian fica apenas três horas na escola e o resto do tempo que está comigo, tem se saído muito bem em sua tarefa de me enlouquecer aos pouquinhos. 
Estou cansada de ver espelhada por qualquer lugar que se ponha os olhos que a maternidade é a melhor coisa que pode acontecer com uma mulher. Que só conhecemos o amor incondicional depois que temos filhos. Que há qualquer coisa de sobrenatural em ser mãe. São clichês, apenas clichês digo a mim  mesma. Mas irrita porque isto não é verdade. E não é verdade para muita gente. Ser mãe é apenas um dos papéis que desempenhamos e para algumas pessoas este pode ser o papel principal, mas para outras pode não ser. Somos diferentes em tantos aspectos porque diabos nisto temos de todas sentir o mesmo? Tantas mulheres digitam "odeio ser mãe" diariamente e vem parar aqui no blog e infelizmente não posso fazer nada por elas, aliás não posso fazer nem ao menos por mim. Quando vejo alguém evangelizar outras pessoas de que ser mãe mudou a vida dela e que como em um filme Disney "tudo passou a fazer sentido", embrulha-me o estômago, não por ela, mas pela ideia cristalizada na sociedade de que isto é uma verdade absoluta. Não é. E vou dizer que a mídia também sabe disto e explora cada pedacinho de culpa nestas mães que não se sentem assim. 
A cada vez que o Fabian apronta das suas eu tenho vontade de berrar, tenho de fazer o possível para manter o controle, mas especialmente nestas horas eu penso que cagada eu fiz com a minha vida. Se filho fosse tão bom, porque o governo aqui tem que quase empurrar goela abaixo? Vejo as pessoas me dizendo: ah só tens um, faz lá mais outro para poderes ter direito a abonos e auxílio moradia. Eu simplesmente não acho que ter filhos valha os 500 euros que o governo possa me depositar na conta. Tem uma mulher, vizinha de um casal de amigos, que tem cinco filhos e vive de abonamentos, ganha 1500 euros pelos filhos mais o valor total do aluguel de dois apartamentos interligados. Esta amiga virou-se para mim: se eu fosse tu fazia mais um e não precisavas de te preocupar em trabalhar. Deus me livre de mais um desgosto destes, pensei, mas apenas lhe sorri e não disse nada. Nunca digo nada, muito menos às mom addicted, porque assim como não me cabe a ideia de alguém por insana  de sã consciência decidir ter cinco filhos ou mais (ainda que o governo ajude), não lhe vai caber na dela que eu daria um  ou dois vá lá, dedos mindinhos para ter a minha vida de volta. 

domingo, 23 de junho de 2013

A fogueira

Escola do Fabian - Festa de São João

Alguém certo dia me disse que há uma fogueira dentro de nós. Sim, podemos ser água, vento ou terra. Podemos inclusive ser uma coisa de cada vez por um longo tempo. Eu desde que me lembro sou terra. Sou chão. Sou a busca de segurança e de acolhimento. Nunca gostei do fogo, ou melhor, talvez até não desgostasse o que havia era medo de queimar-me. Tenho para mim que o fogo é uma energia poderosa, o fogo destrói e prepara a mudança. Como sempre tive medo de mudar, parecia óbvio o porquê de manter-me longe. 
Não pude deixar de sentir um nó no peito quando acenderam uma enorme fogueira diante de mim. Vinham quatro tochas de cada lado. Norte, Sul, Leste, Oeste. Juntaram-se em meio à madeira que jazia no centro de tudo e atearam fogo. Timidamente começou a buscar oxigênio e tomou conta da base, para depois ir gargando o cimo daquela pequena montanha. O fogo fez-se em luz e vida, qual uma entidade tomou-lhe  o corpo, dançando e lançando fagulhas noite à dentro. O fogo brincava de destruir. Sim, tenho a certeza de que gozava o momento com felicidade, como se tratasse de uma criança de tenra idade a destruir o mundo a sua volta. Então senti-o dentro de mim, aceso. Vivo. Pululante. Senti-o tomando conta do meu sangue morno, dos meus órgãos internos e principalmente dos meus pulmões. E parei de lutar contra ele. Aceitei. Deixei que (me) destruísse como se fosse um pedaço de corpo qualquer. A vida é morte e renascimento e eu precisava morrer para que o resto de mim pudesse nascer de novo. E ficamos nesta dança interna alheios às vozes que cantavam: 
acende a fogueira ia iá
acende a fogueira iô iô
cuidado para não se queimar...
Mal sabiam as vozes de que a minha alma já era fogo. E agora era a mim que viam serpentear em chamas engolindo toda a escuridão de minha noite...


terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Sobre as crenças interiores


Alguém já experimentou parar de pensar nem que fosse por alguns minutos? Nem que fosse um minuto?  Quando acha-se que finalmente conseguiu "limpar" a mente, percebe-se que estamos de volta a pensar. Acho muito interessante a ideia da meditação, mas simplesmente não consigo calar minha voz interior. Ela grita, ela canta, ela desdenha, ela conta-me histórias...tantas que já perdi a conta das vezes que o sono foi embora cansado de não ter atenção. Embora esta minha voz fale coisas importantes, me puxe as orelhas de vez em quando e me ajude a ficar quieta quando é necessário, esta voz diz-me outras que não são tão agradáveis de ouvir. E não falo daquilo que deve realmente ser ouvido, mas de crenças que fui colecionando ao longo da vida, desta e de outras. Coisas do tipo que ninguém ia gostar de mim, de que não tenho talento para nada, que não tenho capacidade para arranjar um trabalho que me proporcione independência, que deveria engravidar para prender um homem, que devia estar sempre à sombra deste em troca de carinho e proteção. 
São crenças em forma de mantras que me vem à cabeça sem serem convidados. São palavras em correntes grossas, presas a ideia de que não mudo, não cresço. São palavras que se escondem, atrás de outras menos ofensivas, mas estão sempre lá,  presentes. 
Quando comecei a fazer terapia, fui pouco a pouco me familiarizando com elas. Tinha raiva, à princípio. Quem gosta de querer-se frágil e oprimido? Tinha medo delas também. Tinha medo de que fosse verdade ou que de tanto escutá-las pudessem vir a ser...verdade. E quanto mais penso que certas crenças ainda nadam por aqui, mais sinto vontade de me conhecer, de me virar do avesso. Quem sabe um dia emendo começo, enredo e fim. Um final mais digno de mim, mais feliz.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Coisas que fazem pensar

"Como está hoje?" é a saudação que eu mesma escrevi no celular. A cada vez que o Fabian o derruba no chão, lá tenho de juntar as peças, achar a bateria, encaixar novamente e lá se acende a frase de sempre. Às vezes respondo, às vezes acho que é muito bobo estar a falar com o celular e não através dele com alguém. A verdade é que pus esta frase para me perguntar constantemente sobre mim. Afinal como estou hoje? Como estou agora? Nem sempre por mais que falemos ou que deixemos que certos assuntos repousem sobre o silêncio, deixa de existir uma necessidade de que se ouça diariamente tal pergunta. Há dias em que a necessidade é maior. Hoje é o dia.
Como estou hoje? Caro celular, tenho pensado muito sobre isto e ainda não cheguei a uma conclusão se ando bem, aborrecida, feliz, com raiva, conformada, revoltada ou uma mistura disto tudo. Tenho pensado muito sobre a vida, sobre como as coisas tem acontecido até então. Na minha conceção as coisas acontecem quando tem que acontecer, tudo tem hora certa e a vida é um misto de nossas escolhas e outras situações que estão para além disto. Há quase oito meses sofremos uma reviravolta. Tive de tomar decisões rápidas e tomei o rumo de volta para o Brasil. Meu avô sempre me disse que se alguma coisa não desse certo em Portugal, que eu poderia voltar tranquila que ele estaria aqui de braços abertos para me receber. Mas ele não estava. E na verdade este é um caminho para percorrer-se sozinho, até mesmo para que cada um escolha os motivos pelos quais uma mudança destas possa fazer sentido. 
Na minha modesta opinião a mudança é lenta. Desconfio firmemente de quem diz que foi fácil. Não é apenas um pedaço de terra que se muda sob os pés, nem de um punhado de gente ou clima. Mudança é mais do que isto. Temos de escolher que parte de nós devemos levar. E a parte que fica dói, deixa um vazio. Luta ferozmente para se encaixar ao passado. E enquanto não consegue, arranha. Sangra. E chora. E a nós falta-nos a coragem para mover-nos, para dar adeus. 
Não, a mudança para mim ainda não se completou, ela ainda acontece embaixo dos meus poros, esconde-se em pensamentos derrotistas. Ainda clamo pela mudança, que ela me leve, que ela me lave, que deixe-me leve.  Eu que ando carregando o peso das minhas expetativas nas costas, que ainda enfureço-me selvagem perante a inexistência de um recomeço. Mudamos de país, mas estranhamente permanecemos no limbo. A mudança em si não aconteceu. Não há casa, não há emprego, nem escola, nem independência financeira. E perguntas-me como estou hoje? Estou assim, a modos que não sei bem como me sinto. Talvez frustrada e com medo de que toda estrada tenha sido em vão.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Não há certo nem errado: há sentimentos.

Desde que me lembro há em mim duas pessoas: aquela que sou e aquela que tenho de ser. Durante a minha infância e adolescência este questionamento foi crescendo a medida que ia entendendo que as outras pessoas deixavam escapar um pouco de si em uma conversa ou discussão. Foi então que apercebi-me que não estava só. Mas junto desta dualidade vinha a culpa, a culpa por não conseguir ser quem eu sou, a culpa por ter de fingir o que não sinto, o medo de não ser amada por eu mesma, pois que quem era amada era a outra, aquela que eu podia mostrar.   
Fiz terapia por mais ou menos seis anos e foi a melhor coisa que me aconteceu. Abriu os meus horizontes, fez-me questionar os meus valores e pensamentos. Lembro-me de algumas vezes dizer que sofria porque não conseguia demonstrar amor ou simpatia por determinada pessoa ou situação. E lembro-me também dele me perguntar o porquê. Porque eu deveria sentir amor? Porque eu deveria sentir pena? Porque eu deveria sentir o que quer que fosse por alguém ou por mim? Não, eu não deveria. Esta é a outra. Eu não tenho de me sentir culpada por não conseguir ser o que os outros esperam de mim. A única pessoa a quem devo fidelidade sou eu. A mim devo honestidade, aceitação. Não estou querendo dizer que por isto vou sair aí agindo à louca, machucando gratuitamente as pessoas, nem dizer bem feito por isto ou aquilo que fizeram. Apenas falo na quietude do ser. Para mim não é preciso fingir, posso ser eu com todos os defeitos e posso ser eu (em pequenas medidas) com o mundo. Calar não é fingir. E por isto me calo quando não concordo com algo, quando o que penso não é o que a pessoa queria ouvir. Calar é respeitar o outro e a si mesmo. É como fazer as pazes comigo, pois para mim calar não é consentir, calar é uma forma de conviver sem me trair. 
E este blog tem sido a minha terapia desde então, muitas vezes quase que o imagino sentado a minha frente a me escutar e questionar. Ele sempre me dizia para observar os meus pensamentos, mas não me prender a eles, a deixar ir, a aceitar, a questionar. E questionando-me constantemente, dizendo coisas que não gosto de ouvir, tenho me conhecido melhor. Tenho trabalhado a culpa que há em não ser sensível  em relação a grandes tragédias, em primeiro lugar porque sou constantemente exposta a isto pelos jornais e tv, em segundo porque o sentir como, quando e em que intensidade, é relativo. Posso sentir alguma coisa por alguém em determinado momento, e depende do meu estado de espírito sentir mais ou menos, porque acho que o sofrimento nos torna um pouco egoístas. Mas quando sentir, tenho de realmente sentir. Tenho de me imaginar na situação do outro, sentir a sua dor por alguns minutos, tenho de pensar o que faria, tenho de mandar pensamentos de amor. Porque para mim isto é sentir, isto é ter empatia com outro ser humano. Não é dizer que horror e virar as costas. 

sábado, 1 de dezembro de 2012

Em resposta à Carla

Tenho a certeza de que meu grande exercício de crescimento prende-se a uma palavra: aceitação. Não sou uma pessoa de deixar ir, sou uma pessoa com raízes nos pés. E por isto sofro, carrego-me de passado, tenho medos, tenho medo de sofrer mais e só assim ainda acabo por sofrer com medo de sofrer. É bem estranho não? Se pararmos para analisar aquela voz que geralmente não escutamos, vamos perceber uma série de pensamentos contraditórios, e muitos deles resumem-se ao medo de deixar ir, de aceitar que um ciclo se fechou, que uma situação se acaba para outra recomeçar. A vida é movimento, a natureza está constantemente se modificando mesmo que não se note. Saber racionalmente não é o ponto. Sentir e viver isto é a minha meta. A comida de certa forma é uma distração para o que sinto e penso no agora. A comida me leva para algum lugar na infância em que o amor vinha através do estômago ou pelo menos assim o entendia. Mas a comida não resolve o turbilhão de coisas dentro de mim. Ela piora a longo prazo. Mas como posso fazer para mudar isto? Tenho 13 quilos de gordura acumulado entre coxas e barriga, mas engana-se quem acredita que a gordura é só física. Gordura é proteção. Proteção emocional diante de tudo o que tememos. Ao aumentar a gordura aumentamos como consequência nossa zona de contato, aumentamos a proteção térmica e a barreira emocional contra aquilo que nos ataca. Mas é como construir uma barreira para conviver com o inimigo, visto que temos de conviver conosco, nosso pior inimigo e juíz. É por isto que só dieta não adianta. Só exercício não resolve. Nada acontece se eu não mudar de posição. O peso pode ir e voltar enquanto não consigo ir além de contar calorias. Que tal começar a contar sentimentos? Enquanto estiver ligada ao passado e ao medo do futuro, tenho vontade de adoçar o presente, tenho vontade de engordurar os conflitos para que eles desçam melhor pela garganta. 
Aqui para mim não há resoluções de fim de ano. Há o agora, urgência que tenho de mudar. Mas mudança não é uma coisa que se faz. É uma coisa que se permite. Quem quer mudar a todo custo cria uma resistência a própria mudança, cria e critica-se e machuca-se pelo caminho. Mas então o que posso fazer para mudar? Em primeiro lugar preciso voltar a habitar-me. Preciso sentir estas coxas, esta barriga que tenho vontade de odiar. Mas ao invés disto vou mudar meu olhar(exercício mais poderoso que glúetos com roldana). Tenho de me olhar com amor. Vou me olhar com amor. Com aceitação. Ninguém muda se for abaixo de críticas e raivas. O segundo passo já estou fazendo, tenho corrido 40 min há três dias consecutivos. O quarto é continuar a me escutar. A observar os meus pensamentos e a estar presente na mesa mesmo que ainda coma desenfreadamente. Eu observo e estou presente. Um passo de cada vez... e como estou numa de praia, esta é uma música que tenho escutado enquanto corro na areia.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Eu não me basto

Eu sei que já vi por aí naquelas pílulas de sabedoria do facebook, algumas frases do gênero "a felicidade não depende de ninguém além de nós mesmos", "não devemos transferir para os outros as nossas expectativas", entre outras que muda-se as palavras, mas a essência é sempre a mesma. Pois concordo em tese com isto, ainda mais agora que há cada vez mais gente armada em psicóloga da internet e que todos tem a chave da felicidade em suas mãos, a mim nunca me pareceu tão difícil ser feliz.  Isto porque infelizmente eu não me basto. Preciso de alguém para me ajudar a ser feliz, para dividir minhas angústias que ultimamente tem sido muitas, para me dar um abraço e um cafuné. Eu preciso do meu marido para me sentir bem. Sem ele fico meio à deriva, perdida com o Fabian, porque ele tem uma paciência de Jó e eu, bem eu tento muito me controlar e às vezes consigo, às vezes não. Hoje por exemplo, tive vontade de largar ele no mercado. Virar o carrinho e sair assoviando a olhar para outro lado, porque esta peste só fez de tudo desde a hora que levantou. Só birras e mais birras.
Sei bem lá no fundo que deveria ser mais autónoma emocionalmente, que deveria ser mais forte, não parecer, mas ser mais forte. Mas não sou. Por vezes venço meus medos, outras deixo-me ser engolida por eles, por vezes sorrio e aguento o peso do mundo e por vezes eu quebro, eu choro, eu destruo tudo. Tive uma vez um professor que dizia que nós temos de ter menos expectativas conosco, temos de aceitar que não conseguimos chegar lá, que estamos a todo momento fazendo o melhor que podemos. E será que não há uma supervalorização da felicidade? De que temos de ser felizes todos os dias, de que temos de ser felizes com o que temos, de que temos de nos bastar? Mas e quem é que se basta?
Acredito que a felicidade é confundida com euforia. Ninguém pode ter um orgasmo que dure mais que meia hora (dizem que os porcos...que inveja dos porcos...), niguém fica feliz com uma notícia depois de uma hora. Nem se ganhar na loteria. Quando fiquei grávida por mais ou menos quinze minutos fui a pessoa mais feliz do mundo (acho eu), senti uma sensação de explosão, de preenchimento e de repente eu não cabia no meu corpo sentada, eu queria sorrir, sorrir e gritar. Mas passou. Com o tempo passou, diminuiu e voltei a mim, acostumei-me com a ideia. E de cada vez que lembrava nunca mais foi com a mesma sensação como da primeira vez. Felicidade como usualmente a entendemos assemelha-se muito ao efeito de uma droga. E dizem as pesquisas que para o cérebro não há mesmo distinção. Agora felicidade como eu entendo hoje tem mais a ver com paz. E com momentos. Ninguém é feliz um dia inteiro. Uma semana inteira. Mas alguém pode ser feliz por quinze minutos. Alguém pode ser feliz em um jantar, jogando bola, fazendo amor. Alguém pode ser feliz escrevendo, vendo o filho dormir quietinho, sentindo o cheiro da casa recém limpa. Alguém pode ser feliz nos minutos que acaricia o cachorro. Ou quando recebe um telefonema. Um abraço. Alguém pode ser feliz quando não está infeliz. Isto porque a felicidade não é cocaína, a felicidade é paz, é ausência de sofrimento. Então posso dizer que em muitos momentos sou uma mulher feliz. Completa. E mesmo não me bastando, sou feliz. Tenho alguém que me ama e respeita e que por minha vez também amo e respeito. Isto é felicidade. E isto basta.

domingo, 18 de novembro de 2012

Ninguém é dono da verdade

Quando escuto alguém dizer, "daí eu disse umas verdades para ela", ou qualquer variante disto, a primeira coisa que me vem à cabeça é: que verdade? Verdade para quem? O que conhecemos por verdade não passa do nosso ponto de vista sobre alguma coisa ou alguém. E o outro também tem lá o seu ponto de vista, a sua visão de mundo, só aí juntando dois mais dois, chega-se a conclusão de que a verdade não existe. É simples e óbvio não? Então porque as pessoas insistem em acreditar-se donas da verdade? Em acreditar que estão sempre certas e o resto errado. Ah é importante, quando dizemos isto a elas podemos ver as emoções irem a outro polo. Sai o rosto de quem é o proprietário orgulhoso da razão e entra o sentimental beicinho e a frase: tá bem, é sempre assim, eu sou a errada, vocês estão sempre certos. 
E porque isto hoje? Porque tcham tcham tcham... tambores...não sou o Dalai Lama! Suspeitaram desde o princípio? É porque eu acho que tem gente que pensa que sou. E não, não é porque uso roupas compridas (ahahah nunca usei). Hoje me saltou a tampa, fiquei com a macaca, mas nem sequer posso por a culpa na tpm porque já estou no fim disto. Conhecem a minha querida sogra, já apresentei ela por aqui? É uma velha carola, daquelas que acorda as 5 da manhã para rezar o terço e canta o dia inteiro músicas de igreja. Acho que não tinha dito ainda que ela é surda, embora aprecie a surdez para dizer bem alto coisas do tipo para implicar e quem pegar aquilo para si começa já uma discussão em que ela tem de sempre sair vitoriosa, ao menos na sua cabeça, porque as tantas desistimos e a velha continua a falar sozinha. 
Já repararam que as discussões sempre começam pelo motivo mais bobo? E que dentro delas vai crescendo uma onda gigante de indignação e mágoa, onda esta que se escondia durante todo o período que tentamos bravamente manter a calma? Comigo é assim. Estou a mais ou menos mês e meio ininterruptos a ouvir bocas. Todo dia é uma novidade, pergunto-me se vai ser de manhã, à tarde ou à noite. Tenho tentado mesmo, mas muito mesmo manter a calma, ficar em silêncio, contar até mil, sair de perto, desabafar para o marido, enfim...são muitas táticas que uso. Mas não adianta. O problema é que o problema em si não muda. Eu acho que é o meu carma. Não quero ser a coitada que só sofre,eu sei que tenho meus defeitos e tenho um gênio difícil que só o meu amor para me aguentar. Porém quando estou na casa dos outros tento sempre me segurar, tento respeitar a forma da dona da casa de ser e levar a sua vida, mesmo que a forma de levar a sua vida seja ficar resmungando o dia todo coisas sobre mim e o meu marido e o pedreiro e sei lá mais quem. É que machuca. É que irrita. É que estamos numa puta duma situação de merda e paciência é o que menos sobra. É que sabemos que não é nosso canto e que não mandamos nada.   
Hoje a discussão foi por que ela queria que lavasse e guardasse a louça. Até aí tudo bem, concordo, porém a louça já estava lavada e não tinha sido guardada porque o marido e ela estavam ocupando a cozinha e a cozinha é onde era a área de serviço, ou seja, tem só um metro quadrado mais ou menos (porque ela o quis). Eu disse então o porque de não ter guardado a louça e ela então começou a ironizar que quando eu viesse da outra vez tinhade fazer uma cozinha maior só para mim. E que eu ainda estava de camisola e que não suportava me ver assim em pleno domingo (?!) deste jeito, e que eu não sou uma boa mãe, uma boa dona de casa, que onde já se viu. Onde já se viu o que? A casa não é minha, ela quer que eu levante com paninho na mão e vá dormir de vassoura? Não basta o que fiz no aniversário dela? Que nenhuma das noras e netas fez na vida? Mas ela disse com todas as letras que não bastava, que preciso fazer mais. Mais…mais… as pessoas sempre querem que a gente faça mais, que a gente mude mais. E nunca é o bastante. O nosso mais é pouco para elas. Porque elas não conseguem ver a luta interior que é para ser mais. E melhor.
Hoje me saltou a tampa. Não sou o Dalai Lama. Disse algumas coisas que estavam presas, mas queria dizer muito mais. Às vezes penso o que a vida quer me mostrar pondo pessoas assim no meu caminho? Eu tenho mesmo feito uma análise dos meus pensamentos, das minhas ações, mas não consigo mudar para o jeito que elas querem, e também nem sei ao certo o que elas querem de fato.
Quer saber, hoje vou aproveitar que estou bem doida. Vão mais é se fuder as duas sogras da nossa vida. Vão mais é a merda!!! 

terça-feira, 25 de setembro de 2012

No divã

Olho para o espelho e constato: minha pança aumentou. Minha cara voltou a parecer-se com uma bolacha Maria. Oh céus, que raiva! Mas sei que isto tudo se deve ao fato de eu ser tão ansiosa e tão pessimista ao mesmo tempo que acho quase imprescindível adoçar um pouco a minha vida. E como e como. Às vezes fico pensando...quando temos certeza de que estamos fazendo a coisa certa, de que estamos sendo pacientes, dando um tempo para a vida? É uma linha tênue que separa a persistência da teimosia. E eu não sei até que ponto estamos sendo mulas a insistir e se iludir com a cenoura que nunca alcançaremos. Passou segunda e ainda não obtivemos resposta de São Paulo. Provavelmente a resposta é o silêncio. Exaspera-me não conseguir escutar meu coração ou fingir que não consigo porque dói demais saber que daqui uns dias o marido se vai. Tenho medo. Tenho medo de que não consiga um emprego fixo, que ganhe para trazer nós dois até ele. Tenho medo que isto leve a uma separação. E to muito chateada com isto tudo. Tenho raiva e não consigo deixar de sentir raiva desta vida. 
Um dia minha vó disse uma coisa que concordo plenamente... "não adianta, todo mundo pode dizer que entende, ou mesmo tentar entender, mas só aquele que tá ali com o sapato apertado é que sabe como dói."  Se tem uma coisa de bom nisto, é que estou aprendendo que não sei nada sobre empatia. E que por outro lado os outros também não sabem nada. E que nestas horas quando não se tem nada melhor para se dizer, o melhor é ficar quieto.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Umas verdades

Cada vez que eu vejo alguém reclamar da sua vida, tenho vontade de dar um soco. Pronto, falei. E comigo não tem esta de dizer que não desejo isto nem ao pior inimigo porque eu desejo, mas é em dobro. Eu já perdi as contas de quanto falei sobre esta situação, mas é que tem dias que é barra de aguentar. Vamos combinar que o que faz girar o mundo é dinheiro, não tem casinha e uma cabana, o que põe comida na mesa é o dinheiro. O que paga um belo banho é o dinheiro, o que paga esta roupa bonita é o dinheiro e o que cala a boca de um filho muitas vezes é o produto do dinheiro. E só nos damos conta disto mais seriamente quando ele falta, mas não é assim faltar um pouquinho como vejo gente reclamando que ganha pouco ou que não ganha subsídio disto e daquilo, a merda é quando ele não vem sequer. Meu marido tá a mais de três meses desempregado e isto dói no bolso e na auto estima. Sem dinheiro é como se fossemos seres à parte da vida, como mendigos só que na casa de familiares. É como voltar a adolescência, ou antes, à infância. Não somos mais donos do nosso nariz e é impossível negar que seja diferente porque quem tem o dinheiro de uma forma ou de outra, tem o poder. 
Hoje rolou um estresse aqui, aliás só não rola todo o dia porque temos que respirar fundo e  fazer cara de paisagem. Se o trabalho do Fernando não engrenar até o fim do mês possivelmente ele vai para a França... e aí pronto vida, seja o que tu quiser porque por mais que eu peça tu é quem tem a faca e o queijo na mão. E eu tenho medo de enlouquecer aqui sozinha, tenho medo de ficar sei lá quanto tempo longe deste homem que é o meu pilar, tenho medo de que depois seja tarde demais para tentar um emprego aqui pela idade avançada dele... mas o que eu posso fazer é tentar acalmá-lo quando tenho eu vontade de chorar como uma madalena arrependida.

domingo, 10 de junho de 2012

Acumuladores de mágoa

Taí duas tarefas que ainda tenho que aprender: confiar na vida e não esperar muito das pessoas. Para mim as duas estão em pé de igualdade porque não consigo ser um barco à deriva, tenho que sempre estar no controle da situação, mas sei que isto é impossível e me causa stress, ansiedade, etc. Lembro-me nas sessões de terapia, o meu psicólogo dizia muito isto: confia na vida, a vida não é má. Ela só retribui o que esperamos dela. Com isto ele queria dizer para fazer a minha parte, mas também deixar livre para que o tempo/destino/Deus fizesse a sua. E por não conseguir lidar muito bem com isto, fui criando estratégias para sentir-me melhor: limpava todos os dias a casa, deixava os controles da tv, dvd todos alinhados e tentava que a rotina fosse aquilo que esperava fazendo mais ou menos as mesmas coisas, enfim um leve grau de TOC. lol
Sempre pensei que uma casa, assim como o ambiente que a pessoa vive, é o reflexo da sua vida emocional. Agora minha casa anda suja, não tenho vontade de limpar, simplesmente olho para tudo e só quero sumir. Eu tenho tendência para extremos.
Estes dias vi um programa americano sobre aquelas pessoas que acumulam tudo o que podem e chegam a fazer verdadeiras muralhas de lixo para as protegerem da vida. Elas sofrem muito porque em dado momento deixam de ter uma vida funcional, a família abandonam-nas e elas não conseguem desfazer-se de nada. E por um lado sabem que está mal, mas por outro acham que não está assim tãoo mal e não aceitam que a mudança tem de ser muito grande para a vida voltar "ao normal".
Também penso que de certa forma nosso próprio corpo  não deixa de ser a nossa casa, talvez por isto, sinta-me muito incomodada quando vejo aquelas pessoas muito muito gordas, quase sem forma. E pense meio horrorizada, como é que foram deixando-se ficar deste jeito... assim como as acumuladoras americanas (que também não deixam de ser obesas). Vejo estes exemplos e dá-me medo de um dia ficar assim, de me anestesiar a ponto de caminhar para o precício sem notar e acordar alguns segundos antes da queda. Porque tenho a sensação que deve ser isto que acontece. Ninguém pode querer deliberadamente o sofrimento, ninguém quer ser uma aberração, andar como um pêndulo com muitos quilos de mágoa sob a pele. E ao pensar assim percebo que tenho eu também alguns, uns reais outros invisíveis ainda. As pessoas acham que para perdê-los devem fechar a boca. Eu já acho que devem é abrir o coração e confiar.


domingo, 15 de abril de 2012

Eu no divã: "Filhos para que tê-los, mas como saber sem tê-los?"

Conselho que muito provavelmente nunca me ouvirão dizer (principalmente para quem está louco para ser pai). E é por isto que não tenho coragem de aparecer muito nos fóruns de infertilidade nos quais vejo pessoas tão desesperadas quanto eu era, tão amarguradas com a vida e com os outros, tais como eu era há três anos atrás.
Se alguém pensa em ter um filho porque ele vai completar a sua vida, não tenha. Um filho vai preencher as suas horas de solidão com choros, com noites em claro. Não, ele não lhe fará companhia e, pelos menos nos primeiros anos, ele só vai querer saber das necessidades dele. Se alguém pensa que um filho pode lhe fazer feliz...bem eu pensei que fizesse. Mas não. Um filho pode trazer alguma alegria, mas dificilmente alguém que nunca está satisfeito ficará com uma criança o tempo todo a exigir atenção. Ainda mais se este alguém gosta de estar sossegado, de ver internet, fazer sexo com seu companheiro a hora que tiver vontade. Se alguém quer ter um filho porque só lhe vem a cabeça bebês de novela (que choram só na hora que a cena pede), ou porque os amigos todos tem, ou porque o negócio é casar, assentar e...ter filhos. Não tenha. Um filho não se devolve, não se empresta, um filho vai depender de você por pelo menos duas décadas. Pensou que é muito tempo? Talvez você já esteja cansado, sentido-se sugado, velho, e já não ache que viajar, ir no cinema, botar aquela roupa especial faça de novo parte da sua vida.
As pessoas romanceiam muito esta história de ter filhos. Há mas dá trabalho e é bom. Será? Eu não acho bom na maior parte das vezes que a vida não dependa de mim. Que as decisões dependam de um ser de menos de um metro de altura. Se vamos ou não sair, se ficamos mais tarde acordados, se vamos "namorar", se ele vai chorar e atrapalhar tudo. 
Eu nem sei, acho que se não consigo sentir prazer nisto que todo mundo sente (ou pelo menos dizem que sente), não sei mesmo que tipo de monstro eu sou. Ou de pessoa. Que vê muitas vezes o filho como um obstáculo para a sua "felicidade". É uma ironia porque uns anos antes, era a fonte, o Santo Graal que persegui tão ferrenhamente. 
Hoje minha vida é em função do Fabian, buscar na creche, fazer mamadeira, dar comida, trocar fralda. Eu até sei que isto vai mudar, daqui uns anos ele está mais independente, vai poder ficar em casa sozinho, vai ter  festas de aniversário aos fins de semana. Mas não quero, tenho medo, de ficar como uns amigos, que já estão tão habituados a terem os dois filhos a tiracolo que quando tem estes momentos, olham-se sem saber o que fazer. 
Muitas vezes eu penso, se pudesse voltar atrás. Se pudesse ser tudo um sonho e eu acordasse com aquele corpinho que tinha, e visse que a maternidade não era bem a minha área, ia desistir dessa ideia de engravidar, de fazer tratamentos e tratamentos. Porque eu na maior parte do tempo, queria voltar e seguir por outro caminho. Mas isto não é possível, e a parte mais difícil neste momento da minha vida é aceitar. Aceitar e tentar viver da melhor forma as escolhas que fiz.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Eu no divã

Durante uns bons anos da minha vida tinha um sonho recorrente. Estava dirigindo um carro fugindo de alguém e nunca tinha carteira de motorista, daí eu ter muito medo de ser vista. Às vezes o medo nem era assim tão grande, mas a sensação de frio na barriga não me largava. Há algumas semanas inscrevi-me numa auto escola e na mesma noite sonhei que estava aprendendo a dirigir. Não fosse por eu já ter feito 2 vezes a prova de condução e não ter passado, não veria qualquer drama nestes sonhos. Mas a verdade é que eles estavam entalados no meu subconsciente como se fosse a prova do meu fracasso. Sempre tive medo de dirigir. Lembro-me das primeiras aulas no inverno em que deixava o banco completamente encharcado de suor. E tinha um professor que me deixava ainda mais nervosa, gritava, se passava com os meus erros e eu cada vez mais aterrorizada no volante.
Depois de rodar na primeira prova, lá fui  eu tentar de novo. Fiz novas aulas em outra escola, desta vez com um professor mais calmo e que me rendeu uma quase, mas quase aprovação no exame. Ainda hoje acho que foi pura sacanagem ter rodado já nos últimos momentos e sem ter cometido qualquer erro. Foi porque eu avancei num cruzamento em que o outro carro vinha mesmo muito longe e devagar (visto que era um carro de auto escola também), havia tempo de sobra para passar e o examinador pisou no freio de mão o que me desclassificou na hora. Fiquei com tanta raiva que saí dali chorando. Tinha chegado tão, mas tão perto e...puf aquele homem me tirou a carteira das mãos. 
Agora tenho a oportunidade de recomeçar, no entanto ainda não fui em nenhuma aula por estar mais preocupada agora com as provas. Mas na semana que vem espero começar as aulas de código e ahhh vou voltar ao meu terror sim senhora. Preciso enfrentar este medo, pois agora com o Fabian estou comendo o pão que o diabo amassou, tendo que ir de trem, subir escadas com ele e com o carrinho, demorando 1 hora quando em 15 minutos ia e voltava. Para não falar no frio ou quando chove...
Dirigir para mim não é apenas dirigir um carro. Acho que é muito mais. Está ligado com um aspeto mais profundo da minha vida, está ligado com a minha crença de que não consigo ser independente, de que não consigo assumir minha vida, dirigí-la, ter o meu próprio dinheiro, uma carreira...
Dirigir para mim é um ponto crucial nesta etapa na qual me propus de me conhecer, aceitar e mudar o que me for possível. Espero que quando conseguir ultrapassar estes medos, eu seja mais capaz de ajudar outras pessoas que venham a ser meus pacientes ou não.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Eu no divã (3)


Quando deitei-me naquela cadeira horrível, aquela que existe nos ginecologistas, que nos mantém desconfortavelmente "naquela" posição... pois, esta mesmo. Quando deitei-me nela esta semana, e olhei para a tela do ecógrafo no alto da sala branca, tive por instantes uma sensação de melancolia, era como se fosse ver o meu bebê. Não o Fabian, talvez, mas o bebê que havia imaginado. Era como se pudesse ver ele a se mexer e piscar na tela escura. Foi tão pouco tempo, mas consegui captar estes pensamentos. É claro que censurei-me. Aliás é uma coisa muito estranha. Explique-me porque eu que tenho apresentado aqui todas as minhas limitações como mãe e ser humano que sou, tenho uma certa inveja ou melancolia quando vejo que alguém está grávida de novo. É quase como se uma leoa dentro de mim se apoderasse dos meus sentimentos, é uma sensação estranha, de aperto no coração. É uma censura porque não sei como alguém quer repetir esta experiência, ao mesmo tempo, consternação ao ver que tenha se passado tão poucos meses que dera à luz.
Não, eu não sei. Mesmo. No fundo parece aquela impotência de que mesmo que eu quisesse (o que parece não ser a vontade dominante), não posso. E porque? Meu marido é estéril há mais de 25 anos, quando fez a vasectomia. Isto implicaria passar por tratamentos e não quero mais isto. Veja bem, amanhã começo as injeções. Não é da bomba de hormônios de que falo e sim da minha fertilidade estar sujeita a dias e horas marcados e pior: na mão dos outros. Talvez eu ainda sonhasse com uma surpresa, um marido que fosse mais novo que, quando o relógio que toca lá pelos 38 anos despertar, bip bip bip, ele não tivesse perto dos 70...
Mas isto é muito longe, pode nem sequer tocar, tu pensas. É verdade, mas é parte do que se passa aqui e aqui. (Aponto para o coração e para a cabeça).
Bom, não se pode ter tudo na vida, não é mesmo? Isto é mais uma coisa que devo aceitar com o tempo. Agora por mais que às vezes a vontade me falte, tenho de cumprir os meus objetivos, olhar para a frente. E observar. Por mais difícil que seja, acredito que ao prestarmos atenção ao que sentimos, com mais serenidade aceitamos o mundo e tiramos este fardo dos ombros, o fardo de parecermos socialmente adequados. Perfeitos.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Eu no divã (2)


Pois é, estou aqui de novo. Como toda boa capricorniana vou até o fim desta montanha, não importa quantas pedras ou quanta chuva caia no caminho.
No início era como a maioria das pessoas. Gostava da mentira piedosa, ainda mais se for para eu mesma. Fingia que estava tudo bem e afastava tudo que não gostava com um safanão no ar. Mas o pensamento apenas se recolhia e permanecia à espreita. É certo que não mudamos o que não nos incomoda e o que não enxergamos. É por isto que a maioria das pessoas prefere ignorar o que sente, uma minoria admite para si e uma minoria menor ainda admite para os outros. E isto agora porque? Porque agora não há volta a dar. Lembra-se do conhece-te a ti mesmo? Pois é. Agora tem sido o meu objetivo. Quero conhecer, aceitar, mudar. Baby's steps. Assim.
Agora vejo que a insatisfação sempre esteve presente na minha vida. Recordo-me de estar sempre em busca de algo, e naquela ansiedade de conseguir ter uma roupa, um brinquedo, um namorado, um peso na balança, enfim. E depois, que alcaçava a suprema felicidade, lá caía novamente no tédio até ter outra coisa para qual correr atrás. Foi sempre assim. Tinha a sensação de que se me esforçasse, talvez a felicidade viesse. E confesso que foi assim com o sonho de ser mãe. Era a tal felicidade que ouvia-se falar. Dá trabalho, mas compensa. Fiquei três anos me injuriando por não ser mãe, sentindo inveja de quem era, resmungando como uma velha para o meu marido. Até que...finalmente fui mãe. E lá estava, agora que venha a felicidade. Mas ela não vinha. Que venha o amor, estou à espera, venha! E não veio.
A maternidade tem sido uma grande lição para mim. Foi um abanão. Pela primeira vez ficou à nu que este caminho não me levaria a lugar nenhum. Só por ela pude ver com olhos de "ver" que não pode ser assim a vida. Vou viver insatisfeita até quando? Vou buscar o que agora? Uma viagem pro Caribe? Um apartamento? Até quando?
Até quando vou seguindo a maré e fingir que isto me fará feliz?
Outro fato é que não se escolhe ser assim. Simplesmente sou assim. Alguém escolhe ser doente? Ser infértil? Ser depressivo? Sim, filosoficamente somos o espelho das nossas escolhas e as nossas escolhas muitas vezes são distorcidas porque acreditamos que elas eram o melhor que podíamos fazer na altura. E se calhar era. No entanto é muito mais fácil continuar do que mudar o curso. Aqui em Portugal tenho aprendido muitas coisas e uma delas é que as pessoas querem muito ter ter ter. Um carrão, apartamentaços, querem causar inveja, lá no Brasil também, só que a maioria não tem grana para isto. Mas aqui se consegue, a custa de muito empréstimo. Mas eu só vejo pessoas infelizes e insatisfeitas como eu. Com uma baixa estima abismal. Hipnotizados com a Popota do Continente, pois tem que comprar coisas para os filhos, carros de bateria já vai bem para uma criança que mal sabe o que quer. E nós sabemos o que queremos?
Bem, acho que já fui longe. Desta vez escolho ter mais 5 minutos de paciência com o meu filho.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Eu no divã


Ultimamente tenho pensado muito nas minhas atitudes como mãe. Já falei tantas vezes aqui da minha dificuldade de vinculação com o Fabian que até perdi a conta. A verdade é que eu não sei se toda mulher tem mesmo este instinto ou se depois de instinto ele torna-se algo muito maior: o tal amor incondicional. Eu juro que isto fica me angustiando a cada vez que leio sobre isto. E confesso que também acreditava que ia acontecer comigo, instantaneamente quando me tornasse mãe. A verdade é que estou à espera do tal amor incondicional. Porque muitas vezes me passa pela cabeça que me arrependo de ter tido esta escolha, que odeio ser mãe e não consigo me adaptar a esta mudança. Muitas vezes olho com irritação para o meu filho e odeio a ideia de alguém depender de mim. E porque eu? Porque não aguento o choro, o puxar na roupa, aquele lamento por horas... eu não sei, algo dentro de mim vem à tona, borbulhando, desato a gritar, a dizer coisas ofensivas e muitas vezes disse a ele que não queria que ele tivesse nascido. Logo eu que tanto infernizei o marido para ter um bebê. Não me reconheço. Na hora sai tudo aos solavancos, depois dá um nó, a garganta murxa e dá vontade de recolher o que disse, mas é tarde. E isto acontece muitas vezes.
Às vezes penso que esta história de mãe é como qualquer outra experiência: ou se gosta ou não se gosta. E eu não gosto a maior parte das vezes. Mas nunca na vida posso expressar o que sinto. Porque é feio. A sociedade nos obriga a encenar um papel de mãe. Algumas passam a sentir mesmo este tal amor e as que não sentem devem fingir até o fim. É assim que sinto. Pelo menos acho que não sou a única em 6 bilhões de humanos neste mundo. Acho...
Porque para o homem é mais fácil? Porque se exige menos? Não é incomum ouvir alguém dizer que não gostou de ser pai. Meu próprio padrinho dizia. O Alexandre Frota também. O que quer que isto signifique. Mas já leu alguma mulher dizendo aos 4 cantos o que sente sobre a maternidade? Não estou falando daquelas pessoas pertubadas que matam, torturam e sei mais o que. Estou falando de pessoas ditas "normais", como eu lol.
Sinceramente não sei se me faltou amor. Sei é que é difícil dar. Quando se é filho se está sempre na posição de receber, mimo, carinho, cobrança, amor talvez. Minha mãe diz que era amorosa, mas eu não sinto isto. Nunca foi muito de abraços. Se ela diz que fez isto e aquilo para mim, deve ter sido antes dos dois anos, porque depois disto eu lembro bem e a história não foi bem esta.

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