sexta-feira, 16 de setembro de 2011

A maternidade moderna

E já vamos no segundo dia de escolinha! Ontem levei o Fabian lá apenas por uma hora. Quando voltei, escutei um grito dele, beeem fininho. E pensei: nossa, já está chorando. Mas quando abri a porta, ele estava era brincando num dos puffs que eles tem. Mas depois que me viu, abriu um sorriso e as suas ãos não baixaram enquanto não o peguei ao colo. No segundo dia, ficou para almoçar. Comeu tudo! Mas quando cheguei estava dormindo no colo de uma das funcionárias. E meio que soluçava no sonho. Deve ter chorado. Ficou assim todo o percurso no colo até o metrô, depois acordou.
Eu imagino como deve ser irritante estar com tantos bebês por perto. Quando estive lá, tinha 3 crianças a chorar e depois mais outra começou. Até eu tinha vontade de chorar! Eu sinceramente não sei como as funcionárias aguentam.
O Fabian tem ficado muito gritão nestes últimos dias. Tudo são gritos, porque sim e porque não. Quando falo o nome dele com uma determinada entonação, mais gritos porque sabe que o que está fazendo não pode. E agora anda com alergias por todo o corpo: embaixo dos braços, no meio das pernas, no pescoço, naa dobra da barriga e das pernas. Anda se coçando todo, mas é mais à noite. Deve ser da adaptação, deve andar mais irritado e por isto também irrita mais.
Eu acho engraçado quando vejo alguém comentar que ser mãe é muito bom. Muito maravilhoso, a melhor coisa que lhe aconteceu. E o primeiro pensamento é: jura? Quando tempo você passa com o seu filho (acordado)? Digamos, 3 horas e meia? Sim, porque ele já dorme a noite toda (#inveja?). Eu só acredito mesmo que seja muito bom ser mãe, vindo de quem passe 24 horas por dia com o seu filho. E não esteja de licença. Porque convenhamos, hoje em dia é fácil demais, o bebê faz 5 meses e os pais o colocam numa ama ou na creche. Claro, as mães choram e sofrem muito. Acredito. Mas passa, e vão trabalhar, vão almoçar sossegadas com as suas amigas. Comem comida quente no restaurante, veem gente. Se arrumam, e às vezes dá tempo para ginástica na hora do almoço e um cabeleireiro à tardinha. Enfim, conseguem ter alguma vida própria, embora o coração esteja ao lado do filho, o corpo não está. E isto faz muita diferença, acreditem.
Antigamente, quando a mulher não trabalhava, a maternidade era mesmo a tempo inteiro. Era entre roupas para lavar, comida para fazer, casa para limpar e três crianças com pouca diferença de idade que a minha sogra criou meu marido e seus irmãos. Era sem dramas, sem estímulos estafantes, brinquedos luminosos e/ou musicais. Era com amor sim, mas com praticidade que se vivia este papel. Hoje, a mulher precisa trabalhar, senão o salário do marido não vence as despesas. Acredito. Mesmo. É uma necessidade e não ponho isto em causa. Agora, não venham me dizer que ser mãe é o máximooo porque ser "mãe" para mim, é como antigamente, é ser mãe 24 horas por dia e não 3 horas e meia. É muitas e muitas vezes ter de te colocar em segundo plano, comer com alguém pedindo colo o tempo inteiro, é se irritar com o choro, é reconfortar depois que disse alguma palavra boba que não volta atrás. É querer ter tempo e não poder, tomar banho descansada e ter sempre alguém a por brinquedos e shampoos na banheira, desodorante no vaso. É ter de passar o aspirador com alguém cavalgando-o e apertando o botão de recolher o fio o tempo inteiro. É limpar o chão e ter de escutar o choro intermitente porque alguém está preso no chiqueiro e continuar sem perder a paciência com a esfregona. Ser "mãe" 24 horas é muito intenso e não é para qualquer um. É uma luta constante pela sanidade mental. Ser mãe 3 horas e meia deve ser mesmo muito bommm. Porque o tempo que se passa com o filho é escasso e não nos irritamos com tanta facilidade. Pudera, temos a cabeça mais arejada e estamos com muitas saudades. Garanto que as mães modernas queriam muito estar no meu lugar. E não devem estar entendendo o que descrevo. Isto de ser mãe às antigas, pode lhes parecer o paraíso, um sonho lindo estar com o filho, acompanhá-lo em tudo. E até é divertido, mas não o tempo inteiro, não 24 horas por dia. Sem férias, sem baixa.
Porém, com o Fabian na creche e a volta à faculdade, eu agora vou ser uma mãe de 3horas e meia e muito provavelmente, achar a maternidade tudo de bommm!

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Expectante

Das coisas que mais me irritam na vida, é quando coloco expectativas sobre alguém ou alguma coisa e não dá nada certo. E me pergunto: é possível viver sem expectativas? Imagine acordar de manhã a sonhar com um lindo dia de sol e abrir a janela e ver tudo cinza. Ok, você pensa, pelo menos não chove. Aí você que já faz uma dieta há quase 15 dias, cisma que a calça tal tem que entrar nas suas pernas hoje. Mas ela não entra ou entra e não fecha, ou fecha e deixa uma borda de pizza para fora. Redondinha. Tudo bem, respira, calma. Vou por uma legging!
Aí você sai de casa, lembra do horário do trem e apressa o passo. Começa a chover. Você esqueceu o guarda-chuva. Entra no trem e subitamente a chuva suaviza. Senta-se na contra-marcha, à espera de ir sozinha até a estação final. Mas o trem enche e logo alguém se abanca. Se for gordo, a empurra com a bunda, se for magro, abre as pernas para ler o jornal. Que mania de abrir as pernas! Uhh!
Aí você sai. Entra no metrô. Pi pi pi. A porta fechando e alguém põe uma pasta para entrar. Depois vem mais 4 pessoas atrás. Pi pi pi. Você revira os olhos. Está lá como um atum na lata, em pé. Alguém tosse na sua direção. Puta que pariu, vou pegar uma gripe, você pensa. Está na hora de descer. Há sempre alguém na frente da porta que não vai descer naquela estação, mas dali a 3, que permanece atrapalhando e não dá licença quando a porta abre. Tudo bem, porque você ainda vai ter de passar pelo paredão de gente amontoado na plataforma. Eles simplesmente são como bois, não sabem que não podem entrar se você não sair.
E finalmente consegue empurrar algumas cabeças de gado e respirar o ar puro novamente. Só que voltou a chover forte. E você que estava secando os pés até o joelho, vai se molhar de novo.
Aí você tenta se proteger com a bolsa. Ao menos alguns fios de cabelo permanecerão secos. Mas você não pode evitar de ficar com cara de louca que saiu do hospício quando adentra o seu local de trabalho ou de estudo, enfim.
Ou então, imagine: uma festa de final de ano. A família reunida na sua casa. Ah e você detesta fazer qualquer coisa na sua casa. Você passa o aspirador, o pano no chão. Põe a melhor louça, a melhor toalha. Leva o cão 2 vezes na rua antes dos convidados chegarem à espera de que não dê nenhum "acidente". Dá banho no filho, arruma-lhe o cabelo. Escolhe a roupa do marido, para se certificar que não use aquele jeans desbotado, de bolsos rotos. Vê o forno, espera que esteja bom de sal, que não resseque, que não queime. A campainha toca. O cão ladra vigorosamente. Cala a boca, pshhiuuu de nada adiantam. O filho quer puxar a toalha. Tem que abrir a porta e segurá-lo pelo colarinho ao mesmo tempo. Chegam os pais. Chegam os irmãos. Ah tem aquela cunhada que sempre se atrasa e faz com que esperem uma hora e vinte para servirem o peru. Nisto o arroz queima. Não tem importância, há sempre quem goste da rapinha. Mas o peru seca. A sua mãe diz que se tivesse seguido beeem a receita dela, nada disto tinha acontecido. E você ouve, enquanto observa o chichi do cachorro no chão. Mal dá tempo de buscar papel e o sobrinho já pisou e levou-o por toda a sala. Depois, o filho mexe nas bolas da árvore e quebra uma. Lá vai você limpar o chão e pedir ao marido uma assistência com a pazinha para os cacos. E você senta finalmente. Todos sentam. Servem-se. Bebem. Principalmente os homens. A conversa fica chata e ninguém elogia a comida. E se elogiassem você acharia que era por pena. Faltou sal na batata. O peru está frio. As crianças servem um prato cheio e deixam tudo à espera da sobremesa. Comem e bebem mais. Você sai para buscar o bolo, o sorvete. Comem mais. E depois vão indo embora, deixando a casa cheia de marcas de sapato no chão, guardanapos por tudo, almofadas caídas, garrafas e copos manchando a toalha de rubro. E você achou que ia ser uma noite linda. Ninguém reparou no seu vestido, até porque você estava de avental quando chegaram e esquecera de tirar durante o jantar. E você achou que ia ser tudo perfeito.
Agora me pergunto, como seria viver sem expectativas? Apenas esperar e aceitar o que viesse, de bom ou de ruim? Sofreria menos talvez. Mas acho tão complicado por em prática... Quando temos expectativa, temos como que um enredo na nossa cabeça. Aquela pessoa é assim, ou ela vai agir assado. E quando não acertamos, o que é quase sempre, vem a frustração. E talvez a raiva. É como uma criança, achando que vai ganhar tal brinquedo no aniversário. Lembro de ter convidado um casal para ser padrinho do Fabian. Até falei disto na época. Pensei que eles iam fazer parte da vida do meu filho como se fossem tios, que quisessem saber dele, perguntassem por ele de vez em quando, solicitassem sua presença, acompanhassem suas conquistas. Mas não, não estão nem aí nem aqui. Convivem quando os convidamos ou eles nos convidam para algum jantar e é só. Fiquei triste e com raiva. Tive tão bons padrinhos que quis fazer o mesmo com o Fabian, mas não deu certo. Por outro lado, se só os convidasse e não tivesse expectativa, talvez o que eles me dessem ou dessem ao meu filho seria suficiente. E não sofreria (tanto). Pode ser que se não tiver tantas expectativas com a vida, ela me dê o suficiente. O suficiente para aprender a ser feliz.

Seja sincero

Tudo bem. Eu acho que as pessoas tem o direito de serem chatas, de mentirem para os outros, de serem mesquinhas achando-se melhor porque tem um carro top de gama, porque foram pro Caribe e tal. Também entendo que sejam estúpidas às vezes, quem se zanguem, que ponham a culpa em quem não tem nada a ver. Que façam fofoca, que deem conselhos a quem não pede, que se intrometam na sua vida, e que achem que patentearam a verdade só para elas. Eu entendo. Tudo isto. Porque é humano. Porque muitas e muitas vezes eu também sou assim. Mas o que realmente me faz confusão é não admitirem para elas mesmas o que são. Porque fazem tal coisa. Porque desdenham o outro, porque não conseguem e tem uma baixa auto estima que as perseguem e que dói demais pensar sobre isto. Se dói agora e por isto temos determinadas atitudes, vai doer e continuar doendo até olharmos para nós.
Que frustração: não temos a roupa da moda, não saímos de férias, não temos aquele número na balança... Mas não é isto que dói. Dói uma coisinha lá no fundo. Dói não ter tido carinho de mãe, dói não ter tido o pai presente, não ter tido compreensão. Dói não ter tido a mão no ombro no fracasso, dói ter escutado palavras afiadas, dói o silêncio de uma refeição a quem na mesa nada se tem em comum a não ser o sangue.
E porque não sejamos sinceros ao menos conosco? Ao menos sozinhos no espelho? Porque não dizemos: eu sei, eu fiquei com inveja, eles tem tudo e eu nada. Eles compraram casa, carro, viajam e eu aqui. Minha vida parece que não anda. E por isto tenho raiva. Por achar que não sou capaz de ter sucesso.
Porque não olha com mais afinco e vai fundo. Conversa contigo. Assim: eu não sei, quero ser mais madura, quero ajudar os outros, mas acho que não consigo. Não me acho preparada para ser uma psicóloga. Eu sou implicante. E tomo partidos. E eu tenho é que ajudar a pessoa a enxergar com mais clareza a sua vida, os seus sentimentos. É isto, eu tenho de educar os seus sentimentos, orientar. Mas e eu? Eu não tenho nenhuma inteligência emocional...como vai ser isto? Eu sei, vou aprendendo no caminho. Na verdade vou mais aprender do que ensinar. Tenho que aprender a ser humilde. Tenho que aprender a ser abalada, nas crenças, nas atitudes, tenho que crescer e proporcionar crescimento. E se o primeiro passo for conversar comigo? Escutar-me e acalmar a minha insegurança? Lá está, quando enfrentamos os nossos sentimentos mais obscuros, eles não parecem querer fazer-nos tanto mal como julgávamos. Afinal, eles só querem ser aceitos como são, tal como qualquer criatura da natureza...

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Ela

Sempre disse que não gostava de ler histórias em primeira pessoa. E nem chegava a terminar a primeira página do livro se assim começasse. Calava-o, fechava-o e pronto. Ela detestava aquela perspectiva bitolada, como se tivesse de antolhos que a impedia de ver a realidade ficcional. Sim, porque e os outros personagens? O que pensavam? Só sabia o que o locutor falava para ela. E assim não podia ser. Sabe que cada um sempre puxa a brasa para o seu assado.
Assim como detestava filmes sem final. Sabe aqueles momentos em que deixam todos tensos e depois pumba: a sala de cinema escura e as letrinhas os mandando embora. Algumas pessoas levantando apressadas e ela lá: ahn, como assim? O que aconteceu afinal? Ele vai ficar com ela? A menina do início do filme foi para onde mesmo? Canadá? E o beijo? E o final feliz? Não era de se pensar que pelo menos nas histórias um final feliz?
Não é possível imaginar um final para a vida, não sabemos nunca o que vai acontecer nos próximos minutos, que dirá dias ou anos. Ou se vamos deixar de existir neste exato momento. É por isto que pelo menos nos filmes deve haver um final. E um final feliz.
Também não gostava de quando as pessoas não tinham paciência com os jovens e suas boybands. Todo mundo teve a boyband de seu tempo. Se não tem talento ou tem pouco, de que interessa? Não gostava quando os adultos fingiam que nunca foram jovens. Faziam-se de desentendidos para suas memórias, enquanto elas lhe mostravam o quão inquietante fora aquela época.
Não entendia como as pessoas tinham mais filhos. E pior, um filho logo a seguir a outro. Não dizem que criar filhos é difícil? Que crianças durante muito tempo são cansativas? Que é caro educar, que precisam de intimidade entre um casal, que as férias já  não seriam as mesmas, nem os destinos tão longe e hotéis de 4 estrelas nem ver... Então porque as pessoas tem mais filhos? Ah, porque é bom. Ah é? E porque? Se todo mundo reclama ter de levantar à noite, ter que fazer o desfralde, levar à escola, ao parque, escutar os intermitentes: mãeeee olha eu aqui! Olha o que eu fiz! Olha o que eu faço!!! E ela sente-se perdida mesmo, perplexa por não saber onde as pessoas colocam o tal lado bom ou a razão para ter mais filhos. Sim, porque o primeiro é novo, tudo novo. A gente é um calouro, não sabe o que nos espera, curte e escuta cada conselho atentamente. Mas e depois vem o segundo...porque os pais se distraem ou porque querem dar um irmãozinho. Nééé (mistura de não com é), a pobre criança não quer um irmão, quem quer são os pais. Ela nem sabe nesta altura o que é um irmão de verdade, se soubesse não pedia. Ora pois. As crianças, apesar de tudo, tem um lado sensato.
Depois também não entendia os velhos. Parecia que quando se chega a uma certa idade, o DNA sofre uma mutação que faz com que as pessoas comecem a ter atitudes estranhas. É melhor acreditar que seja involuntário do que pensar que certo diz a pessoa acorda e resolve: vou incomodar os outros só porque sim. Só porque me dá vontade. Vou fazer de tudo para passar à frente e depois começo a andar bem devagarinho, assim, passo de passarinho. Ou vou contar todas as moedas para ver se não me querem enganar, duas ou três vezes. Vou conferir a nota para ver se não me cobraram a mais. Vou perguntar porque fazem bolo com passas ao invés de chocolate e quanto de açúcar vai em cada fatia. O assunto aumenta conforme o tamanho da fila. E ela revira os olhos. Será que um dia vou ficar assim?

Web Statistics