domingo, 11 de dezembro de 2011

Anjinho ou...


Porque quando os pais chegam, transforma-se de tal maneira que parece um polvo mexendo em tudo, desobedecendo, atirando-se ao chão: grita, chora. É uma tempestade, um furacão em escala máxima e, segundos antes estava apenas um menino lindo, sentado com um livro na mão...

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Eu no divã (3)


Quando deitei-me naquela cadeira horrível, aquela que existe nos ginecologistas, que nos mantém desconfortavelmente "naquela" posição... pois, esta mesmo. Quando deitei-me nela esta semana, e olhei para a tela do ecógrafo no alto da sala branca, tive por instantes uma sensação de melancolia, era como se fosse ver o meu bebê. Não o Fabian, talvez, mas o bebê que havia imaginado. Era como se pudesse ver ele a se mexer e piscar na tela escura. Foi tão pouco tempo, mas consegui captar estes pensamentos. É claro que censurei-me. Aliás é uma coisa muito estranha. Explique-me porque eu que tenho apresentado aqui todas as minhas limitações como mãe e ser humano que sou, tenho uma certa inveja ou melancolia quando vejo que alguém está grávida de novo. É quase como se uma leoa dentro de mim se apoderasse dos meus sentimentos, é uma sensação estranha, de aperto no coração. É uma censura porque não sei como alguém quer repetir esta experiência, ao mesmo tempo, consternação ao ver que tenha se passado tão poucos meses que dera à luz.
Não, eu não sei. Mesmo. No fundo parece aquela impotência de que mesmo que eu quisesse (o que parece não ser a vontade dominante), não posso. E porque? Meu marido é estéril há mais de 25 anos, quando fez a vasectomia. Isto implicaria passar por tratamentos e não quero mais isto. Veja bem, amanhã começo as injeções. Não é da bomba de hormônios de que falo e sim da minha fertilidade estar sujeita a dias e horas marcados e pior: na mão dos outros. Talvez eu ainda sonhasse com uma surpresa, um marido que fosse mais novo que, quando o relógio que toca lá pelos 38 anos despertar, bip bip bip, ele não tivesse perto dos 70...
Mas isto é muito longe, pode nem sequer tocar, tu pensas. É verdade, mas é parte do que se passa aqui e aqui. (Aponto para o coração e para a cabeça).
Bom, não se pode ter tudo na vida, não é mesmo? Isto é mais uma coisa que devo aceitar com o tempo. Agora por mais que às vezes a vontade me falte, tenho de cumprir os meus objetivos, olhar para a frente. E observar. Por mais difícil que seja, acredito que ao prestarmos atenção ao que sentimos, com mais serenidade aceitamos o mundo e tiramos este fardo dos ombros, o fardo de parecermos socialmente adequados. Perfeitos.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Adultecer


Não, não existe no dicionário, infelizmente. Mas acho que faria todo o sentido se existisse. Adultecer... bem, sabe aquele período em que não se é mais adolescente (por volta dos 19 anos) e também ainda não nos sentimos "adultos" o suficiente? Pois é, trata-se de um limbo, um hiato em que a consciência está a ser moldada e precisa de um tempo para que nos demos conta de que crescemos. Estive assim, como sempre, tempo demais. Bem, também deixei de ser criança tarde, de ser adolescente aos 21 quando saí da casa dos meus pais. Mas acho que só agora, aos 26 anos, sinto-me realmente mulher. Sinto-me segura em minhas decisões, não sinto vergonha das coisas bobas que antes sentia. Também já entendo um pouco mais da vida, tenho mais paciência com algumas coisas e pessoas, embora não com outras. Aprendi a dizer o que sinto quando há necessidade para tal. Antes, limitava-me a resmungar e guardar mágoas, mas não percebia que isto não me levava a lugar algum. Se quero que as coisas mudem, preciso mudar. Isto é tão óbvio, não é? Mas quanto tempo levamos para realmente por a mão na massa?
E para mim, mudança não é uma coisa que se faz somente de forma ativa. Com isto quero dizer que se não deixarmos acontecer, a mudança em si não ocorre. É mais ou menos como na natureza. Se tudo é movimento, não vale a pena eu ficar parado. Porém, se fizer a ferro e fogo e esperando rápidos resultados (que é o que geralmente acontece quando queremos algo), só vamos de encontro a um muro. Ficamos duros conosco e não aprendemos. A chave tão preciosa e tão rara: aceitação. Não é que eu tenha atingido algum patamar de iluminação, mas somente agora sei e sinto mais do que sei, que devo esforçar-me por me aceitar, estar presente, estar ao meu lado. Só assim permito-me mudar. Assim, tornei-me uma mulher.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Narcisismo digital


Quantas vezes não se deparou com a pergunta: o que você está pensando? Ou coisa do gênero. E quantas vezes ao estar furiosa com alguém não quis ir logo ao facebook e colocar indiretas e, se a pessoa em causa estivesse entre os seus amigos, torcer para que lesse? Quantas vezes quis partilhar a nota de uma avaliação, os quilos perdidos, o aniversário de casamento com o homem mais amoroso do mundo?
Ultimamente tenho pensado sobre isto, que fenomeno é este em que temos que contar aos quatro ventos o que se passa em nossas vidas à espera de likes, de comentários, de carinhas como esta :) ?
Não quero aqui julgar ninguém ou ser fundamentalista contra a modernização das comunicações, visto que euzinha faço isto. Só me proponho a refletir o porque de sites de relacionamento ou seria de "realçamento" se tornarem tão populares e necessários na nossa vida.
Hoje em dia passo umas boas horas a ver o que está acontecendo com fulanos e ciclanos, vejo as fotos, vejo quem viaja para onde, quem publica via celular, quem está acordado a tal hora. É quase como se nos tornássemos vigilantes uns da vida dos outros. Convenhamos, a dona Candinha do primeiro andar, por mais que colocasse uma almofada na janela, jamais conseguiria ser tão eficiente!
E por aí vai, a situação chega a ser tão ridícula que algumas pessoas começam a reclamar dos outros fuçando em seu perfil. Ahah! Dá uma vontade de responder para que se vá embora, pois a finalidade de uma página é mesmo esta. Sendo que ela mesma faz isto com os outros, é uma hipocrisia do caramba.
E quantas vezes já não deixamos de nos dedicar ao estudo, ao trabalho, ao marido, aos filhos por conta de nos distrairmos demais? Acho que só evidência a ideia de que estamos constantemente em um mundo virtual e cada vez menos no real. Isto para não falar daqueles jogos viciantes e um tanto bobos como fazendinha, cafézinho mágico, etc. E as tais campanhas de doar sangue, brinquedos, ajudar um animal a ter dono ou fazer cirurgia? Fico imaginando quando é que vão ter tempo para isto se estão sempre no facebook. E tenho a impressão que um like não reverte em dinheiro nenhum para a conta daquela criança com uma doença raríssima. E nem para o cachorro arranjar dono.
Mark Zuckerberg é realmente um gênio, no sentido de ter detectado esta carência humana de atenção, aprovação, e fazer disto um império digital, o qual lhe rende milhões de dólares por cada propaganda irritante que pula nos nossos olhos. Fora que o site tem recursos para "seguir" os usuários e recolher informações sobre gostos e assuntos mais lidos, de forma que assim, vem-nos anúncios "personalizados" juntamente com aquelas porcarias de teste de QI...
Páginas do tipo do Facebook vão além de algumas vozes ecoadas por blogs e videologs. Tendem a bestializar as relações, tornando-as mais alargadas, porém com evidente pobreza de sentido. Afinal que nível de amizade tenho com a prima do vizinho da minha amiga de infância que viu-me em dois aniversários apenas?
Apetece-me dizer, façam um like. Mas a vida é mais que receber ou não a provação de alguém. É muito mais fácil ficar entre a multidão, porém já não é mais a ideia que me move. Vejo que muitas coisas mudaram e hoje já não aceito a realidade como antes: questiono-a, ponho-na à prova, ponho-me à prova. E mesmo assim continuo a usar o facebook.



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