Eu acredito que somos nós que fazemos. Que temos escolhas, que podemos optar mesmo naqueles casos que não depende só de nós, podemos sofrer ou sofrer (menos), enfim. Mas tem uma coisa que me deixa com a pulga atrás da orelha, e não costumo comentar com muita gente sobre isto, pois acham que sou meio maluca. Acontece que como acredito que nossa vida é fruto de nossas escolhas, porque diabos tenho estes sonhos premonitórios? Na verdade não é bem déjà vu, que seria a sensação de que algo já aconteceu ou a impressão que se conhece tal pessoa de algum lugar. Não, é mesmo uma repetição: fulano está com tal roupa vestida, ciclano vira-se e diz blabláblá (a mesma frase do sonho), fulaninha ri e diz blablabla (a mesma coisa que também sabia que ia dizer). E eu fico, não sei bem, presumo que devo ficar com uma cara estranha e ainda bem que ninguém lê pensamento. Só me ocorre, pumba! Aconteceu outra vez. E não sei o porquê disto, deve me acontecer umas 20 vezes por ano talvez mais, se lembrasse mais dos sonhos. E são fatos cotidianos, bobos até, na maioria das vezes. Lembro de ter recém chegado em Portugal e sonhei que a minha vó me ligava para contar que a minha tia estava grávida. Ainda bem que comentei com o marido, senão nem ele acreditava. Uma semana depois liga a minha vó e o resto vocês já sabem. Também já sabia eu.
"Quem fica julgando o destino dos outros nunca descobrirá o seu". Paulo Coelho |
A primeira vez que me dei conta deste dom ou sei lá, melhor dizendo, desta esquisitice, foi quando eu tinha uns 16 anos. Um ano antes tinha eu sonhado que estava numa sala de aula muito cheia e depois entrava um professor. Ele apresenta-se diz que ia falar sobre qualquer coisa da Rússia e vira-se para o quadro. Escreve czar e diz que em russo se diz "tizar", mas que hoje era aceito falar-se "quizar". Imagina a minha cara quando um ano depois estou sentada no fundo desta sala de aula e o professor entra, se apresenta, escreve no quadro e diz a mesma coisa que sonhei um ano antes?
O engraçado é que não percebi quando o professor entrou que já o conhecia de algum lugar, a lembrança só vem à tona quando tudo se encaixa, quando o ciclo se fecha. Só depois dele escrever czar eu senti um frio na barriga e já estava à espera da frase. Aí sim gelei, como é possível? E já sim, já aconteceu sonhar comigo e com outra pessoa que falávamos coisas triviais e a pessoa disse tal coisa e eu lembrei do sonho que tinha tido em que ela dizia isto e numa fração de segundos o cérebro lutou para contrariar este sonho em que eu dizia assado, mas no fim acabei por dizer o mesmo que sabia que havia dito. Confuso?
Pois então aonde é que ficam as escolhas? Como é possível eu ter este vislumbre do futuro? É possível que ninguém nunca acredite em mim a não ser o marido, mas pense se tivesse acontecido contigo. E não, infelizmente não consigo acertar o euromilhões!!! Ahhhh!!!
Se nossa vida é fruto de nossas escolhas como é possível saber o que o outro vai falar, com que roupa vai estar, o que eu vou dizer? É uma questão que vem e vai na minha cabeça.Será que existe qualquer coisa como um destino? Será que nossas escolhas não são assim tão nossas?