Conselho que muito provavelmente nunca me ouvirão dizer (principalmente para quem está louco para ser pai). E é por isto que não tenho coragem de aparecer muito nos fóruns de infertilidade nos quais vejo pessoas tão desesperadas quanto eu era, tão amarguradas com a vida e com os outros, tais como eu era há três anos atrás.
Se alguém pensa em ter um filho porque ele vai completar a sua vida, não tenha. Um filho vai preencher as suas horas de solidão com choros, com noites em claro. Não, ele não lhe fará companhia e, pelos menos nos primeiros anos, ele só vai querer saber das necessidades dele. Se alguém pensa que um filho pode lhe fazer feliz...bem eu pensei que fizesse. Mas não. Um filho pode trazer alguma alegria, mas dificilmente alguém que nunca está satisfeito ficará com uma criança o tempo todo a exigir atenção. Ainda mais se este alguém gosta de estar sossegado, de ver internet, fazer sexo com seu companheiro a hora que tiver vontade. Se alguém quer ter um filho porque só lhe vem a cabeça bebês de novela (que choram só na hora que a cena pede), ou porque os amigos todos tem, ou porque o negócio é casar, assentar e...ter filhos. Não tenha. Um filho não se devolve, não se empresta, um filho vai depender de você por pelo menos duas décadas. Pensou que é muito tempo? Talvez você já esteja cansado, sentido-se sugado, velho, e já não ache que viajar, ir no cinema, botar aquela roupa especial faça de novo parte da sua vida.
As pessoas romanceiam muito esta história de ter filhos. Há mas dá trabalho e é bom. Será? Eu não acho bom na maior parte das vezes que a vida não dependa de mim. Que as decisões dependam de um ser de menos de um metro de altura. Se vamos ou não sair, se ficamos mais tarde acordados, se vamos "namorar", se ele vai chorar e atrapalhar tudo.
Eu nem sei, acho que se não consigo sentir prazer nisto que todo mundo sente (ou pelo menos dizem que sente), não sei mesmo que tipo de monstro eu sou. Ou de pessoa. Que vê muitas vezes o filho como um obstáculo para a sua "felicidade". É uma ironia porque uns anos antes, era a fonte, o Santo Graal que persegui tão ferrenhamente.
Hoje minha vida é em função do Fabian, buscar na creche, fazer mamadeira, dar comida, trocar fralda. Eu até sei que isto vai mudar, daqui uns anos ele está mais independente, vai poder ficar em casa sozinho, vai ter festas de aniversário aos fins de semana. Mas não quero, tenho medo, de ficar como uns amigos, que já estão tão habituados a terem os dois filhos a tiracolo que quando tem estes momentos, olham-se sem saber o que fazer.
Muitas vezes eu penso, se pudesse voltar atrás. Se pudesse ser tudo um sonho e eu acordasse com aquele corpinho que tinha, e visse que a maternidade não era bem a minha área, ia desistir dessa ideia de engravidar, de fazer tratamentos e tratamentos. Porque eu na maior parte do tempo, queria voltar e seguir por outro caminho. Mas isto não é possível, e a parte mais difícil neste momento da minha vida é aceitar. Aceitar e tentar viver da melhor forma as escolhas que fiz.