quinta-feira, 1 de novembro de 2012

A louca

A minha sogra tem uma vizinhança diversificada diga-se de passagem, há de tudo. Desde casarões estilo mansão, casas de madeira, casa simples e há uma casa-lixão. Toda vez que passamos por ali o Fabian diz "Ixo mãe!". Pois bem, e a dona da casa é uma louca que passa o dia sentada na frente do muro a dizer asneiras. O marido é um bêbado e vivem os dois há muitos anos sem luz, em meio a muitos cachorros e lixo. Volta e meia pedem alguma coisa a minha sogra. Vivem de doações dos vizinhos, as pessoas ficam com pena e inclusive já lhes pagaram a energia e gás algumas vezes, no entanto eles não valorizam nada, gastam a torto e direito e a única coisa que mantém agora é a agua. Fizeram tanta choradeira que os funcionários da empresa desistiram de lhes cortar. 
A louca fica sentada a dizer barbaridades para quem passa e por vezes penso que ser louca tem lá as suas vantagens. Pode-se dizer ou fazer qualquer coisa que as pessoas não ligam muito, pois tem o respaldo de uma criança quando comete pequenos atos de teimosia. Mas louca ou sã, quero ver é se rasga dinheiro. Porque se rasgar, minha filha, então esta é louca com menção honrosa. Porque conheço muita gente que se diz louca, que se faz de louca, que age como louca, mas para mim louca mesmo é aquela que alheia a tudo esquece o mundo e vai ser feliz. Não há loucura maior.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Os estrangeiros

Borá lá falar mal dos meus compatriotas (e talvez de mim porque não?). Tem uma coisa muito gozada que acontece com as pessoas que vão morar fora de seu país e isto pode ser chamado de uma doença que se apossa de quase todos que conheço ou não. E a isto se chama o mal de ser estrangeiro em seu próprio país, em sua cultura, e os sintomas são uma saudade imensa das coisas que nem gostava quando morava lá, mas que por mais ninguém fazer, sente-se na obrigação manter suas origens diante dos nativos. No entanto para a sua gente, o estrangeiro gosta de afirmar que sua vida é rosa, que tudo é melhor que no Brasil, as pessoas, os costumes, a educação, etc, etc. É uma necessidade engrandecer as razões que o fizeram partir e as coisas que o prendem por lá. No Brasil há violência, há corrupção, há malandragem. Há e concordo. Mas uma coisa que morar fora me proporcionou é a vantagem de saber que não somos os únicos. Que a democracia das bananas se estendem de Portugal até o pé dos Países Baixos e que apesar de todos os defeitos, temos um ótimo ensino superior público, temos um povo que acolhe como nenhum outro, e um senso de humor para com a vida, um optimismo que não se vê pelos rostos europeus.  Morar fora dá uma certa responsabilidade para as pessoas, abre os olhos para além do que é dito pela imprensa daqui que só faz massacrar diariamente com notícias negativas para continuarmos desta forma. Inconformados e passivos, com vergonha de nosso povo. 
Morar fora dá-nos a oportunidade de exercitarmos o auto conhecimento, de transformarmos o diferente em familiar e familiarizarmos com o diferente. Morar fora poderia nos transformar em uma espécie de antropólogos de plantão, questionando nossas crenças, desenferrujando o pensamento, mas ao mesmo tempo quem viveu fora sabe que não há volta a dar. Não há como viver e esquecer o que aconteceu, vestindo a velha roupa. Ela não nos serve mais. E sentimo-nos deslocados em nosso próprio país. Isto porque quem mora fora e daí no meu caso, teve de retornar, já não é mais um cidadão brasileiro, mas sim um cidadão do mundo. E por isto digo que estas pessoas tem maior responsabilidade, responsabilidade de enxergar além, de a cada comentário deslumbrado de um amigo, dizer um não é bem assim. Por mais que pareça esnobe. Temos a responsabilidade de dizer que a perfeição não está depois da fronteira. Está aqui para quem quiser ver. Uma perfeição imperfeita, com aquele jeitinho brasileiro de levar a vida.

A ditadura da mulher polvo

Já disse e vou dizer de novo. Porque existe um tabu sobre as mulheres que querem ser donas de casa? É que não vejo mal nisto (se não for para ter uma tropa de filhos para o marido se matar trabalhando), principalmente quando é uma escolha dela e o marido aprova, o que tem os outros a ver com isto? Digo, todo mundo é livre para pensar o que quiser, mas não para infernizar a vida do resto. 
É porque não quero, ouviram bem, não quero nem gosto de trabalhar. Ah se for para eu terminar o curso de Psicologia e trabalhar no que realmente gosto ou se é para escrever e fazer disto um ofício. Sim, muito obrigada. Mas se é para queimar barriga no fogão (maneira de dizer) e andar a empregos de salário mínimo só porque tenho vergonha de dizer que sou dona de casa e este salário ir todo para uma creche, juro que tenho vontade de mandar a puta que pariu quem me incomoda por causa de emprego. 
E quando eu digo dona de casa, digo mesmo de cuidar da casa, fazer comida, cuidar da roupa, levar filho para o colégio. Não é sentar no sofá o dia todo e ver novela. Não é unhas pintadas, cabeleireiro, massagem e ginástica com personal trainer. O nome disto é peruagem. E não é que não quisesse, mas me contentava em ser apenas dona de casa. 
Eu acho que o problema está em confundir uma profissão com personalidade. A pessoa não é médica ou psicóloga ou cozinheira. A pessoa está como ou trabalha na área. A pessoa não leva para o pós vida um título ou quando se aposenta deixa de existir. Mas é a imagem que passa a sociedade quando somos apenas algo enquanto estamos "ativos" e temos poder de compra. Se estamos desempregados ou se exercemos uma atividade não remunerada como ser dona do lar, então não somos ninguém. Contribuímos zero para o sistema. E somos tratados com desprezo disfarçado, é verdade, mas mesmo assim desprezo, preconceito. 
O que me irrita não são as mulheres que trabalham e gostam de ter sua vida relativamente independente, mas aquelas que querem ficar em casa, e até podem, no entanto tem medo, vergonha, e trabalham mas chateiam e apontam o dedo sempre que podem a mim por exemplo, ou a outras como eu.  Não, não precisamos de uma revolução. Não precisamos que vocês se ergam em saltos altos por nós, não somos princesas em calabouços...é apenas uma escolha. Não queremos ser resgatadas para este mundo hostil. Só queremos brincar de casinha e ser feliz. Entenderam ou quer que desenhe?

Antes que o mundo acabe...

Não acredito que o mundo vai acabar em 2012, no entanto, hipoteticamente se acabasse, tenho algumas coisas que gostaria de fazer...
Em primeiro lugar tenho vontade de sair por aí dirigindo mesmo sem carteira. Andar mesmo que em segunda marcha e depois ir experimentando o acelerador em uma auto estrada. 
Segundo queria ir ou telefonar a todos os desafetos nem que seja para dizer "vai te foder!", afinal eu também vou dentro de alguns dias como tudo neste planeta.
Terceiro: quero gritar na rua como louca, usar chambre, apito, fazer o que eu quiser no estilo Mr. Bean mesmo.
Quarto: rever todos os filmes que eu gostei. Até os infantis.
Quinto e último: se é para morrer, então que seja transando. Nada de abraço, família, ranheira e choradeira. Quero só o marido (que o filho espero que esteja dormindo), só não pensei ainda na música, até porque as coisas que se fazem sem premeditação são as melhores. Mentira, quem sabe I will survive? Just in case.

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