sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Das coisas de que gosto no verão






Biquinis, biquinis e mais biquinis. De preferência bem coloridos e pequeninos, daqueles de bolinha amarelinha que mal caberiam na Ana Maria. Ai céus, é por isto que estou numa dieta e pular corda imaginária todos os dias para sentir-me bem nos meus biquinis. 
Uma coisa que gringo não deve entender nunca é porque temos quase a bunda toda de fora e não colocamos os peitos ao léu. Também não entendo, há muito pudor por mais um pedacinho de carne à mostra. Mas uma dica: também não entendemos andarem as vossas mulheres nuas da barriga para cima e abaixo do umbigo estar um lençol colorido que mais parece aquelas fraldas de bebê antigas. Sim, porque até as fraldas evoluíram. Enfim...é uma questão cultural. Agora não é lá por andarem as moças aqui nuas no sambódromo que a sociedade vê com bons olhos a nudez assim por tudo e nada em uma praia não-nudista. É porque tem aparecido muitos gringos nus no litoral do Rio e São Paulo, as pessoas veem, filmam, mas não denunciam. É que repito, o atentado ao pudor é crime, salvo nas novelas, nos programas de auditório, nas revistas e publicidade. É que nudez assim tão nua e crua, tão espontânea sem querer vender nada, não estamos acostumados.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Brasileiros com "Z" por favor

Eu já falei disto muito recentemente, mas enfim, volto a falar porque isto realmente me deixa enojada. É feio, muito feio esta ânsia que vejo nas pessoas que emigraram que comem merda e querem arrotar caviar para os outros. Porque o importante mesmo é mostrar que são pessoas de sucesso, quando a gente que está mais perto sabe que não é bem assim. A minha cunhada mora no Havaí e vive falando mal do Brasil, é que lá nos EUA é que é bom, lá se tem qualidade de vida, lá se tem os melhores serviços, mais segurança, um multibanco a cada esquina. Quem a vê falando e expondo sua vida na rede social e fotos de carros e viagens, pode questionar-se se ela é médica, advogada, publicitária. Nada disto. Ela trabalha como faxineira, como camareira, como massagista de hotel, enfim nada contra as profissões que são muito honestas, mas nada de glamouroso em se segurar uma esfregona, não é verdade? Nada de glamouroso em se trabalhar 12 horas por dia, em se tirar uma folga a cada quinzena, em ser demitida por causa de uma lesão e nem sequer ter direito a indenização. Nada de mal também em não se ter seguro de saúde público, nem garantia de aposentadoria, pois sendo privada, pode a empresa falir e vai-se todo o dinheiro sem nenhuma garantia de reavê-lo.
O primo do meu marido mora na terra do tio Sam há duas décadas e também é a mesma história, tão repetida em frases do tipo: sou rico, tenho uma casa com piscina de água salgada (vejam como sou excêntrico), para mim se o presidente se reeleger ou não tanto me faz porque vou ali investir na bolsa (da mulher?) e já saio com um BMW novo. Quem o lê não imagina de que todo o esforço que foi enriquecer partiu do sogro e não dele. Não que a pessoinha não tenha trabalhado, mas de fato só chegou lá porque já encontrou o caminho feito. Quando leio estas coisas dá vontade, mas dá tanta que venho aqui no blog desabafar. É que sei que é inútil, ninguém muda ninguém, mas me revolta cuspir no prato que comeram por muitos anos, me revolta esquecerem que os seus pais tanto fizeram para lhes dar o melhor possível, pagaram curso superior e tudo. Esta foi a vida da minha cunhada, saiu do Brasil com um diploma para trabalhar de camareira primeiro na Austrália e depois nos Estados Unidos. Não acho mal de todo se for para uma experiência, ou para dar um pontapé inicial no mercado de trabalho, ou se for para aprender a língua. Mas ficar mais de dez anos estagnada em sub emprego e com um discurso de que apesar de limpar a sujeira dos outros lá é melhor, não entendo.
Eu mesma já trabalhei na fábrica da Triumph, já trabalhei em restaurante e não tenho vergonha. Mas nunca quis dizer ao mundo de que tinha uma vida de princesa. Isto não existe, não é a realidade de 99,9% dos brasileiros que emigram. Acho mal, extremamente mal quando ainda por cima se passe a escrever Brasil com "Z", é porque agora esta gente não quer ter mais nada com nossa língua, nem quer ter mais nada com as suas raízes. E como bons estrangeiros que são já começam a olhar "aquele bando de brasileiro" com vergonha, com nojo, com preconceito. Gente assim só é brasileiro na hora de dizer que está com saudade do churrasco e gente assim só se pinta de verde e amarelo quando o Brasil ganha um jogo. Gente assim já não faz falta e já vai é tarde.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Coisas que enfeiam o verão

Ou melhor, que enfeiam a vista...
Saia mullet...se houvesse uma figura no dicionário para a palavra esdrúxula, teria de ter esta imagem acima. Coisa mais sem pé, parece aquelas calças saruel, ninguém sabe quem inventou, quem disse que era bonito, mas todo mundo usa. A impressão que dá é que a distinta criatura a roubou do varal de alguém, mas que ao puxá-la saiu rasgada, colocou e saiu andando. Para piorar é só combinar com bota...realmente um espanto.

Tênis sneakers agora em versão verão. Se no inverno já estava terrível, imagina agora em cores mais berrantes e com buracos para ventilação. Pessoas que usam isto me lembram aquelas peruas que vão a academia maquiadas, reboco e rímel, aliás parece pensado para as mesmas, as tais que não descem do salto nem para dar uma corridinha na esteira. Conselho: deixe para as peruas e suas calças legging. 
Os shorts de cintura alta. Tá bem, percebo, mais tecido para cima e polpa da bunda de fora. É uma questão de opinião, mas acho muito esquisito que há alguns anos atrás todo mundo gozava da mamãezinha quando via aquelas fotos antigas dela com um centro peito jeans e agora ficou in? Para as magrinhas ainda é passável, mas se temos um kg a mais podemos correr o risco de nos darem os parabéns e a pergunta de praxe: menino ou menina? Sim garotas, estes shorts deixam vocês com barriga de sapo! Ou papo de sapo, sei lá. 
Na dúvida, um bom vestidinho solto não tem erro.



terça-feira, 6 de novembro de 2012

Das coisas que não esquecemos

Poucas coisas na vida pode-se dizer que são marcantes para toda a existência. Há algumas que são momentaneamente boas ou ruins, mas que com o passar dos anos vão se desvanecendo entre outras lembranças apagadas que com o tempo já não sabemos se realmente lembramos daquilo ou se mais que a metade são invenções para preencher as lacunas de nossa história. Todo mundo diz que o nascimento de um filho é das coisas mais preciosas para uma mãe, mas confesso que pouco me recordo do momento e do que senti. Eu tento, mas não chego lá. Tenho fiapos soltos, um pé, um choro, mas não consigo reconstruir isto e reviver. 
Quando levantei cedo em uma manhã de domingo, estava de mau humor, mas a minha mãe dissera que ia encontrar uns amigos. Cuidadosamente havia escolhido a minha roupa: um conjunto azul de calça fuzô de que particularmente detestava. Lembro-me de andar de ônibus, de sentir os pés balançar   acima do piso de lata. Quando chegamos ao parque que já conhecia, minha mãe agarrava-me a mão. Estava um dia lindo de sol sem nuvens e sem vento, e eu procurava ansiosa pelos amigos dela, estranhando o fato de que nunca vi minha mãe com amigos nenhuns. Atravessamos a rua e lá estava um homem de bolsa a tiracolo. A minha mãe o conhecia, aproximou-se dele e me disse: este é o teu pai. Fiquei completamente paralisada, sem saber o que fazer ou dizer. Ela simplesmente me largou com aquele estranho por alguns minutos, talvez, mas pareciam horas e o abismo entre nós pareciam anos, os anos de ausência dele em minha vida. Ele foi educado e ofereceu-me pipocas e algodão doce, coisas que qualquer criança não conseguiria resistir e que se não fosse vindo dele, eu talvez aceitasse de bom grado. Depois de mostrar-me na máquina filmadora o que supostamente ele chamou de meu irmão, ele deixou-me novamente com minha mãe. Ela convidou-o para almoçar, mas ele não aceitou. E educadamente retirou-se de minha vida. Eu achei que poderia finalmente ter o seu rosto em um papel denominado pai. Mas seu rosto também recusara-se a ficar. Por muito tempo senti aquele abandono, aquela rejeição pelo simples fato de eu existir como sendo parte de mim. O que tinha de tão errado que fizesse ele não me amar? Um adulto pode entender coisas muito difíceis como a perda de alguém. Pode lidar com isto de muitas formas, pode escolher fazer terapia, correr, chorar, gritar com seus subordinados no trabalho. Mas uma criança não. Uma criança é um ser em formação que está a recém aprendendo como lidar com seus sentimentos, aprendendo que o mundo não é a extensão dela mesma. Mas uma criança é frágil demais para suportar as escolhas dos outros, a sua incompetência emocional. Porque uma criança só quer uma coisa: ser amada. E não, agora que sou mãe sei que apesar de simples, este desejo não é fácil. 
Por muitos anos meu pai foi odiado silenciosamente, porém apesar de não falar no assunto e de dizer-me bem resolvida, a nossa origem é das coisas mais marcantes da existência. E eu odiava o meu pai. Odiava o abandono. Odiava ter conhecido ele não porque o mesmo quisesse, como imaginei por muito tempo, mas sim porque minha mãe havia insistido o bastante para que aquele encontro fosse possível. A ideia de que eu sou mais eu e ele é que está perdendo de conviver comigo bastou por um período. Mas para aceitar isto lá no fundo são outros quinhentos.
Uma coisa é certa. Quando se é pai conseguimos enxergar com outro olhar. Vemos além da mágoa e reconhecemos de que nossos pais não são os depositários de tudo que aconteceu de bom Pu ruim conosco. Eles foram o molde, mas nós somos agora nova forma e constatamos que são falíveis assim como nós o somos neste momento. Meu pai foi uma criança birrenta que não quis assumir responsabilidades, que lutou para que eu não nascesse. Se disser que o perdoo estarei mentindo. Mas o entendo, hoje o entendo apesar de toda dor que ele sequer imagina que plantou em mim. No entanto a lacuna que ele deixou em minha vida nada o preencheu, nem meu avô, nem meu padrinho, nem meu padrasto. Por ironia do destino , quem me ajudou muito a superar isto foi meu marido. Ele foi o pai que escolhi. E por consequência, o pai que escolhi para o meu filho.
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