Quando escuto alguém dizer, "daí eu disse umas verdades para ela", ou qualquer variante disto, a primeira coisa que me vem à cabeça é: que verdade? Verdade para quem? O que conhecemos por verdade não passa do nosso ponto de vista sobre alguma coisa ou alguém. E o outro também tem lá o seu ponto de vista, a sua visão de mundo, só aí juntando dois mais dois, chega-se a conclusão de que a verdade não existe. É simples e óbvio não? Então porque as pessoas insistem em acreditar-se donas da verdade? Em acreditar que estão sempre certas e o resto errado. Ah é importante, quando dizemos isto a elas podemos ver as emoções irem a outro polo. Sai o rosto de quem é o proprietário orgulhoso da razão e entra o sentimental beicinho e a frase: tá bem, é sempre assim, eu sou a errada, vocês estão sempre certos.
E porque isto hoje? Porque tcham tcham tcham... tambores...não sou o Dalai Lama! Suspeitaram desde o princípio? É porque eu acho que tem gente que pensa que sou. E não, não é porque uso roupas compridas (ahahah nunca usei). Hoje me saltou a tampa, fiquei com a macaca, mas nem sequer posso por a culpa na tpm porque já estou no fim disto. Conhecem a minha querida sogra, já apresentei ela por aqui? É uma velha carola, daquelas que acorda as 5 da manhã para rezar o terço e canta o dia inteiro músicas de igreja. Acho que não tinha dito ainda que ela é surda, embora aprecie a surdez para dizer bem alto coisas do tipo para implicar e quem pegar aquilo para si começa já uma discussão em que ela tem de sempre sair vitoriosa, ao menos na sua cabeça, porque as tantas desistimos e a velha continua a falar sozinha.
Já repararam que as discussões sempre começam pelo motivo mais bobo? E que dentro delas vai crescendo uma onda gigante de indignação e mágoa, onda esta que se escondia durante todo o período que tentamos bravamente manter a calma? Comigo é assim. Estou a mais ou menos mês e meio ininterruptos a ouvir bocas. Todo dia é uma novidade, pergunto-me se vai ser de manhã, à tarde ou à noite. Tenho tentado mesmo, mas muito mesmo manter a calma, ficar em silêncio, contar até mil, sair de perto, desabafar para o marido, enfim...são muitas táticas que uso. Mas não adianta. O problema é que o problema em si não muda. Eu acho que é o meu carma. Não quero ser a coitada que só sofre,eu sei que tenho meus defeitos e tenho um gênio difícil que só o meu amor para me aguentar. Porém quando estou na casa dos outros tento sempre me segurar, tento respeitar a forma da dona da casa de ser e levar a sua vida, mesmo que a forma de levar a sua vida seja ficar resmungando o dia todo coisas sobre mim e o meu marido e o pedreiro e sei lá mais quem. É que machuca. É que irrita. É que estamos numa puta duma situação de merda e paciência é o que menos sobra. É que sabemos que não é nosso canto e que não mandamos nada.
Hoje a discussão foi por que ela queria que lavasse e guardasse a louça.
Até aí tudo bem, concordo, porém a louça já estava lavada e não tinha sido
guardada porque o marido e ela estavam ocupando a cozinha e a cozinha é onde
era a área de serviço, ou seja, tem só um metro quadrado mais ou menos (porque
ela o quis). Eu disse então o porque de não ter guardado a louça e ela então
começou a ironizar que quando eu viesse da outra vez tinhade fazer uma cozinha
maior só para mim. E que eu ainda estava de camisola e que não suportava me ver
assim em pleno domingo (?!) deste jeito, e que eu não sou uma boa mãe, uma boa
dona de casa, que onde já se viu. Onde já se viu o que? A casa não é minha, ela
quer que eu levante com paninho na mão e vá dormir de vassoura? Não basta o que
fiz no aniversário dela? Que nenhuma das noras e netas fez na vida? Mas ela
disse com todas as letras que não bastava, que preciso fazer mais. Mais…mais…
as pessoas sempre querem que a gente faça mais, que a gente mude mais. E nunca
é o bastante. O nosso mais é pouco para elas. Porque elas não conseguem ver a
luta interior que é para ser mais. E melhor.
Hoje me saltou a tampa. Não sou o Dalai Lama. Disse algumas coisas que
estavam presas, mas queria dizer muito mais. Às vezes penso o que a vida quer
me mostrar pondo pessoas assim no meu caminho? Eu tenho mesmo feito uma análise
dos meus pensamentos, das minhas ações, mas não consigo mudar para o jeito que
elas querem, e também nem sei ao certo o que elas querem de fato.
Quer saber, hoje vou aproveitar que estou bem doida. Vão mais é se fuder as
duas sogras da nossa vida. Vão mais é a merda!!!