É uma das coisas que reflito regularmente. Debato-me com a questão da maternidade, talvez porque me assuste quando leio certos comentários em um determinado fórum e reveja-me em alguns casos. Sei que não tenho qualquer direito de ir lá e dizer para a pessoa o que penso, mas posso e devo dizer para mim como me sinto.
Em primeiro lugar, um filho não traz felicidade. Ou pelo menos não traz felicidade plena. Não existe um "e foram felizes para sempre" e ponto no seu conto de fadas como a por fim a todo sofrimento de uma vida, toda esta busca e esta revolta com o mundo por não termos aquilo que queremos e quando queremos.
Um filho não nos torna melhores. Ele nos torna diferentes. O melhor é por sua conta. Depende de nós e não dele. Depende de nós resolvermos este conflito interior que é chegar do outro lado e estar surpreso que os comerciais de margarina que toda a gente falava não incluem a nós.
Um filho ou lutar por um filho não deve ser a razão da nossa vida, pelo motivo de que a vida que começou dentro de nós, agora é do mundo e sendo do mundo, vai ter suas próprias escolhas e seguir o seu caminho em algures depois de duas décadas. E você vai morrer porque ele resolve morar na China? Vai deixar de respirar? Vai deixar seu companheiro para se mudar para perto? Não? Eu conheço gente que fez isto, não, na verdade levou o marido para viver na Itália para onde mudou-se o filho.
Um filho não salva casamento, não é nenhuma garantia de laço afetivo entre duas pessoas. Um filho não serve como desculpa para esquecer que ainda é mulher. Um filho não serve como paliativo para solidão. Muitas vezes você vai sentir-se ainda mais só mesmo tendo alguém que exige atenção 24 horas por dia. Um filho não quer dizer que se vá ter alguém para nos cuidar na velhice. E finalmente, um filho não irá despertar o amor que não se tem.
Quem pretende ter um filho, pretende-o na maioria das vezes, mesmo pensando o contrário, por motivos egoístas. Quer ser feliz, pensa que só será depois que for mãe, acha que ter um filho a tornará uma pessoa melhor, pensa na sociedade, pensa na sua dor por não conseguir engravidar, pensa na injustiça, na inveja quando vê alguma grávida. Pensa em dar amor. Mas o amor não surge assim que se realiza um sonho. Ele precisa ser exercitado, esticado qual massa de pão, às vezes soqueado e exposto a alta temperatura. O amor não vem de graça. Não vem depois de noites mal dormidas, de cheiro à leite azedo, do corpo deformado pela gravidez, da falta de tempo para as coisas mais simples como escovar o cabelo. Um filho não traz o amor por tabela. Um filho nos faz despertar para uma realidade nova e nem sempre a que imaginamos. Mas um filho nos desconstrói e deixa-nos em uma encruzilhada. O que vamos fazer desta escolha cabe a nós. Um filho não nos faz pessoas melhores. Nós é que por termos um filho, achamos por bem mudar. E minhas filhas, custa muito, nada é mágico como vos contam. As pessoas só gostam assim de dar um "ar cor-de-rosa", faz parte da maternidade, se alguém contar como realmente foi, poucos seriam loucos para tentar.