quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
Não há certo nem errado: há sentimentos.
Desde que me lembro há em mim duas pessoas: aquela que sou e aquela que tenho de ser. Durante a minha infância e adolescência este questionamento foi crescendo a medida que ia entendendo que as outras pessoas deixavam escapar um pouco de si em uma conversa ou discussão. Foi então que apercebi-me que não estava só. Mas junto desta dualidade vinha a culpa, a culpa por não conseguir ser quem eu sou, a culpa por ter de fingir o que não sinto, o medo de não ser amada por eu mesma, pois que quem era amada era a outra, aquela que eu podia mostrar.

E este blog tem sido a minha terapia desde então, muitas vezes quase que o imagino sentado a minha frente a me escutar e questionar. Ele sempre me dizia para observar os meus pensamentos, mas não me prender a eles, a deixar ir, a aceitar, a questionar. E questionando-me constantemente, dizendo coisas que não gosto de ouvir, tenho me conhecido melhor. Tenho trabalhado a culpa que há em não ser sensível em relação a grandes tragédias, em primeiro lugar porque sou constantemente exposta a isto pelos jornais e tv, em segundo porque o sentir como, quando e em que intensidade, é relativo. Posso sentir alguma coisa por alguém em determinado momento, e depende do meu estado de espírito sentir mais ou menos, porque acho que o sofrimento nos torna um pouco egoístas. Mas quando sentir, tenho de realmente sentir. Tenho de me imaginar na situação do outro, sentir a sua dor por alguns minutos, tenho de pensar o que faria, tenho de mandar pensamentos de amor. Porque para mim isto é sentir, isto é ter empatia com outro ser humano. Não é dizer que horror e virar as costas.
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
O cafajeste italiano
A tia dizia que viver na Itália era a melhor coisa que lhe tinha acontecido. A tia casara com um italiano e não precisava neste exato momento estar a limpar as borras de café no balcão de um bar sujo de Palermo. E a única coisa que lhe enchia os pensamentos era a música dos titãs Go Back. A música incorporava-se em seus dedos e quando via estava a murmurar e sacudir a cabeça enquanto o pano ficava castanho e a fórmica insistia em ficar apenas borrada ao invés de limpa. O sino que anunciava a chegada de um cliente tocou, ela virou-se ajeitando o avental. Tinha a franja sobre os olhos quando deu com o par de olhos mais azuis que o mar mediterrâneo, sentiu os pelos do braços a eriçarem. Nunca fora mulher destas coisas, de arrepiar, de acelerar o coração por qualquer um. Sinceramente nem lembrava-se se algum dia sentiu isto a não ser por aquele homem de metro e noventa e olhar insistente. Ele fechou a porta atrás de si, pois já estava habituado que a mola estava quebrada desde sempre, deixando o frio e a chuva fina longe dali. Queria dizer-lhe com ar emburrado que o estabelecimento fecharia dentro de minutos, mas conteve-se sem saber se o fazia pelo seu italiano ser terrível ou se porque o homem sabia disto e mesmo assim perseverava com aquela mania.
Ele amparou cuidadosamente seu braço quando trancava a porta, pois que tremia de frio e nervosismo, embaixo do guarda chuva que ele pacientemente segurava. Era como a chapeuzinho sendo levada para a casa da vovozinha pelo lobo mau. Mas não era assim tão inocente, neste caso a chapeuzinho era tão culpada quanto o lobo. E assim eles saíram um pouco abraçados pela chuva fina e gelada, que molhava seus pés e a barra da calça justa. Ele ia lhe dizendo coisas no caminho, algumas ela entendia, outras não tinha mesmo vontade de esforçar-se para isto. Mas era algo como aproveitar o momento, carpe diem, estas coisas. Perguntava-se se este seria o lema de todos os traidores deste mundo a fim de justificarem o fogo desmedido por entre as calças.
Chegaram no quarto e enquanto ele servia um vinho que havia pedido no balcão, ela engolia-se na cadeira. Olhava para a janela e via-se refletida no vidro húmido. No entanto o vinho descia e uma onda de calor brotou em seu corpo já tão cansado de culpa. O homem lhe explicava que estava apenas preso às mãos, mas que o membro não tinha qualquer parte no compromisso que havia feito alguns anos atrás. Pôs-se a beijar-lhe a nuca e afagar-lhe os seios. Alguma coisa dentro dela sentia-se crescer e esquecer do mundo, deixando apenas atenção para o seu corpo jovem.
Foram finalmente para a cama. Revezavam-se no poder que exerciam sobre o outro. Eram momentos de paz e gozo, de dor e presença. Riram. Exploraram. Deixaram que seus corpos se conhecessem. E dali conseguiram um empate, dois a dois. Entre mortos e feridos salvaram-se todos. E não sabe se foi pelo vinho ou pelo sexo, haviam fugido horas sem que percebesse. Agora nos lençóis brancos apenas ela, nua e crua de vergonha. O cafajeste devia estar dizendo habilmente mentiras em sua boca adocicada pelo seu perfume. Ela levantou-se ainda sem equilíbrio, os cabelos confusos em espirais, os pés tontos de encontro às roupas. Pelo menos ele havia pago o alojamento, ela até poderia passar a noite longe de seu quarto alugado em Corleone. Mas vestiu-se e deixou o lugar, pelo menos isto podia deixar. Já que ao cafajeste ninguém abandona. E quando finalmente o céu a tinha sob custódia, maldisse a tia, a lua, os deuses todos, encolhida no casaco carmim. Tinha raiva desta sina feminina que procurava o amor em qualquer esquina, e que ao mesmo tempo desculpava os homens que partiam incólumes a sua vida. Dizia a si que nunca mais com aquele estrangeiro, mas sabia que a solidão voltava... e não só voltava como nunca a abandonou.
Para quem é chato como eu
Eu detesto passas, frutas cristalizadas e todas aquelas coisas que colocam em um panetone e durante muito tempo tive o trabalho de tirar pacientemente como quem vai comer melancia aquelas porcarias todas. Acontece que para minha sincera alegria inventaram o chocotone que cada espacinho é agora substituído por... um espacinho vazio com uma pincelada de chocolate. Os melhores, os bem servidos são o olho da cara, portanto para aquelas pessoas chatas (e pobres hahaha) como eu, vai a dica: comprar um chocotone de uma marca barata e rechear com o que a imaginação pedir. Meu natal tá salvo!! Thanks google.
Faça um buraco no panetone e voilà asas e calorias à imaginação |
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Com o famoso brigadeiro |
Recheado com mousse de maracujá |
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