sábado, 29 de dezembro de 2012

Com que roupa eu vou?


Aqui há uma tradição sobre a cor da roupa do ano novo. Acredita-se que conforme a cor estaremos atraindo as energias boas desta para o ano que começa. Algumas vezes entrei à meia noite de vestido rosa, calcinha branca e sutiã amarelo. Mas em Portugal isto deixou de fazer sentido, tanto que passei algumas vezes de preto. A cor não tem nada a ver com o que teremos, mas ao menos alegra. 
Vamos passar os três sozinhos desta vez, já que no natal minha mãe e padrasto fizeram questão de vir. Não sei ainda que roupa vou por, até tinha vontade de por aquele vestido que anda ansioso para estrear, mas que por hora não me serve. Então se não é ele pode ser qualquer um. 
Agora quanto ao ânimo, espero que mude nos próximos dias. Temos andado tão além do tempo que às vezes tenho de perguntar quantos dias faltam, porque parece que ainda falta tanto e sempre me surpreendo quando dizem que está aí no início da próxima semana. Então, esperança, meus amigos. Que não lhes falte e a mim também. Porque quem a perde, perde tudo. Independente da cor, a vida tem de ter alguma. E a propósito: alguma coisa verde, até um galho da árvore de natal serve (se tiverem uma).

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Coisas que fazem pensar

"Como está hoje?" é a saudação que eu mesma escrevi no celular. A cada vez que o Fabian o derruba no chão, lá tenho de juntar as peças, achar a bateria, encaixar novamente e lá se acende a frase de sempre. Às vezes respondo, às vezes acho que é muito bobo estar a falar com o celular e não através dele com alguém. A verdade é que pus esta frase para me perguntar constantemente sobre mim. Afinal como estou hoje? Como estou agora? Nem sempre por mais que falemos ou que deixemos que certos assuntos repousem sobre o silêncio, deixa de existir uma necessidade de que se ouça diariamente tal pergunta. Há dias em que a necessidade é maior. Hoje é o dia.
Como estou hoje? Caro celular, tenho pensado muito sobre isto e ainda não cheguei a uma conclusão se ando bem, aborrecida, feliz, com raiva, conformada, revoltada ou uma mistura disto tudo. Tenho pensado muito sobre a vida, sobre como as coisas tem acontecido até então. Na minha conceção as coisas acontecem quando tem que acontecer, tudo tem hora certa e a vida é um misto de nossas escolhas e outras situações que estão para além disto. Há quase oito meses sofremos uma reviravolta. Tive de tomar decisões rápidas e tomei o rumo de volta para o Brasil. Meu avô sempre me disse que se alguma coisa não desse certo em Portugal, que eu poderia voltar tranquila que ele estaria aqui de braços abertos para me receber. Mas ele não estava. E na verdade este é um caminho para percorrer-se sozinho, até mesmo para que cada um escolha os motivos pelos quais uma mudança destas possa fazer sentido. 
Na minha modesta opinião a mudança é lenta. Desconfio firmemente de quem diz que foi fácil. Não é apenas um pedaço de terra que se muda sob os pés, nem de um punhado de gente ou clima. Mudança é mais do que isto. Temos de escolher que parte de nós devemos levar. E a parte que fica dói, deixa um vazio. Luta ferozmente para se encaixar ao passado. E enquanto não consegue, arranha. Sangra. E chora. E a nós falta-nos a coragem para mover-nos, para dar adeus. 
Não, a mudança para mim ainda não se completou, ela ainda acontece embaixo dos meus poros, esconde-se em pensamentos derrotistas. Ainda clamo pela mudança, que ela me leve, que ela me lave, que deixe-me leve.  Eu que ando carregando o peso das minhas expetativas nas costas, que ainda enfureço-me selvagem perante a inexistência de um recomeço. Mudamos de país, mas estranhamente permanecemos no limbo. A mudança em si não aconteceu. Não há casa, não há emprego, nem escola, nem independência financeira. E perguntas-me como estou hoje? Estou assim, a modos que não sei bem como me sinto. Talvez frustrada e com medo de que toda estrada tenha sido em vão.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Domingo de chuva

Maria olhou para o filho. Olhou para os ombros e as mãos sujas a carregar alguns bocados de papelão. Ele nada dizia. Mas o silêncio, este gritava. Há tempos queria sentar-se e dizer a história sobre o seu pai. O menino nunca perguntou nada, mas achava que deveria saber. Pouca coisa além de um nome e de uma data. Já sequer lembrava do rosto, mas desconfiava de que lhe havia puxado os olhos. Escuros e profundos. O filho remexia no lixo deixado depois do natal pelas famílias de classe média, algum pedaço de carne, algum queijo fora da validade, pedaços de pão velho. Às vezes parava e olhava pelos carros a fecharem os vidros alguém a rir e divertir-se, crianças a brincar com o presente recebido no dia anterior. Aquilo era pior que a fome. Estar a observar o filho diante de uma realidade que não pôde lhe oferecer em nenhum momento. O sorriso dos outros nada tinham a ver com a falta do seu. Mesmo assim tinha raiva. Parou por instantes ao constatar que um dos vidros abria e de lá saia uma mão pequenina a soprar. O filho olhava consternado, mas sorriu palidamente. Chovia bolas de sabão. E eles viram-se rodeado delas, leves e frágeis a estourarem pelo ar e pela garoa daquela manhã. Em um movimento viu a mão escura do filho agarrar a bola, por aqueles segundos foi novamente criança. Mas o sinal abriu, os carros se foram e outros vieram. E ele seguiu  no seu silêncio, a abrir e fechar um saco plástico de cada vez.

Pensar no futuro do filho é...

desde já ensinar-lhe a jogar futebol. E é isto que um pai preocupado faz. Segundo ele, se jogar o que o pai jogava quando novo, já daria uma aposentadoria boa para nós. lol
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