quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Coisas que não sei como alguém acredita

Creme de baba de caracol 



Quando estava em Portugal e assistia a Record (shame on me) via esta propaganda a cada cinco minutos literalmente. Aliás, acho que esta emissora só tem dez comerciais que ficam rodando o dia inteiro. O que tem de tão imbecil neste creme? Pode ajudar a tirar manchas e cicatrizes? Não sei. Mas que é no mínimo suspeito mostrarem as fotos de antes e depois com a pessoa parecendo que foi acordada depois de um porre e a outra foto toda photoshopada, com a pele de louça.  Fica no ar como consegue-se por 50 euros livrar-se de um lábio leporino, inclusive com o rebaixamento da pele, coisa que acho eu só com cirurgia ou edição fotográfica.

Cintas modeladoras


Já repararam que as modelos que fazem propaganda são sempre magras, com tudo no lugar e quando colocam estas cintas até parecem que respiram? Isto dá-nos a ideia de que também poderíamos respirar se a comprássemos em 10 vezes sem juros. Só que não. Desconfiem se disserem que diminuímos dois números do manequim porque se estivermos mais que três quilos a mais de barriga, aquilo dá um resultado parecido com um chouriço: sobram gorduras para cima, para os braços, para as ancas e para a bunda. Aquilo não é milagroso minha gente, aquilo só espalha a gordura, não faz desaparecê-la. 
Plataforma Vibratória


Eu tenho e é simplesmente maravilhosa! No entanto o problema está em colocarem homens e mulheres musculosos a dizerem que bastam dez minutos diários para ficarem como eles. A plataforma ajuda, mas por favor, treinos diários de duas a três horas e mais pílulas e shakes de proteínas fazem os 70% daquele resultado. Gordinhos como eu não ficam sarados por se empoleirar e chacoalhar as gordurinhas, se não fizerem exercícios aeróbicos aquilo não vai ao lugar. E aí que mora desilusão, as pessoas ficam frustradas e a transformam no novo cabide da sala, ao lado da ergométrica.

Desodorante


Rexona, não te abandona. Até por ali. Claro que o cheirinho de cc vai depender de cada um, uns suam mais outros menos, vai depender também das atividades, se são esportistas ou sedentários e claro, do clima. Mas de maneira nenhuma um desodorante nos deixam ok por mais de 24 horas. Tem uns que dizem 48 horas. Oba, dá para dormir no namorado, tomar banho que ainda está tudo bem? Nã! No máximo deixam um "fedegume" (fedor com perfume) ou uma asa florida, porque aquele frescor inicial de depois de uma ducha, vai se esvaindo conforme suamos e não há qualquer vergonha nisto: é a nossa natureza. Temos é de nos munir de lencinhos de bebê e de um roll-on com o mesmo cuidado que temos para que não falte um gloss na bolsa.

Trabalhar em casa por um salário de 10 mil


E estava eu distraidamente a navegar na net e pulam mensagens de "trabalhe em casa por 10 mil reais".  Quando a esmola é demais o santo desconfia. Fui ver o que era, temos de preencher formulários e quanto mais fizermos, teoricamente mais ganhamos. Ah é fácil, posso fazer isto! Mas...primeiro temos de comprar dois livros que nos "ensinam" como preencher formulários. Bah, mas não é tão simples, precisa-se mesmo de livros para isto?? Ah não se incomodem, são 40 reais que já podemos recuperar com o primeiro salário. E que dizer? Como alguém ainda acredita nisto? Se é muito difícil alguém ganhar 10 mil mesmo com mestrado e doutorado, como alguém "preenchedor" de formulários vai conseguir? Talvez eu seja muito crítica e desconfiada, ou talvez haja por aí muita gente inocente para acreditar em coelhinho da páscoa e papai noel.


terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Reticências da vida


Te amo

Lembro-me da música "Eu preciso dizer que te amo" quando quero falar um sonoro te amo. Não consigo dizer assim ao léu por qualquer coisa, por qualquer pessoa. As minhas primas e até algumas amigas que já tive tinham esta mania de dizer que (me) amavam. Para mim parece um sacrilégio usar estas palavrinhas na banalidade. Não uso, além de dirigir ao marido e às vezes ao filho, ninguém ouve de minha boca ou de meus dedos a não ser o singelo "gosto".  Porque amar é muito forte e quem me conhece sabe que amo  poucos, mas com grande intensidade, é verdade.


segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

O velho

Sacudiu o jornal e pigarreou. Fazia isto muitas vezes. Era um gesto em conjunto, o ato de sacudir as folhas, o barulho do papel a roçar no outro, o cheiro do impresso nas narinas e por fim, o pigarro. Não sabia o porquê de ter de fazê-lo. Se era a tinta que lhe incomodava ou os olhos que lacrimejavam ao antever a poeira do jornal. Sentava-se sempre à mesma mesa, pedia sempre a mesma coisa. Uma água com gás e uma empada de frango. A empregada com ar muito enfadado não lembrava-se ou fingia não lembrar de seu pedido frequente. Sempre perguntava-lhe se queria um café. Aliás, a sua relação com o café era um bocado estranha. Amava-lhe o perfume que ficava no ar, gostava do som das últimas gotas a cair para a xícara, mas odiava o gosto. Era como lhe tirar o encanto, como comer morangos depois de sorvete de morango. Perdia toda a graça. 
Olhou para o vidro à sua direita. Via as pessoas a andarem encolhidas pelo frio e pela chuva. Não era raro alguém entrar e pedir alguma coisa que fosse, pelo simples fato de ficar protegido até o pior passar. A chuva abrandava e eles armavam os guarda chuvas, as capas e partiam. Porém desta vez a chuva estava lânguida e distraidamente jogava-se nas pedras da calçada, no asfalto, nos carros. Beijava os postes mal iluminados e a mochila de alguns desavisados. Pouca gente entrou em busca de abrigo. Olhou para os lados e viu as mesas quase todas vazias a não ser por um jovem casal a trocar sorrisos e cochichos e uma senhora muito muito velha que bebericava um chá com metade da torta inacabada há duas horas.  
Queria não pensar, mas aqueles dias de chuva lhe traziam o fantasma dela. A mulher que deixou para poder seguir sua vida tão repleta de gozo material mas nenhum amor. Casou-se, teve três filhos, mas jamais fora tocado por este sentimento arrebatador do que quando jovem. Vinham à baila as sombras, os risos e os cabelos castanhos. E por mais que aqueles dias tenham ficado no passado, nunca vieram tão vivos e em cores como nos últimos anos. Devia ser da viuvez. Ou do afastamento dos filhos que sempre o acusaram de não ter sido mais presente. Agora eram eles a domar suas vidas, desta vez com seus próprios filhos. Agora eram eles a partir para mais uma dança junto aos seus outros fantasmas.
Não soube nada dela, além daquela festa, do vestido cor de pérola a lhe avivar a cintura de ampulheta. No entanto acordava e adormecia com aquela imagem, tanto que optava por sair, ver outras gentes, participar um pouco do mundo. E talvez seja por isto que agarrava o jornal como um náufrago avistava a esperança. E a cada pigarro, um suspiro por não estar ainda de volta aquele fatídico baile. Aquela única vez em que fora feliz.
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