Ando sem vontade para ver os mortos. Faz tempo... Não quero que me visitem, não quero que me apareçam na frente da cama, não quero que me venham tirar à força do corpo. O corpo é meu e eu saio quando quiser! Entenderam?
Sou cagona, extremamente cagona para estas coisas e preferia não ver nadica. Em Portugal acontecia muito de acordar de madrugada e ver alguém no quarto a olhar para mim. Outra vez tive mesmo de gritar e acordar o marido, pois tinha uma velha em cima dele a lhe puxar os fluídos vitais pelo nariz. O marido quase tinha um ataque cardíaco quando fazia destas, mas ficava completamente apavorada e esta era a minha reação mais rápida.
Lembro-me de uma vez há uns dez anos atrás estar dormindo na casa da minha vó, no quarto que pertenceu a minha tia. Detestava dormir ali, tinha sempre medo. Às vezes eu ia de travesseiro e tudo e pedia para o meu vô dormir lá e ficava dormindo com a vó. Cansei de fazer isto. A minha mãe pirava quando até os 12 anos ia dormir no chão do quarto dela se acordava no meio da noite. Pois então estava lá dormindo e de repente acordo-me com a intenção de me virar e quando abro os olhos dou de cara com um homem a me olhar. Fiquei sem reação. Nem sei como não me caguei toda. Ele me olhava e não desaparecia quando piscava os olhos na tentativa de me convencer de que não passava da minha imaginação. Ele estava sentado ao meu lado, literalmente ajoelhado sobre mim, com o rosto muito muito perto. Tinha olhos azuis, mas como eu poderia saber se estava escuro? Não sei, mas tinha e era branco com o cabelo castanho claro. E estava nu, ou pelo menos com o dorso nu. E me olhava com curiosidade, com calma. Não tentou dizer nada, apenas olhava e tinha até olhos serenos. Devo ter pensado em milhonésimos de segundos "o que tu quer de mim". Antes de sair correndo para o quarto e obrigar o vô a dormir naquele quarto. Depois falando com uma amiga que partilha das mesmas crenças espíritas, ela solta um palpite: acho que era o teu filho. Geralmente visitamos os nossos futuros pais antes de encarnar, mesmo que na Terra pareça que faltasse muito, uma década, o tempo no mundo espiritual é vivido de forma diferente. Pode ser que tenha sido, até recordo-me de um sonho quando ainda estava grávida em que um jovem me pedia para chamá-lo de Adrian porque era o seu nome e não de Fabian como eu pensava e de fato coloquei no meu filho. Enfim...há muitas coisas entre o céu e a Terra, se há.