sexta-feira, 5 de abril de 2013

Eu quero

Quero uma casa. Tem de ser de pedra, bem junto ao chão, para que possa fazer peso e não se vá como a outra. Quero uma casa com um quintal, para que veja o menino a correr do cão e vice-versa. Quero um pouco de terra, um pouco de chão. Quero roupa nos varais, quero cortinas delicadas nas janelas da cozinha para que possa ver quando tu chegares. Quero uma casa com sala grande, para que sobre sempre espaço a bagunça que ele fizer e que tu tão complascentemente arrumará depois. Quero um quarto para nós, nosso, que ninguém invada sem bater, nosso território de amor e de paz. Quero uma casa com paredes grossas para que o amor permaneça ali dentro e para que nada e nenhuma tormenta derrube nossos sonhos. Pode ser velha e simples, não preciso de luxo para ser feliz. Mas que seja forte, e que me proteja do medo, porque uma casa não é só de pedra, viga e madeira. Uma casa, a que um dia será a nossa casa, é antes de tudo nosso lar. Haverá dias em que o mundo cairá e serão dias de tristeza, de provação, mas saberás que ao simples fechar da porta, estarás em casa. Eu quero uma casa, quero voltar a sentir-me em casa. É só o que quero.

  

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Já posso requerer cidadania cigana?

Ora vejamos...
- Em um ano mudei-me seis vezes
- Já vendi coisas assim de poucos êros e só não vendi a mãe porque acho que ninguém seria louco o suficiente para comprar
- Tenho uma família numerosa, chata demais, tenho gente que gosta de estar sempre aos berros, de escutar música alta e também tem quem adora um forróbodó.
- Já fiquei meses a fio sem cortar o cabelo
- Quase sempre estou sem maquiagem e sem saltos
- Não leio mãos mas interpreto sonhos, vale?
- Sei rogar praga como ninguém
- Danço a Sandra Rosa Madalena há muitos anos
- Tenho o sentimento de que não importa mais ninguém neste mundo a não ser minha família (marido e filho pode ser?) e o resto mando à merda assim, sem nenhuma apoquentação na consciência.
- Se nada der certo vou para França viver de subsídios
Boa? Já posso? Onde faço o requerimento??


quarta-feira, 3 de abril de 2013

Odeio ser mãe anônimas

Está criado o cantinho para as meninas que quiserem falar sobre as suas dificuldades sentirem-se à vontade para desabafar. Será um blog diferente, cada comentário sobre sua história de vida será publicado em anônimo, obviamente, e a pessoa decidirá se aceita ou não comentários sob o seu post.

A sina das mulheres

A sina das mulheres é esperar. Esperar que os homens voltem, que as guerras acabem, que o sol nasça e se torne a por. Esperar os filhos em suas entranhas e depois, já aqui fora, que cresçam, que se tornem homens para partir ou mulheres para ficar. Mulheres são feitas de terra, sabem colher e acolher. Sabem que tudo passa, e afinal a terra permanece. Aceita. Absorve tanto a água quanto o sangue. Recebe tanto o corpo do inimigo quanto daqueles que aprendeu a amar. Já o homem é vento, é minuano. Tempestade enlouquecida. Bradam aos quatro cantos, passam, semeiam e vão embora. Esta é a sina das mulheres...esperar, como eu espero que um dia o meu homem volte. Ou me leve para junto dele. Que Ana Karenina o que, Ana Terra, Maria Valéria e Bibiana Terra, as personagens mais bem construídas que já vi (li), peritas na arte de esperar, viver e amar. 

Inspirado sem pudores daqui:
" E de novo Ana Terra começou a esperar...Esperava notícias da guerra: esperava a volta do filho. Se era dia, desejava que caísse a noite, porque dormindo esquecia a espera. Se era noite, queria que um novo dia viesse, mais cedo o filho voltaria para casa. Muitas vezes até em sonhos Ana se surpreendia a esperar, agoniada, vendo de longe no horizonte vultos de cavaleiros entre os quais ela sabia que estava Pedrinho - mas por mais que seus cavalos galopassem eles nunca chegavam."

O Continente de Érico veríssimo.
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