sexta-feira, 12 de abril de 2013

Porque o pai nos faz falta


Talvez por ter tido um pai que foi apenas o progenitor biológico, que a primeira coisa que me vinha à cabeça quando pensava em namorar, era imaginar como seria se o rapaz fosse pai. O marido foi de certa forma o pai que escolhi não só ao meu futuro filho, mas a mim. O Fernando foi daquele tipo de pai que pegou junto sem preguiça desde o primeiro dia. Aquele tipo que segurou as pontas e dividiu-se quase literalmente em dois, ao acalmar um recém nascido em ataque de cólicas e a mãe que vomitava e se cagava com reação aos antibióticos. Ele foi aquele tipo de pai, que mesmo não tendo direito à licença paternidade (tirou apenas 2 dias de férias), levantava todas as noites, e confesso que até na maioria das vezes foi quem atendeu o Fabian nos meses que se seguiram. Dar banho e trocar fraldas é o nível básico no percurso de ser pai. Nível intermédio é fazer papas, brincar sentado ao chão ao invés de por somente desenhos e nível avançado: acordar à noite, atender as birras quando a mãe já está estressada o bastante e só pioraria a situação. 
Este tipo de pai é aquele que inventa histórias, que canta e embala. Este tipo é o que leva à praia mesmo detestando, o que entra na água fria de Cascais apenas para satisfazer a curiosidade de pézinhos fofos. É o tipo que dá comida na boca, que faz cócegas, que ajuda a fazer bagunça. É do tipo que chega louco de saudades quando vem do trabalho e a segunda coisa que faz ( a primeira é o café) é pegar ao colo e ficar sentado horas com o filho nos braços, só pela vontade de sentir a sua cria. 
Este tipo de pai é aquele mais calejado, que já passou por muita coisa e tem saudade também pelo que deixou de fazer quando fora pai pelas primeiras vezes. Era este tipo de pai que precisava. Um pai com paciência e boa vontade, um que soubesse dizer não, mas também dar o colo tão necessário. Não tenho dúvidas que muitas, mas muitas vezes, nos momentos em que não consegui dar amor ao meu filho, o pai fez-se de pai e mãe. Não vou dizer que é o melhor pai do mundo porque acho que isto é um tanto quanto ridículo, cada um sabe o pai que tem em casa e deve haver por aí muitos pais com P maiúsculo. Mas simplesmente era este o tipo de pai que sonhei e  o Fabian um dia saberá o quanto foi acertada a escolha da mãe.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Isto de nomes

Ah a história dos nomes tem muito pano para manga, por exemplo, não gosto daqueles pais que dão os mesmos nomes para os filhos, que acabam por Fulano Filho ou Júnior. O que já se sabe é que o tal fulano será sempre chamado não pelo nome, mas pelo seu diminutivo: assim Paulo o pai e Paulinho o filho. Mariano e Marianinho (exemplo da minha família). Isto dá-me uma enorme má vontade, parece aquela história dos gêmeos em que as personalidades ficam difusas em roupas da mesma cor. Neste caso, a impressão é ainda pior porque remete à ideia de legado, de esperar que o filho carregue não somente o nome, mas a personalidade paterna e principalmente as suas qualidades. 
Outra coisa que me faz confusão é colocarem um nome e nunca o utilizarem porque preferem o apelido (em Portugal, alcunha). Dou um exemplo: tinha um conhecido português que era casado com uma brasileira, o nome do filho era Carlos Henrique, no entanto sempre, sempre mesmo, o chamavam de Kaíque. Perguntei porque não haviam posto Kaíque no menino, ao que me respondeu, veja bem, uma coisa é chegar na casa dos pais da namorada e dizer que se chama Kaíque e outra bem diferente é dizer que é na verdade Carlos Henrique. Putz, nem argumentei, melhor deixar para lá. Sério isto? Se tem tanto preconceito com o nome, talvez com aspeto brasileiro, então que chamassem de Carlos ou de Henrique.
Outra coisa que me irrita são as combinações, aquelas que não tem nada a ver, que combinam dois nomes muito fortes ou muito compridos, tais como Guilherme Francisco, Alexandre Daniel, Carolina Madalena, Sofia Gabriela. É ridículo porque só serve para contentar os dois pais ou seja lá quem bateu o pé para que se colocasse o nome no pobre do bebê. Mentira, também serve para personagens de novelas mexicanas e para saber se a mãe está falando mesmo sério. Se gritar Fernando Ricardo já sabem, vão correndo para casa que aí vem bronca. Os portugueses falavam muito dos nomes brasileiros (e com razão), no entanto, nada melhor que olhar para as listas de chamada e ver a imaginação do povo com as combinações de gosto duvidoso que eles fazem. 
Depois tem nomes que "caem" melhor nos ouvidos do que outros, não apenas por uma questão de familiaridade, como também da época em que vivemos. Tenho pena de quem se chame Maísa, Mafalda, Aloísio, Soraia. Soraia é triste porra...lembra mesmo uma vilã mexicana. 
E por fim, destesto pais que não tem o cuidado de conciliar o nome com o sobrenome, criando desta forma aliterações e casos um pouco vergonhosos. Tive um colega que era Gabriel Gabbardo, outro era Rodrigo Endrigo, uma atriz conhecida chama-se Thayla Ayala. Uma vez vi uma reportagem que os pais lutavam na justiça para porem o nome da filha de Amora Motta (em Minas Gerais, marmota é sinônimo de pessoa panca das ideias, meio burrinha). 
Não sei se mais tarde o Fabian vai gostar ou não do nome que demos, mas foi um nome que sempre esteve presente desde que namorávamos e não pensei em outro, mesmo que em Portugal não deixassem registrá-lo. Se ele reclamar, vou dizer o que o funcionário do cartório falou ao meu marido: porque não chamá-lo de Fabião? Ohh céus, ele vai me agradecer por ter deixado meio à francesa o seu nome.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Facebookeando


Bolinho de arroz

- Pshiu. A mãe disse que não era para falar.
- Não era para falar o que? - pergunta a mais nova.
- Que o Tonico morreu.
- Ah. Mas ela não sabe?
- Saber, sabe. Viu ele.
- Viu?
- Viu. Todo de branco e cheio de flores.
- Mas se viu porque não pode falar?
- É para não lembrar. Cada vez que se lembra chora que só ela.
- Então e o que dizemos? - Aprumou a saia florida e pôs cuidadosamente as sobras de tecido para baixo das pernas.
- Qualquer coisa. Ou talvez nada.
- Acho que é melhor não dizer nada.
- Isto.
-Olá, Martina, olá Maria.
- Olá. Respondem as meninas em  uníssono.
- O que querem para o almoço? - a empregada coloca o avental e dirige-se à sala novamente.
- Quem sabe bolinho de arroz? - diz a mais nova.
A mulher estanca e com os olhos sem vida pára em direção à janela. O reflexo do vidro desenha seu nariz largo e negro. Os lábios amarronzados se entreabrem e começa a balbuciar - ele...ele...- não termina a frase e lágrimas grossas rolam pela sua cara de cera.
As meninas ficam por segundos a olharem-se e depois fogem para o quarto. A mais velha muito enraivecida:
- Está satisfeita agora? O que a mãe disse?
- Mas...eu não falei nada...
- Não lembra, o Tonico que gostava de bolinho de arroz. Agora a mãe vai ficar braba. Quero só ver se ela vai contar e vai sim. Agora é tua vez de ficar sem sobremesa.
A mais nova cala, calou durante todo o almoço. Era o morto que não lhe saía da cabeça, assim como também não lhe saía a ideia de que os bolinhos estavam salgados demais...
Web Statistics