quinta-feira, 9 de maio de 2013

Tenho saudades


Tenho saudades daqueles passeios que dávamos aos finais de semana, mesmo quando não tínhamos carro íamos quase sempre que tivesse tempo bom. Andávamos pelas ruas tortas e quase desertas de Lisboa, pelo Chiado, pelas casas de portas pequeninas e ceroulas balançando ao vento. Andávamos de mãos dadas, um puxando o outro, o outro puxando o um. As vezes tropeçando pelas pedras e lembro em muitas ter me valido teu braço forte quando ao invés de folgadas as pedras se tornavam zombeteiras e escorregadias. Olhamos as vitrinis, perturbamos as pombas, corremos atrás de estátuas e certa vez ficamos (não, fiquei) fã de uma torrada que se fazia em uma tasca. E lá como somos pessoas de hábitos íamos sempre sentar à mesma mesa e pedir a mesma coisa com um suco de laranja. Ficávamos a observar cães passarem, assim como as conversas alheias e ríamos a olhar um para a cara de espanto do outro. Sim, lembra daquela senhora e do neto a elogiarem os óculos de um tal de António, ou seja lá como se chamava o pobre iludido do homem? Ó mas com estes óculos é que se vê mesmo bem! Dizia o rapaz que sequer precisaria de um. E toca o seu António a pagar a companhia o consumo das duas criaturas que fingiam pior do que uma criança de dois anos. 
Depois continuávamos à pé a descida até o Cais do Sodré, passávamos pela loja de animais, o que sempre rendia uns "óinnn que fofo", viu aquele? E aquele? Sim, eu também lembro que algumas vezes insistias para atravessarmos a rua antes, ao que só me sentia menos triste por não ter de suportar o fedor de peixe ao lado da loja. Chegávamos e seguíamos a viagem de meia hora até o Estoril. Eu sentava à janela para ver o mar e as pessoas caminhando no paredão. Tu apertavas a minha mão e a beijava com os nossos dedos entrelaçados e assim víamos o pôr do sol, com pena de ter de voltar a nossa casa. Sim, quando ainda tínhamos casa. Éramos muito felizes e sabíamos.

Gosto muito

Pois é, como já disse acho pouca graça no frio que se aproxima, aliás faz três dias que descemos para mínimas de 5º, mas de uma coisa eu gosto: o retorno dos sapatos mary jane. Sou completamente apaixonada por este estilo, já tive um na cor caramelo que usei até ficar beeem gasto. Tenho um em  plataforma, mas tenho usado pouquíssimo salto desde que voltei a engordar. Ainda tenho um em preto com salto mais fino, social, porém usei apenas duas vezes. Não me dou bem com saltos assim, acho que devia comprar uma almofada de silicone para não doer tanto quando tirar, é que aquilo parece que fica pegando fogo! Será só comigo?








quarta-feira, 8 de maio de 2013

Acabou

Pois é, acabou finalmente a adaptação do Fabian! Aleluia!




terça-feira, 7 de maio de 2013

A ironia da vida

Alguns dias atrás o marido viu um documentário e insistia diariamente para que eu visse também. Confesso que à noite quando sento para escrever, fico bailando de blog em blog e quando vejo já é quase meia noite e tenho que dormir. Pois bem, ontem foi o dia marido! 
Imagine um homem de origem latina que fosse descoberto nos anos 70 em um bar sujo e decadente de Detroit por dois caçadores de talentos de uma gravadora. É aí que a história começa, Rodriguez, compõe e canta de maneira sofrida, conta da vida nas ruas de uma cidade fria, de casas abandonadas e sorrisos gelados. Gravou dois cds mas não obteve qualquer sucesso e desistiu de cantar. Continuou sua vida modesta e o trabalho na demolição e construção de casas, completamente alheio ao que se passava do outro lado do oceano. 
Por acaso, uma jovem ao visitar seu namorado americano gravou uma fita com o primeiro cd de Rodriguez: Cold Fact. E não se sabe exatamente como, mas de regravação em regravação, a obra tornou-se um sucesso. Em uma sociedade onde reinava o apartheid e a sensura, uma música que falava de sexo, revolta e de mudança social, caiu como uma luva para jovens sul africanos. 
O filme gira em torno da busca pelo artista o qual sabiam apenas o nome "Rodriguez" e a foto de um hippie com traços de índio nativo-americano e óculos escuros. Por muito tempo pairou o mistério sobre quem era, o que havia sido feito dele, até que com a revolução informática, os mundos se encontram. Bem, e é espetacular contar ao homem de vida simplória que ele era e é mais popular que  Elvis Presley. Que seus cds até hoje são vendidos e que teria direito a pelo menos cinco discos de ouro. 
A vida é mesmo irônica...depois de tantos anos a achar que fora em vão perseguir aquele sonho, quando finalmente põe-se totalmente de lado qualquer tentativa de sucesso, há milhares de quilômetros, suas músicas inspiraram uma geração inteira a ir contra o regime de extrema direita* e de segregação racial. Simplesmente bárbaro, não é todos os dias que se vê uma história real tão tocante quanto esta.

* erro corrigido, comunista eram os meios televisivos, daí mais um motivo para a censura.
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