domingo, 12 de maio de 2013

O amor antigamente



Não consigo imaginar como seria ser um apaixonado no tempo que ainda não havia internet, nem email, nem webcam, nem skype, nem facebook. Imagino a eternidade com que se esperava uma carta, às vezes com muita sorte uma foto em preto e branco com o amado em ar sisudo. Isto os que tinham o privilégio de uma foto, pois houve tempo em que era coisa de  gente rica. Aos que não tinham, imagino o desespero ao aperceber-se que os traços iam aos poucos se desvanecendo da memória, já não lembravam do formato do nariz, das covinhas quando sorria, nem do jeito como entrelaçava os dedos ao sentar. E sem telefone não lembravam da voz, ou achavam que sim, mas a voz é uma das primeiras coisas a ir. Lembravam e muito da forma como o corpo respondia a ela, assim como respondia agora quando evocavam em vão sua memória. 
Amores separados por quilômetros de terra, de guerra, de água salgada. Água esta que lhes escorriam da cara quando perguntavam-se estaria vivo? O que estaria fazendo naquele momento? Já a teria esquecido? E muitas vezes sim, sabia-se de amores que acabavam porque o fulano fez um filho na fulana, casaram-se, deixando o outro lado só, ainda à espera de notícias. Até que os meses se fizeram anos, até que o coração deixasse de palpitar a cada vez que o correio chegava. 
Não imagino uma ponta desta dor que é a espera, a obcessão por planejar o reencontro enquanto procura-se o sono, que vem por cansaço, e também porque é uma forma breve e etérea de uma possível realização deste desejo. Não imagino o que é tecer planos sem saber ao certo se já estão condenados ao fracasso, porque do outro lado da vida o amor a espera. Não imagino o que é não poder dizer te amo todos os dias a quem está muito longe para o alcance da minha voz. E se é certo que muitos amores resistiram à distância, a dor com que foi cingido tornou-o forte. Como uma espada forjada a duros golpes, cuja lâmina fina atravessou de uma só vez dois corações para todo o sempre. Meu amor é digital, bem o sei, mas espero ter um pouquinho da força de um amor antigo. A força de um coração antigo que todos os dias morre e renasce na angústia desta espera.

Vão catar coquinho meus irmãos



Queria deixar claro uma coisa: todo mundo tem direito de acreditar no que quiser (até em fadinhas e duendes), quando quiser, da maneira que quiser. Quer acordar às cinco da matina para rezar o terço? Acorda. Quer ir todas as noites no culto do descarrego? Descarrega. Quer fazer batuque no sábado? Faça. Quer ir na missa, nos encontros das testemunhas de Jeová, no Santo Daime? Vão meus irmãos, vão na fé. Não tenho absolutamente nada a ver com isto. Agora não me batam na porta em um sábado de manhã. Muito menos em grupo. Quem quer saber da palavra do Senhor que vá procurá-lo, aliás pode ser até no silêncio da sua própria cama, pois que ele está em todo lugar, não é? Se querem respeito, respeitem antes de tudo a fé ou falta de fé dos outros. Aceitem que a vida é assim, não sejam tão intransigentes com as escolhas dos vossos irmãos. Porque afinal de contas somos todos farinha do mesmo saco. Se nada der certo, vão caçar um serviço, que só rezar é coisa de bunda mole (com todo o respeito).

Que chatos!

Ativei a moderação de comentários porque ando sendo bombardeada com comentários spam, todos americanos, propaganda para outros blogs e sites, etc. Como faço para voltar a ter paz???


sábado, 11 de maio de 2013

E é dia das mães



Neste domingo se comemora o dia das mães no Brasil, tinha até esquecido disto quando combinei um encontro com uma amiga durante à tarde. E só me dei conta quando ela pediu para transferir para uma hora depois, já que os almoços se estendem um pouco em dia de comemorações. É assim, não vou ser hipócrita e  escrever tudo aquilo que é de praxe porque aqui todo mundo sabe que falo o que (realmente) penso. E penso que é um dia como os outros, assim como o é o dia dos pais. Não é lá por não falar o tempo todo disto que mudei de opinião, continuo não gostando de ser mãe. Se ganhasse um real a cada vez que vem o pensamento de que se pudesse voltar atrás teria feito um caminho oposto, estava rica. 
Há quem não entenda minimamente quando ouso dizer que a mim não compensa ser mãe. É mais ou menos como fazer dieta durante um ano, correr e se exercitar como se tivesse preparando-se para uma competição de Iron Man e no fim das contas emagreces um quilo. Ah e tal é um quilo, veja bem. Há quem fique muito feliz com um quilo a menos. Há quem sinta-se recompensado pelo seu esforço e por tudo que botou para trás para perseguir um corpo mais magro. Mas também há quem sinta-se frustrado porque seguiu a receita dos outros e perdeu um quilo. Há quem olhe para trás e sinta que não valeu a pena, que há tanta vida que deixou de ser vivida. Que há a morte do sossego, da intimidade, da personalidade. Um minuto de silêncio por favor para o meu "eu" antes de ser mãe. Ele morreu. Quem sabe volte daqui vinte anos.
Compreendo perfeitamente que há quem sinta-se realizada com o papel de mãe. Não é o meu caso. Não acho que compense minha sanidade mental, já disse que o Fabian é um menino hiperativo (não sei se apenas no sentido figurado), consome muito da minha energia. Ele literalmente cansa todos os seus coleguinhas um por um. E também tem uns ataques de loucura diários em que quer atirar coisas, empurrar o carrinho de mão em direção aos cachorros e hoje quebrou a tv de plasma da minha mãe quando bateu-lhe com um balde. Acho tudo muito lindo quando se está longe do filho durante 8 horas e se vê o pequeno, dá banho, o jantar e se põe para dormir. Quero ver passar o dia com uma pestinha destas, sem vida social, sem amigos, sem nada. Hoje o Fabian está frequentando uma creche, mas apenas no turno da tarde e apenas por três horas, visto que tem de dormir antes para depois ir. 
Talvez eu devesse tomar uma atitude quanto ao que sinto, porém por onde começar? Que atitude? Sou da opinião que sentimos inconscientemente, não é uma escolha de vida detestar a minha realidade. Será que se eu repetir um mantra que "adoro ser mãe" quatro horas por dia resolve? 
Sempre gabei-me de ser uma pessoa responsável e assim tenho sido, cuido, dou limites, dou umas palmadas quando tem de ser, conto história e vou a piqueniques. Mas não consigo mudar o que sinto, apesar de me esforçar por fazer o que se espera de mim. Sinto-me inclusive culpada por ter o que algumas pessoas desejam e juro que se pudesse, se existisse uma compensação no universo em que a minha vez de ter filho pudesse ser repassada para um casal que sonhasse ter, faria de bom coração esta escolha. Mas não é possível nem isto, nem voltar no tempo, nem passar vinte anos em um piscar de olhos. Portanto hoje a única coisa que desejo é que não me venham com estas merdas de Feliz dia das Mães.
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