Pessoas normais são aquelas que escondem bem sua loucura.
quarta-feira, 22 de maio de 2013
Já estive do outro lado
Sei como é complicado morar na casa dos outros, é chato, andamos pisando em ovos, temos de respeitar as regras dos donos and so on, and so on. E muito do cuidado que tenho hoje é derivado de antes ter sido eu quem cedi a casa para outra pessoa.
O ex marido da minha tia ficou desempregado e quando a notícia caiu nos meus ouvidos, eu e o marido nos olhamos e achamos que podíamos ceder o quarto de hóspedes que naquela época servia apenas para as minhas roupas e a minha esteira. Era um bom espaço, tinha cama de solteiro, televisão, tratei de arrumar lugar para que pusesse suas coisas e perguntamos a ele. O S. ficou quase meio ano morando conosco, mas a convivência foi complicada. Todos os dias deixava o espelho do banheiro completamente respingado de pasta de dente e água. Tomava banho de 20 minutos. Sério, que tive de contar porque era um absurdo sempre que voltava do treino (fazia triatlo amador), o banho não acabava mais. Neste tempo que lá ficou o S. nunca contribuiu com nada, nunca lavou uma louça, passou um aspirador, e claro muito menos ajudou a pagar uma conta que fosse. Obviamente nós não cobrávamos nada, entedíamos que estava passando por uma situação difícil, não só econômica como psicológica. Porém ao mesmo tempo que o S. não tinha dinheiro para dividir as despesas, viajou duas vezes para a Alemanha e outro país que não lembro a fim de participar de competições. O S. também ia a aniversários e levava presente. O S. começou a trabalhar quatro meses depois e continuou a não contribuir com nada. Tivemos algum stress porque eu estava em plena adaptação àquele país e ele por sua vez era todo elogios aos seus amigos portugueses. Não sei porque na época não lhe perguntei quantos destes amigos haviam lhe oferecido a casa quando contou que perdeu o emprego. Pois bem que foi difícil, ter uma pessoa semi-estranha em casa e que não tinha lá grande noção de bom senso. Agora a melhor parte é que quando o marido ficou desempregado e eu voltei para o Brasil, ao saber que ele não tinha onde ficar quando o tempo de aluguel terminasse, jogou com um: tenho um quarto a mais, mas é muito pequeno. E não, nem sequer perguntou se mesmo pequeno o marido não queria ocupar por um mês. O mundo dá muitas e muitas voltas, é verdade. O problema é que as pessoas insistem em ficar paradas, até que um dia puft. Caem. S. um recado para ti: o mundo gira. E nós estamos subindo. Fica a dica.
Olhar o mundo pelo umbigo
Tenho reparado muitas vezes por mim que quanto mais se implica (ou torna-se obcessivo) com uma coisa, mais ela aparece diante de nossos olhos. Na minha opinião a realidade não muda, o que muda é a forma como olhamos para ela. Lembro de olhar nos fóruns de infertilidade e ler continuamente a mesma reclamação de que parece que o mundo está grávido. Eu mesma tinha vezes que chegava a contar cinco grávidas e achava que só eu não conseguia. A julgar pelas notícias, a população está envelhecendo (pasmem mas a do Brasil também), ora algo está errado, se as pesquisas apontam para o lado totalmente oposto porque na minha perceção a realidade tem outra cara?
Um dos fatores que me indispus com a minha cunhada foi o fato de constantemente andar a falar mal dos brasileiros. Olhem bem que admito que não somos um povo particularmente preocupado com a cidadania e admito que há por aí muitos mais que prezam a boa educação. Mas só ver coisas negativas o tempo todo? Porque nunca fala das nossas universidades, dos nossos profissionais, dos nossos escritores, dos nossos músicos? Enfim, só para variar. Até parece que os americanos são um povo assim tudo de bom, que não tem uma alienação geográfica crônica, que são os tipos mais saudáveis, os que acham naturalíssimo uma criança de seis anos portar armas e que se dá na telha brincam de tiro ao alvo nos cinemas e escolas. Ah e para não dizer dos processos mais descabidos que existem, só agora lembro daqueles gordos a culparem o Mc Donalds pela sua obesidade. Dã!
Sabe porque? É que brasileiro trabalhador, honesto, que é educado e não joga lixo no chão não vende notícia. E claro que aí é um pouco de culpa da mídia fazer-nos acreditar que a maioria é assim. O que chama atenção: alguém que vive sem perturbar a ordem ou alguém que fez um escândalo em um avião e foi expulso por mau comportamento? Agora também é da inteligência da pessoa acreditar que todos são uns mau educados e estúpidos, inclusive ela.
A maneira como vemos as coisas vai ditar a realidade que enxergamos, é uma constante, um ciclo. Vejo os brasileiros desta forma, logo valorizo tudo o que confirma as minhas crenças, logo estou correta sobre meu julgamento sobre os brasileiros. E isto é só um exemplo dos muitos que existem sobre extremismos, estereótipos e bitoladas visões de mundo. As pessoas tem a tendência a acreditarem que determinado fato que observam faz parte de uma realidade imutável, concreta. O problema das pessoas, e nisto me incluo, é achar que existe uma realidade concreta. E até existe. Água, céu, mar. Mas a realidade subjetiva abarca tudo e depende dos valores e da experiência de vida de cada um. Esta é aberta a interpretações, daí o meu lema de não haver certo ou errado e sim sentimentos. Para a minha cunhada os brasileiros são realmente as criaturas mais egoístas e hipócritas da face da terra. Para uma infértil não importa o que as pesquisas digam, o mundo está realmente grávido. Para um extremista político a ditadura foi mesmo boa, etc, etc. É compreensível, é humano ver as coisas como se fossem prontas em caixotes. Mas de vez em quando faz bem tirar os olhos do umbigo e perceber a vida com outros olhos...quando saímos de nossa zona de conforto, crescemos.
A ditadura da alface
Sou uma pessoa muito chegada na picanha, afinal sou da terra que nasceu o churrasco, começaria mal se fosse o contrário. Acho que todos temos direito de escolha, sem exceção, e claro que isto inclui os filhos. Talvez por ter tido uma mãe que resolveu que repentinamente iríamos frequentar um restaurante macrobiótico, que me faça alergias quando vejo pais vegetarianos a envergarem a ditadura da alface. Enquanto estão em uma redoma zelados pelos hábitos alimentares paternos tudo bem, afinal o que a língua não prova, o estômago não sente. Mas e depois que vão para a escola e começam a conviver com outras comidas, doces, carnes, frituras e afins? E o pior é que é difícil criança que não goste de bobagens, de batata frita, de bife à milanesa, de bolo de chocolate. Acho errado proibir, saber dosar sim parece-me menos traumatizante. Gostei muito da decisão de uma conhecida que ao tornar-se vegetariana, fez disto uma escolha própria e não quis arrastar junto toda a família. Clap clap calp! O respeito às preferências deve partir de todos os lados, tanto dos vegetarianos quanto dos carnívoros. É por isto que não consigo admitir pais vegetarianos que impõe uma dieta destas para os seus filhos. E sim, caso um dia o Fabian queira seguir por este caminho, darei força, mas ele já sabe que o negócio da mãe dele é e sempre será um bom churrasco.
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