Tenho saudades de Portugal, da minha casinha, do clima, daqueles verões perfeitos de dias de sol após dias de sol. Tenho saudade dos vizinhos, até da voz anasalada da E. e das suas brigas com o seu filho B. Da vizinha estressada da frente, do casal de velhinhos simpáticos de cima. Tenho saudades de morar perto do mar, de vê-lo em tons safira a despejar uma onda após outra, a bater mansamente nas pedras ou a entornar o caldo por cima das barras de proteção. Tenho saudades das pipocas do cinema Lusomundo, como sempre tinham de ser doces e em tamanho médio. Do sorvete Fagoletto sabor arroz doce e coco, do cachorro quente de Cascais de chili com queijo emental. Tenho saudades do sotaque português, do preço acessível ao impulso para roupas e sapatos. Tenho saudades de buscar o Fabian na escolinha e encontrar as educadoras felizes (e cansadas) com uma tabela que me informava quantas vezes ele tinha feito cocô. Tenho saudade de quando os meus problemas se resumiam em cocôs. Do ginásio do ex-fisioculturista Manel (não vou dizer academia desta vez), em que vi derreterem 16 quilos em pouco mais de sete meses. Tenho saudades dos amigos que deixei, da minha amiga S, minha mineirinha, o coração que mais me adoçou neste tempo. Do casal R. e M. que sempre encontravam motivos para tirar estes bruxos de casa. Da festa dos santos populares, das festas de verão de S. Domingos de Rana, dos algodões doce e churros que comi. Da minha coelha Fuinha que me acompanhou nestes quase seis anos, da minha faculdade, de alguns colegas, de ter prazos de estudo. Tenho saudades do Oceanário e do zoô, do zelo geral das pessoas pelas crianças (e claro pelo meu filho). Tenho saudade ao perceber que este ciclo fechou-se e com certeza aprendi muito. Foi em Portugal que tornei-me mulher, que casei-me, que vivi os melhores (e os piores) momentos com o Fernando. Agradeço por tudo, até pelas lições amargas, muitas talvez devido à minha própria inflexibilidade para com a vida...
Pretendo voltar um dia para sentir sem pressa aquele mar, aquela gente, aquele sol sem fim. Espero que este novo ciclo traga-me outros aprendizados, faça-me crescer, evoluir. Depois de Portugal percebo que nada é para sempre, cada vez mais vejo urgência em buscar uma segurança interna, pois que mudam as paisagens, mas esta é a "casa" que nunca deixamos para trás.
Portugal, um até logo, porque adeus ainda me parece definitivo demais.
Portugal, um até logo, porque adeus ainda me parece definitivo demais.