sábado, 22 de junho de 2013

Brasil não me faças isto



Já tinha ouvido falar da obcessão por regras que a Alemanha tem por uma prima do marido que viveu lá um pouco mais de um ano. Ela fez-me rir muito das histórias sobre o zelo excessivo das leis, da economia de recursos naturais e do transtorno obcessivo compulsivo para ser um cidadão exemplar até na mínima das coisas. E quem diz Alemanha diz qualquer país supra desenvolvido, onde a democracia é quase a roçar a perfeição, tal como Bélgica, Dinamarca, Holanda and so on. 
O povo aqui nas ruas protestando contra a corrupção e o jeitinho brasileiro de levar a vida, fez-me pensar que mesmo que as coisas mudem, que sei lá de onde brote uma consciência cumpridora da ordem, pelamordedeus não vão ao 80. 
Li isto hoje e não sei o que é pior: se é o cara jogar lixo no chão ou esta psicopatia pela ordem e pela vida dos outros.
"Os holandeses são um povo obcecado com o respeito a leis e regras e com uma necessidade quase visceral de obrigar toda a gente a respeitá-las, mesmo que não os estejam a incomodar minimamente. Hoje vendi a minha cama, e como tal, o casal que a veio buscar parcou o carro à minha porta para facilitar o transporte das peças da minha porta até à bagageira. Ainda o homem não tinha posto as moedas no parquímetro, e já estava a ser chateado por um dos meus vizinhos, muito cioso, porque o estacionamento na rua era para moradores e devia ir estacionar no grande estacionamento recentemente construído a 100 metros de minha casa. Por azar só falava holandês, mas por sorte um vizinho estava a sair de casa e lá me ajudou, e lhe explicou que era só temporário, até carregar umas coisas no carro. Aí dois minutos depois saía outro vizinho igualmente justiceiro a reclamar também, e voltou a ser preciso dar toda a explicação, até que me sugerem pôr o carro a 4 piscas (apesar de já ter pago o estacionamento) para que o bairro não entrasse em histeria colectiva por ter um carro parcado à porta da minha casa a pagar que não era de moradores e que por isso deveria ir parcar a 100 metros. A solução acabou por passar pela mulher do casal ficar ao lado do carro com portas abertas e quatro piscas, enquanto o marido e eu desmontávamos a cama e a metíamos, peça a peça, na bagageira. Estou para ver o pesadelo que vai ser na próxima semana, quando estiver a fazer as mudanças definitivas e tiver um carro a ser carregado várias vezes à minha porta durante um dia ou dois... mesmo pagando parquímetro." 
Luna.

Onde vamos morar?

A princípio eu e o marido achávamos que íamos morar em Paris. Ou melhor, nos arredores de Paris porque não tava a afim de morar em um prédio caindo aos pedaços e em um apartamento minúsculo. Depois quando o marido finalmente conseguiu emprego, pensávamos que íamos morar em Strasbourg, mas depois vimos que era mais barato morar nas pequenas cidades em volta, tais como Cronenberg, Eckbolsheim, Oberhausbergen, etc. E acabamos por conseguir um enorme sobrado em Schiltgheim, há três minutos à pé do trabalho do marido e há cinco da escola do Fabian! Perfeito! Lindo! Uma casa (que na verdade é um prédio de dois andares apenas com dois apartamentos em cima e dois embaixo) em estilo enxaimel. Estou muito feliz por ter novamente uma casa. Nossa, a minha, a nossa casa! É de inflar o peito para dizer, aliás é tão bom, mas tão bom que fico feito boba a dizer: a minha casa! É isto, até que enfim temos uma casa!!

Não é esta, mas é parecida.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

É a minha vida

Não sei porque nem de onde o Fabian tirou esta. Para ele tudo que é anel é a vida dele...Dá uma enorme importância a isto, fica danado quando cai "a sua vida" no chão. Será que andou vendo Senhor do Anéis sem que eu notasse?


Deixamos de ser o bom selvagem



O Brasil acordou, levantou a bunda do sofá e foi às ruas, primeiramente para conter o preço das passagens de ônibus, depois por todo o resto. Começou na minha Porto Alegre e depois foi se espalhando por quase todas as capitais e inclusive em outros países com maior concentração de emigrantes brasileiros. 
Hoje li uma ex colega da História no facebook reclamando que as pessoas não sabiam o que era manifestação, que querem protestar contra a corrupção, a favor da saúde, de melhores escolas, etc. Defendia que era necessário ter um foco e neste quesito, o povo já foi bem sucedido: as passagens irão baixar, a daqui nem sequer aumentou. Concordo com ela, mas ficamos tanto tempo mergulhados em uma inércia, mudando o mundo em uma mesa de bar, que é um belo começo. Tenho visto pessoas reclamando do vandalismo, porém são situações pontuais, a maioria do pessoal, digamos que uns 90% ou mais, estão usufruindo de seu direito pacificamente. É uma pena que quem ficou sentado só enxergue os baderneiros...
Ah e claro, como poderia esquecer dos conspiradores de plantão: "quem está por detrás disto?" Os reacionários amigos da ditadura (daquele tempo em que tudo era  bom) acham que os comunistas estão manipulando as massas para chegar ao poder. Eu já acho que nem vale a pena discutir com estas pessoas tão bitoladas, isto até lembra-me a síndrome do pombo enxadrista.
Historicamente o povo brasileiro, que naquela época ainda nem tinha uma identidade por assim dizer de pertencença a esta terra, está acostumado com a corrupção. Digamos que está no nosso dna assim como está no de muitos outros. A falta de eficácia na fiscalização pela coroa portuguesa, os incontáveis cargos,o óleo para esta engranagem que é a ineficiente burocracia, assim como a esperança frequentemente bem sucedida de levar vantagem frente a um sistema econômico castrador, são só alguns exemplos de como tudo começou. Mesmo após a suposta independência, a qual desde crianças sabemos que não significou mudança alguma para a maioria dos brasileiros, o aumento desta rede que suporta cargos e mais encargos só tem vindo a agravar. A maioria das revoltas contra o governo foram planejadas de cima, isto é, por uma burguesia que reivindicava privilégios e benesses. Raramente o povo teve voz. Tinha um conhecido que dizia que povo era um punhado de ninguém. É verdade, porque infelizmente o povo não tem uma identidade consciente do poder de mudança que lhe legitima. O povo é fácil de distrair, com novela, futebol, música...
E agora o povo está nas ruas, mas está sem rumo. Todos concordam que devemos mudar, que é urgente o investimento em educação e saúde, e já agora em saneamento básico e na erradicação da miséria. Mas por onde começar? Ninguém faz uma faxina de cinco séculos em 4 anos. E quem encabeçará esta mudança? Não sabem. E não me venham com votar nulo ou branco ou partidos que já sabemos que deu merda. 
Mas uma coisa o povo já entendeu. Não quer Copa, não quer Olimpíadas. Não quer ser capacho de ninguém, nem aquele anfitrião que está acostumado a receber visitas com subserviência. O povo quer ser gente de carne e osso. Vamos ver até onde vai esta onda de protestos, lembro-me agora de que o estado social francês não se fez em um dia. Nem em três meses. Tenhamos esperança. E paciência.



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