
Estou encurralada entre uma onda após outra. A onda é furiosa, um punhado de água com vontade própria. Bate-me nas costas, na cabeça, na barriga. Tento defender-me e quando consigo respirar em uns segundos de sossego, ela ataca novamente. Eu debato-me, as mãos e pés instintivamente, procuro permanecer viva. É isto, trata-se tão e somente de sobrevivência. E nestes momentos quem já passou por isto sabe que a cabeça pouco pensa: quem assume o controle é o corpo. Se fossem apenas as ondas...mas não, de um lado as ondas, do outro as rochas. Sinto-me a afogar em medos, mágoas e desilusões. A raiva de permanecer em um lugar cuja convivência beira o insuportável. A minha inércia ante as ondas, a minha raiva perante elas, inócua, pois dou socos incessantes sem obter qualquer sucesso. As rochas castigam-me com a sua rudeza, e reviro-me contra elas também indignada por não me oferecerem a saída para este pesadelo. Debato-me, protejo-me. E tenho a sensação de que nunca é suficiente. Tudo parece querer derrubar-me ao fundo. A tão sonhada paz e segurança se faz longe, angustia-me a solidão, a exclusão social e linguística. O desconhecido, os desconhecidos. O medo de enclausurar-me entre quatro paredes e andar por ali a construir muros e brincar de fossos e cercos, de ataque e defesa. Quando é que irei parar de procurar a idealidade nas coisas? O futuro brinda-me com duas escolhas: permanecer ou abandonar. Na dúvida convivo com as duas, as ondas e as rochas. E elas vão me minando o juízo aos bocados, deixando-me o corpo cansado e a mente em processo de permanente estado de emergência. Crescer dói. Mudar dói. Amar dói. Perder dói. Pensar dói. Lutar dói. Principalmente quando sente-se o mundo todo a empurrar para uma decisão.