sexta-feira, 26 de julho de 2013

Vó com açúcar ou com adoçante?



Lembro-me que o frio começava a despontar pelas vidraças daquele apartamento antigo. Enquanto brincava na sala sentia que aos poucos a atmosfera fazia-se doce, com cheiro de chocolate derretido. Era a minha vó desmanchando barras de um quilo para depois preencher as forminhas de plástico. Sabia que o chocolate era provavelmente o mesmo dos outros ovos, mas aquele cuidadosamente enrolado em fita mimosa era especial. Recordo-me também de ir na casa da minha bisavó e encontrar sempre ambrosia no pote redondo de vidro sobre a estante. Punha-me nas pontas dos pés a olhar para os cravos mergulhados no líquido doce. A minha bisa tinha a solução, dizia que havia feito uma para mim sem os cravos e voltava da cozinha com um pote cheio. Claro que mais tarde caiu a ficha, ela separava-os antes que eu chegasse... mas se não havia por qualquer motivo a tal da ambrosia, tinha pudim de leite condensado. Ou torta de bolacha. E quando passava tardes com ela, fazíamos pão. Pacientemente ela ajudava-me a fazer um "homenzinho" com olhos de feijão que mais tarde seria devorado quase com culpa e um bocado de pena. 
O amor pode ter muitas roupagens, quer dizer que pode ser demonstrado de muitas formas e uma delas é a comida. Por isto muitas pessoas auto medicam-se assim, mas de forma equilibrada, não vejo mal nenhum em os avós oferecerem momentos de gulodices aos netos. 
A minha mãe, como já disse aqui, é uma pessoa muito difícil no que diz respeito à alimentação, já não come carne vermelha há anos, não bebe nem refrigerante nem nada de álcool, não come doces, só come coisas biológicas e tals. Tudo bem, isto é uma escolha dela, se a faz sentir-se bem, ótimo. Acontece que fico com pena do Fabian... já viu vó não gostar de dar açúcar para o neto? A primeira vez que contei que ele tinha comido iogurte aos 6 meses ela desligou na minha cara o telefone. Vive me censurando quando sabe que dou alguma bala ou pirulito para ele. Neste quesito eu e o pai temos de fazer o papel reservado aos avós que é "desencanar" numa boa a dieta. Claro que não é todo o tempo nem todos os dias, mas penso que como vó a minha mãe saiu pior que imaginava, para piorar mesmo, só se fosse vegana! 

Não sou nojenta não


Acho que este é o mal que todos os tímidos padecem. Nosso silêncio é confundido com sisudez, nossos olhos fugidios com ser esnobe, nossa mania em querer passar desapercebidos com falta de educação. Não é a primeira e acho que não será a última vez que escuto: quando te conheci achei que tu fosse chata e nojentinha. Não sou não, meus senhores, sou até bem legal e inclusive não mordo. Mas gosto aqui do sossego e de uma roda (pequena) de amigos. Um dos males que me aflige quando tenho muitos olhos postos em mim é a gagueira. Odeio!! Por isto detestava tanto os trabalhos em grupo e consequentemente as apresentações para a turma na faculdade. Bem sei que muitos deles estão entediados a planejar o que fazer depois da aula, mas mesmo assim. 
Quando digo que sou tímida já houve quem rebatesse dizendo que se fosse não usava roupas curtas ou também não tinha um blog. Não penso que esteja relacionado com isto, minha timidez é presencial, daí o fato de escrever não ser tão desafiador. E quanto ao uso de roupas curtas, é uma questão cultural, no Brasil é muito comum mini saia e vestido, desde que não seja ao estilo drag queen, as roupas não chamam tanta atenção por si mesmas.
Acho que foi Vinícius  de Moraes quem disse que todo o tímido é no fundo um orgulhoso, pois ao não se expor não chama atenção nem para suas qualidades, é verdade, mas muito menos pra seus eventuais erros. E todo tímido tem medo de errar, de dedos apontados, de escândalo, de ser o centro das atenções. Ele tem lá as suas razões, até acho que gosto desta minha timidez inicial, faz-me sentir como uma paisagem inóspita em que só aqueles aventureiros de verdade ousam explorar e conhecer.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Porque eu leio blogs?

Por isto:

Outro dia nevou em Paris. Aí eu perguntei pro meu pai o que que era a neve. Ele disse que era o gelo bem fino que caía do céu. E eu perguntei se tinha congelador nas nuvens, pra poder fabricar o gelo. Meu pai disse que não era preciso, pois ficava tão frio lá em cima que a água congelava sozinha. Aí eu me lembrei que na nossa geladeira a água congelada vira uma pedrona de gelo e perguntei se no céu tinha uma máquina pra quebrar esse gelo em um montão de pedacinhos, pra virar neve fininha. Ele disse que queria ver o jornal e que falava sobre isso depois.

Percebi que o meu pai não sabia nada sobre neve e fui perguntar pro meu irmão mais velho, que é tão grande que consegue encostar o pé no chão quando senta na cadeira. Ele falou que a neve era um fenômeno meteorológico que fazia cair cristais de gelo. Aí eu perguntei pra ele o que era meteorológico e ele disse que eu era burra. Então eu chorei bem alto e forte e minha mãe veio perguntar o que tinha acontecido. Eu disse que o João tinha me chamado de burra e minha mãe falou pra ele ir pro quarto. Mas aí eu fiquei sem saber o que é meteorológico.

E quando minha mãe fazia um café com leite bem quentinho pra mim eu perguntei também pra ela o que era a neve. Ela me explicou que eram os vapores de água que se congelavam, lá em cimão, nas nuvens bem altas. Aí é que eu não entendi nada mesmo, pois pra mim o vapor é quente. Pelo menos é o que a minha mãe sempre me diz quando eu chego perto do fogão pra ver a chaleira soltando aquela fumaça. Ela diz "sai daí, Gabriela, esse vapor vai acabar te queimando". Eu também começo a achar que a minha mãe não entende muito das coisas. Se o vapor é quente, como é que ele não derrete a neve?

Sabe, eu nunca desisto de uma pergunta. A professora da escola diz que eu tenho espírito de cientista, porque eu gosto de saber tudo em detalhes. Mas não é nada disso. É que os adultos falam bobagens para as crianças, talvez com medo de que a gente não entenda a explicação de verdade. Mas o que eu acho mesmo é que eles nunca sabem as respostas, então inventam uma história qualquer. Ou então dizem "olha, é complicado explicar isso", "você ainda não tem idade pra saber", "depois da novela a gente conversa", "pergunta pro seu pai", "pergunta pra sua mãe" e esse tipo de coisa.

Por isso eu fui perguntar pro Mathieu, que é meu amiguinho da escola. O Mathieu é muito inteligente. Ele já consegue até amarrar o cadarço do tênis sozinho. Outro dia eu consegui também, mas depois minha mãe ficou reclamando comigo, dizendo que eu tinha dado tantos nós que mais parecia uma teia de aranha aquele cadarço e que ela ia ter que cortar tudo com a tesoura e comprar um novo. Pra mim estava bem bonito.

E o Mathieu falou que a neve era o que os adultos usavam para fazer o sorvete. Mas que eles guardavam esse segredo bem guardado que era pras crianças não tomarem sorvete o tempo todo. Aí eu perguntei pra ele como é que o sorvete chegava em um país quente como o Brasil sem derreter. E ele disse que todo o sorvete do mundo era feito nos países frios e depois era transportado em geladeiras muito grandes dentro de navios muito grandes.

Aí eu tive uma idéia muito muito boa. Falei pro Mathieu que quando a gente for grande pode pegar um avião, voar bem lá no alto e jogar sabores diferentes em cima das nuvens. Aí não vai nunca mais cair neve. Vai cair sempre sorvete, já prontinho. O Mathieu adorou a idéia e até já falou que vai ser piloto de avião pra gente poder fazer isso sem pedir a ajuda de ninguém. Aí eu falei que já que a gente ia ficar rico podia se casar e ter muitos filhos. E nessa hora ele saiu correndo pro parquinho. O Mathieu pode ser muito inteligente, mas às vezes ele ainda é um pouco imaturo.

Daqui.Chéri à Paris

O lado selvagem


Estamos há tantos séculos envoltos pela cultura, a suprema criação humana, nos mais variados tons e particularidades, que esquecemos que o background pouco mudou. Somos uns selvagens. E não digo isto pensando somente em situações de risco onde a voz da sobrevivência grita mais alto, em um monte de gente embolado e pisoteando-se mutuamente para escapar da morte. Falo dos pequenos vestígios que de tão diminutos passam  quase etéreos ao subconsciente, por exemplo, o fato (comprovado em pesquisas) de as mulheres arrumarem-se mais no período fértil. Na preferência destas durante o mesmo período para rostos  masculinos de traços fortes e viris, enquanto que passado estes dias, voltem a preferir faces mais harmônicas e de relevo quase feminino. O fato dos homens no geral tenderem para a infidelidade consumada ou não. Dos meninos adolescentes a lutarem entre si como o fazem a maioria dos filhotes machos da natureza. De quando moram mais de duas mulheres em um mesmo ambiente seus ciclos se sincronizarem.  Estas e outras situações habilmente relegadas ao acaso ou às vezes à personalidade, mas que são daquelas coisas que nos tonam tão bicho quanto os outros bichos deste mundo. 
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