quinta-feira, 25 de julho de 2013

Porque eu leio blogs?

Por isto:

Outro dia nevou em Paris. Aí eu perguntei pro meu pai o que que era a neve. Ele disse que era o gelo bem fino que caía do céu. E eu perguntei se tinha congelador nas nuvens, pra poder fabricar o gelo. Meu pai disse que não era preciso, pois ficava tão frio lá em cima que a água congelava sozinha. Aí eu me lembrei que na nossa geladeira a água congelada vira uma pedrona de gelo e perguntei se no céu tinha uma máquina pra quebrar esse gelo em um montão de pedacinhos, pra virar neve fininha. Ele disse que queria ver o jornal e que falava sobre isso depois.

Percebi que o meu pai não sabia nada sobre neve e fui perguntar pro meu irmão mais velho, que é tão grande que consegue encostar o pé no chão quando senta na cadeira. Ele falou que a neve era um fenômeno meteorológico que fazia cair cristais de gelo. Aí eu perguntei pra ele o que era meteorológico e ele disse que eu era burra. Então eu chorei bem alto e forte e minha mãe veio perguntar o que tinha acontecido. Eu disse que o João tinha me chamado de burra e minha mãe falou pra ele ir pro quarto. Mas aí eu fiquei sem saber o que é meteorológico.

E quando minha mãe fazia um café com leite bem quentinho pra mim eu perguntei também pra ela o que era a neve. Ela me explicou que eram os vapores de água que se congelavam, lá em cimão, nas nuvens bem altas. Aí é que eu não entendi nada mesmo, pois pra mim o vapor é quente. Pelo menos é o que a minha mãe sempre me diz quando eu chego perto do fogão pra ver a chaleira soltando aquela fumaça. Ela diz "sai daí, Gabriela, esse vapor vai acabar te queimando". Eu também começo a achar que a minha mãe não entende muito das coisas. Se o vapor é quente, como é que ele não derrete a neve?

Sabe, eu nunca desisto de uma pergunta. A professora da escola diz que eu tenho espírito de cientista, porque eu gosto de saber tudo em detalhes. Mas não é nada disso. É que os adultos falam bobagens para as crianças, talvez com medo de que a gente não entenda a explicação de verdade. Mas o que eu acho mesmo é que eles nunca sabem as respostas, então inventam uma história qualquer. Ou então dizem "olha, é complicado explicar isso", "você ainda não tem idade pra saber", "depois da novela a gente conversa", "pergunta pro seu pai", "pergunta pra sua mãe" e esse tipo de coisa.

Por isso eu fui perguntar pro Mathieu, que é meu amiguinho da escola. O Mathieu é muito inteligente. Ele já consegue até amarrar o cadarço do tênis sozinho. Outro dia eu consegui também, mas depois minha mãe ficou reclamando comigo, dizendo que eu tinha dado tantos nós que mais parecia uma teia de aranha aquele cadarço e que ela ia ter que cortar tudo com a tesoura e comprar um novo. Pra mim estava bem bonito.

E o Mathieu falou que a neve era o que os adultos usavam para fazer o sorvete. Mas que eles guardavam esse segredo bem guardado que era pras crianças não tomarem sorvete o tempo todo. Aí eu perguntei pra ele como é que o sorvete chegava em um país quente como o Brasil sem derreter. E ele disse que todo o sorvete do mundo era feito nos países frios e depois era transportado em geladeiras muito grandes dentro de navios muito grandes.

Aí eu tive uma idéia muito muito boa. Falei pro Mathieu que quando a gente for grande pode pegar um avião, voar bem lá no alto e jogar sabores diferentes em cima das nuvens. Aí não vai nunca mais cair neve. Vai cair sempre sorvete, já prontinho. O Mathieu adorou a idéia e até já falou que vai ser piloto de avião pra gente poder fazer isso sem pedir a ajuda de ninguém. Aí eu falei que já que a gente ia ficar rico podia se casar e ter muitos filhos. E nessa hora ele saiu correndo pro parquinho. O Mathieu pode ser muito inteligente, mas às vezes ele ainda é um pouco imaturo.

Daqui.Chéri à Paris

O lado selvagem


Estamos há tantos séculos envoltos pela cultura, a suprema criação humana, nos mais variados tons e particularidades, que esquecemos que o background pouco mudou. Somos uns selvagens. E não digo isto pensando somente em situações de risco onde a voz da sobrevivência grita mais alto, em um monte de gente embolado e pisoteando-se mutuamente para escapar da morte. Falo dos pequenos vestígios que de tão diminutos passam  quase etéreos ao subconsciente, por exemplo, o fato (comprovado em pesquisas) de as mulheres arrumarem-se mais no período fértil. Na preferência destas durante o mesmo período para rostos  masculinos de traços fortes e viris, enquanto que passado estes dias, voltem a preferir faces mais harmônicas e de relevo quase feminino. O fato dos homens no geral tenderem para a infidelidade consumada ou não. Dos meninos adolescentes a lutarem entre si como o fazem a maioria dos filhotes machos da natureza. De quando moram mais de duas mulheres em um mesmo ambiente seus ciclos se sincronizarem.  Estas e outras situações habilmente relegadas ao acaso ou às vezes à personalidade, mas que são daquelas coisas que nos tonam tão bicho quanto os outros bichos deste mundo. 

Pra não perder o costume


Alguns ditados passados para o francês:

"Dans une rivière de piranhas, le crocodile nage sur le dos.
Em rio com piranha, jacaré nada de costas.

Bois qui nait tordu ne se redresse jamais.
Pau que nasce torto nunca se endireita.

Sortir le cheval de la pluie.
Tire o cavalinho da chuva.

Chaque singe sur sa branche.
Cada macaco no seu galho.

Qui ne pleure pas, ne tete pas.
Quem não chora não mama.

Le cobra va fumer.
A cobra vai fumar."

Dos comentários daqui:
Chéri à Paris

Mania de vira-lata


A sério que me irrita alguns brasileiros andarem sempre a criticar o seu país ora porque isto, ora porque aquilo, ora porque tem, ora porque não tem. Se concordo com o governo que está aí, com a corrupção e a falta de vergonha na cara dos políticos? Mas é claro que não! Porém é inegável que apesar de todos os problemas a miséria tem vindo a diminuir, há cada vez mais a expansão da chamada classe C, os antigos pobres e muito disto deveu-se às ajudas como bolsa família, bolsa escola, cotas universitárias, minha casa minha vida, etc. Isto é assistencialismo, dizem uns. Tem que se ensinar a pescar, dizem outros. Concordo, mas é o começo. Respondam-me como se pesca se não há de cara um bom ensino fundamental? Se faltam professores? Se chegam às vezes turmas inteiras com alunos de dez anos analfabetos? Ah que ótimo, damos a vara e o anzol e "te vira"? Como assim? O povo não tem educação, não tem assistência médica e reclamam do dinheiro que se dá para que as mães tirem os filhos da mendicância e frequentem uma escola para ao menos aprender a ler e contar. Que classe é esta que critica? Possivelmente gente que nunca teve que esforçar-se por nada, que os pais deram um duro danado para manter em faculdade privada e que tem o seu carro zero e viagem a Paris em 24x. Ah poupem-me! Como já disse no facebook, até é bom que vão para fora e abram os olhos. Na França há auxílio moradia, auxílio infância, há cursos de graça (obviamente financiados pelo governo) para estrangeiros aprenderem o francês, e muito mais e lá ninguém chama de assistencialismo. Lá ninguém tem vergonha disto. Lá é um Estado Social. Ah... vocês ainda tem muito que correr para curar esta síndrome de vira-lata.

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