quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Emigrante de segunda viagem


E a adaptação?
Tem gente que ainda me pergunta isto. Cheguei há menos de duas semanas, como posso me adaptar? Levei cinco anos para me sentir bem em Portugal, imagino que aqui não custe tanto por não ser a primeira vez, mas por mais aventureira que uma pessoa seja, não são em alguns dias ou meses que isto se dá. De todos os conhecidos  que fizeram como nós o caminho de volta, não há um que não queira voltar. Isto que estão sensivelmente melhor no Brasil do que estavam em Portugal.
As pessoas imaginam que seja fácil se readaptar ao seu país. Não é. Mas não é igualmente fácil em qualquer outro lugar. Nós não somos os mesmos, é verdade, e no entanto queremos que todo o resto esteja conforme o deixamos. Os gostos, a comida, as pessoas... Às vezes olhamos para tudo e pensamos que a única coisa que não mudou fomos nós. Mas até isto mudou...há sempre uma coisa que está faltando, como se a última peça de um quebra cabeça nos fosse retirada e passamos a vida em busca de uma completude que infelizmente não voltará. Já o disse, somos estrangeiros em nosso próprio país e também o somos no país que escolhemos viver. Não importa o quanto nos esforçamos, o melhor que falemos sua língua, que nos vestimos ou nos comportamos como tal, não somos, não fomos e nem nunca seremos um deles. E o que somos afinal? Onde finalmente nos sentiremos inteiros e  pertencentes a um rebanho qualquer?
As mães de segunda viagem gostam muito de dizer que o segundo filho se leva na boa, sem grandes preocupações, sem neuroses de esterelizar as mamadeiras até os cinco meses, sem esperar os oito meses para comer morangos, sem ter medo de deixar o pai dar banho nos primeiros dias. A vida acomoda-se porque a deixamos correr sem nossos "ai ai Deus nos acuda". Tudo torna-se mais fácil quando já sabemos o que nos espera, sejam noites de cólicas, seja a solidão de não ouvir nosso sotaque pelas ruas. Seja a barriga flácida, as aréolas escuras, seja os costumes estranhos, a falta de contato humano.
Não há qualquer receita para a adaptação a não ser deixar que o tempo faça sua parte. É tentar não apressá-lo e desfrutar das coisas que antes nos causavam pânico.  É ter a malandragem de um gato escaldado e saber que mais dia menos dia estaremos nos sentindo confortáveis novamente em nossa nova pele e em casa, finalmente.

Não comem!

E a minha cara de espanto quando vejo que só encontro arroz no "corredor de comidas exóticas"? Peraí, os franceses não comem arroz?? Nem estou pensando no feijão que não me faz grande falta, mas arroz?? Não comem! Comem batatas, massa, mais batatas em porções pequenas que é para não engordar.  E andando pelo corredor, começo a minha procura desesperada por arroz parbolizado, o meu queridinho dos arrozes. E venho a saber que simplesmente não tem. Há o basmati de grãos longos, curtos e grossos. Basmati com tomate seco, ervas finas, basmati integral, basmati hiper-papa, basmati. Basmati. Basmati. Odeio arroz basmati. Odeio arroz unidos venceremos. Odeio arroz papa. Minhas comidas tem ficado agora uma nhaca com aquele arroz. Estou ponderando importar de Portugal o meu arroz soltinho e durinho porque não sei se sobrevivo a isto. Nhaca.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Ahhhh a rotina (suspiro bom)!

Ontem demos o pontapé inicial no que imagino que serão os nossos dias pelo menos nos próximos meses. O marido voltou a trabalhar e ficou com a responsabilidade de levar o Fabian na escola, até porque é a hora ideal para falar com a educadora, na saída é só a despachar. Eu busco no fim da manhã e recomeço o almoço. O marido vem almoçar em casa, conversamos, o Fabian faz festa quando ele chega e depois do café ele sai novamente. Faço o Fabian dormir, limpo a louça e a casa. Ele acorda, vemos filme, brincamos de massinha de modelar e logo o pai está de novo a entrar pela sala. Como é bom morar tão perto da escola e do trabalho dele! Mês que vem começa o meu curso de francês às segundas e quintas durante o horário de escola do Fabian. Se para algumas pessoas a rotina é um saco, para mim é só a melhor coisa que posso querer! Sei bem que as rotinas mudam com o tempo, mas esta eu podia me acostumar até ficar velhota.

Monobanco


Pois é, aqui não há multibancos, há monobancos. Eu explico: aqui há uma espécie de caixa banco que quer ser multi e a única coisa para que serve é para tirar dinheiro. Não se pode ver o saldo da conta, não se pode fazer transferência, não se pode pagar uma conta, carregar o celular, carregar cartão de transporte, pontinhos e reticências e suspiros. No Brasil também é assim, se quisermos fazer qualquer coisa, temos de ir no local exato onde ficam as caixas monobancos do nosso próprio banco e ali fazer as operações. Acontece que os bancos ficam muitas vezes longe, tem de se pegar ônibus e tal e coincidentemente há um ali do outro lado da rua que bem podia ter uma caixa multibanco como em Portugal. Acho que é o único país da europa com um sistema tão inteligente e unificado de forma a dar maior conforto aos clientes. Não sei se é por ser um país menos populoso, o fato é que não sei se Luxemburgo por exemplo, tem um sistema bancário tão ou mais superior. Portanto, aproveitem que puder! Que nós aqui no resto do mundo, temos de mexer os traseiros e ir até onde estão as famosas caixas para fazer o que quer que seja.
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