Que o verão volte. Por aqui o sol nos abandonou no início da semana passada, temos só chuva e tempo nublado, ainda que anoiteça por volta das oito. Que merda, fui para o Brasil bem no início do verão em Portugal, depois saí de lá bem quando começa o calor. Estou em déficit de verão e o que não daria por uns dias a trinta graus!!
segunda-feira, 16 de setembro de 2013
domingo, 15 de setembro de 2013
Veste a roupa, cobre a teta, chegou o José de Anchieta!
O que eu gosto deste grupo da mtv! É um tipo de humor inteligente, que nos faz pensar e questionar fatos dados como óbvios, viciados pelo mesmo olhar da rotina. Neste vídeo, conseguem brincar em primeiro lugar com o ritmo techno, psy, trance ou seja lá o que for que não entendo de música de boate, cantada em inglês, com seus clips psicodélicos, com gente dançando de forma estranha e geralmente com uma letra nada a ver. Segundo, e de maneira nenhuma menos importante, porque fala com liberdade de criação do choque cultural da invasão do Brasil. Sim, invasão e não descobrimento ou não fiz quatro anos de História para continuar a pensar como os bois.
Embora os Aimorés (denominados de tapuias pelos tupi-guaranis), fossem canibais, não comeram o padre José de Anchieta que morreu bem velhinho para época, com 63 anos. Interpretado pelo humorista Paulinho Serra, a personagem histórica veio com a missão de catequizar os índios e iniciar de uma forma mais abrangente através do Catolicismo, um processo de aculturação. Mudam-se os pudores, cobrem-se as genitálias e muito mais, porque para o europeu os índios andavam nus. E na verdade para os índios, as pinturas corporais, ou o prepúcio tapado são indícios de que não estão. Os invasores ficavam consternados com as regras sexuais aparentemente orgíacas dos nativos, assim como estes o ficavam quando os homens da fé pregavam celibato e depois transavam com suas mulheres.
Infelizmente a única história que temos acesso é etnocêntrica, baseada na visão de mundo européia, que ridulariza os primeiros contatos com os autóctones. A troca de espelhos e quinquilharias por algo mais valioso, pedras preciosas talvez, faz com que acreditemos em uma suposta burrice por parte de nossos índios. Quando seria plausível acreditar que em uma sociedade tribal e um habitat rico, em que temos tudo à disposição (caça, plantas medicinais, abrigo, etc), é lógico desvalorizar um punhado de pedras amarelas que não servem particularmente para nada. E está muito bem apanhada a última frase "thank you José de Anchieta" e a cena de gratidão e subserviência dos índios por um alegado salvamento dos pecados e da barbárie.
Posto isto, a música fica mesmo na cabeça e volta e meia ando com "sua tribo vou livrar do capeta" Ô Ô Oô!
sábado, 14 de setembro de 2013
Viver de renda
Aqui onde moro há muito casarões antigos, estilo enxaimel, de janelas baixas e sótãos íngremes. Acontece que estas casas não são ocupadas por uma família só. Em sua maioria são reformadas e refeitas em mini apartamentos, de forma que seja mais rentável para quem aluga. Nós tivemos a sorte de ficar sozinhos no andar debaixo, pois em cima há dois apartamentos com uma entrada ao lado da nossa porta e outra no extremo da casa, as duas completamente independentes da nossa. O senhor que é o dono desta, ainda tem mais uma que fica nos fundos do terreno, dá-me a impressão que é maior e mais nova, no estilo de construção da escola do Fabian.
É muito estranho pensar em uma casa como se fosse um prédio, porque por mais que se façam mudanças, uma casa, principalmente uma casa velha, será sempre uma casa, com toda a falta de isolamento que isto acarreta. Eu e o marido fizemos um cálculo por cima e imaginamos que o senhor ganha a volta dos cinco mil euros de renda das duas casas. Mesmo tendo que fazer a manutenção, é ou não um bom investimento? Diz que esta foi construída pelo bisavô, no tempo que se faziam as coisas à olho. Eu acredito à medida que vou me habituando às suas paredes.
E para quem já não gostava de felinos
Era um zoológico cheio de corredores e as pessoas andavam por exíguos e úmidos caminhos de concreto, por entre plantas que quase os cobriam. Melhor sensação de que se estava na selva não há, era o slogan. As pessoas iam curiosas a fim de observar os animais trancafiados por uma tela quase invisível. Sabiam que soltavam os leões duas vezes por dia, mas avisavam. Avisavam? Dizem que sim. As pessoas que fossem pegas desprevenidas tinham esconderijos como jogarem-se no lago dos hipopótamos com canudos de taquara para respirarem enquanto as bestas passavam. Riscos controlados, portanto. Porém os visitantes se esquecem que na hora do desespero, quando veem sete, oito felinos gigantes a correr como os touros de Pamplona não há muito o que fazer. Estavam em um grupo de dez pessoas talvez, não sabia bem. Mas este grupo logo começou a diminuir. E ela sentiu que se não liderasse nenhum sobreviveria. Começou pelo lago, era o que se lembrava dos avisos na entrada. Depois, ao por finalmente a cabeça para fora, descobriu uma janela que dava para corredores de pedra subterrâneos. Colocou os pés e em dois golpes quebrou o vidro. Os leões rondavam, mas demorariam um pouco para chegar até ali. Talvez houvesse uma saída, puxou os outros para dentro. Caminhou sentindo o cheiro de mofo e urina pelos corredores fracamente iluminados. Em um deles trancou a respiração: uma leoa albina estava acorrentada em uma especie de cubículo e apesar de sentir o cheiro deles, não atacou, permaneceu em pé e em aitude amistosa. O silêncio se desfazia através da respiração do animal e agora dos passos e rugidos do grupo que os perseguia. Correu pelo labirinto até perceber que aquele tinha ligação com o fundo da jaula dos leões e que estes invariavelmente passariam por ali. Olhou desolada para o que restou das pessoas assustadas atrás de si. Retrocederam. Estavam em um jogo de sombras e de gato e rato. Até que finalmente avistou uma janela no alto de um dos muros. Ia passar por ali quando viu os funcionários do zoológico rirem dos visitantes que a esta hora deviam estar desesperados a correrem em becos sem saída. Era isto ou os leões. Mais valia brigar com alguém que era do nosso tamanho. Passaram. Eu acordei.
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