terça-feira, 1 de outubro de 2013

A moda de ter filhos

Dizem que a França está envelhecendo assim como o resto da Europa, no entanto o que mais vejo aqui são crianças e bebês por todo o lado. E não é só no caminho da escola, e não é também por esta pequena cidade ter nada menos que sete maternais (todos públicos), é uma constatação diária. Não é raro ver mulheres como eu digo "bem grávidas" (no sentido da barriga grande) com um bebê no carrinho e outro pela mão e mulheres extremamente jovens que eu especulo que não devem parar por aí. O marido diz que o governo dá incentivos, largas licenças de maternidade, mas creio que muitas sequer trabalham ou trabalharam e daí receberem uma ajuda conforme a renda do casal. Fico imaginando toda a roda de preconceitos que me passam pela cabeça, preconceitos estes que se formaram em uma sociedade que critica o excesso de filhos que os pobres insistem em por no mundo, que acha um absurdo o governo dar bolsa família, bolsa escola, etc. Aqui não são os pobres que enchem-se de filhos, talvez seja porque o governo não deixa que haja pobres. São os árabes, os africanos, outras etnias menos representadas de emigrantes e claro, os próprios franceses. Aqui estas ajudas abrangem grande parte da população e não é visto como vergonha recebê-las pois trata-se de um direito adquirido. Tais ajudas como estas entre tantas outras, como o meu curso de francês oferecido pelo governo por exemplo, fazem com que a França mereça o título de Estado Social. O que de certa forma me causa confusão é que estas mesmas ajudas são vistas no Brasil como assistencialismo barato, talvez por ser dirigida exclusivamente aos pobres, já que o Brasil apesar de também estar envelhecendo ainda não se preocupa com medidas como estas de incentivo a natalidade. 
A quantidade de filhos que virou moda por aqui, leva-me também a pensar que este deve ser o motivo de tanta preocupação para com a independência das crianças, afinal quem com três anos já sabe vestir-se e despir-se dá mais tempo para a mãe tratar de dois outros bebês cada um com a sua exigência. Ou talvez este seja o jeito meio germânico de criação já que estamos logo ali não é? Ainda tenho de me habituar a ver crianças de três anos a andar de bicicleta sem rodinhas e sem grande supervisão nas ciclovias e também na rua, assim como crianças de sete anos andando sozinhas à noite...


segunda-feira, 30 de setembro de 2013

A língua

Já havia falado sobre isto aqui, aliás, depois de alguns anos de blog vejo que já me repito em alguns assuntos, estou até como aquelas velhotas sempre a rondar o mesmo, enfim. A língua sempre representou muito para mim, gosto de falar português (se alguém disser que é brasileiro apanha viu?), gosto de ler, gosto da musicalidade não importa que sotaque tenha. E por isto mesmo me faz confusão alguém que emigra e não faz questão de que seus filhos aprendam a língua materna. Vamos fazer o possível para que o Fabian não esqueça, embora tenha consciência  que para escrever seria preciso frequentar algum curso e isto deixarei que ele decida mais tarde. Mas falar não abro mão. Então e quando for ao Brasil ou a Portugal, vamos ter de traduzir tudo para ele? Nem pensar! 
Hoje à noite no mercado, estava explicando para o Fabian que não podia ter tudo. Enquanto o pai pagava as compras, estávamos parados em frente a uma máquina de quinquilharias. Não era caro, moedas de um ou dois euros, a questão é que ele precisa entender quando dizemos que não. Estava agachada e de repente senti uma mão nas costas e uma senhora de cabelo curto e grisalho a me perguntar se eu falava português. Era da Madeira e ficou muito feliz de ter encontrado alguém ali naquele enorme supermercado que também falasse sua língua, pois que nem a filha adolescente sabia. 
 Uma das coisas em que um emigrante mais sente falta é de ouvir por toda a parte sua língua. Mesmo que saiba comunicar-se no idioma do país que o acolheu, nada dá a sensação maior de não pertencimento e de consequente solidão, que não escutá-la. Às vezes afino o ouvido e fico observando qualquer sotaque que lembre o nosso e as palavras se perdem fugidias quando percebo que fora alarme falso. A saudade de quem sou faz-me escutar mais músicas brasileiras, faz voltar-me para os blogs portugueses, para a net e este mesmo vazio tento preencher com a minha voz. Falo, falo e falo. Canto em um certo grau que poderá ser percebido e captado quiçá por alguém que (me)descodifique. Sinto que por vezes estou muito parecida com aqueles mendigos que falam um idioma estranho, que ninguém consegue perceber qual é. São como ilhas ambulantes, desconexas e cada vez mais distantes no horizonte. Falo e as pessoas olham ora com estranheza, ora curiosas. Sou uma ilha encostada em um continente. Uma ilha exótica e em luta para que o oceano não a engula de uma vez só.

sábado, 28 de setembro de 2013

Tempo, tempo

Daqui há dois dias completará um mês que colocamos os pés na nossa casa. Que estreamos nesta cidade, que viemos com malas e malas e horas de viagem interrompidas por duas paradas. Faz um mês que não escuto minha língua por onde passe, que descobri que sorrisos e monosílabos são mais fáceis de me fazer entender do que ensaiar "désolé, do you espeak English?". 
O marido virou-se para mim ao olhar no calendário do celular. Bã, como setembro passou rápido! Disse-lhe que era apenas impressão dele, que para mim parece que estou aqui há um século, que os dias escorreram vagarosos e nem por isto aborreço-me. Era a ansiedade dele que adormecera, era a certeza de que nós preenchemos cada espaço deste tempo que ele tanto perseguiu. Era a paz enfim.
Vai fazer um mês que retomamos nossa vida, e digo que o sabor de estar longe e não depender de ninguém é doce, muito doce. 

Detalhes...

da nossa casa.


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