quarta-feira, 6 de novembro de 2013

A Nega


Nega traz o café. Nega engoma a camisa do Dr. Faustino. Nega faz cozido com leitão que a minha mãe vem almoçar. A nega era tantas vezes requisitada que às vezes chegava a duvidar que tinha nome. Lembrava-se de ter chegado ali por ser a maneira mais fácil da mãe se livrar da filha mais velha. E tendo mais meia dúzia para alimentar, era o melhor que poderia fazer: teto e comida em troca de trabalho. A mãe só esqueceu de dizer que era teto e comida em troca de sua vida. Com treze anos deixou de ser Teresa para ser a Nega dos Fagundes. Na verdade na altura era a Neguinha, depois com o tempo, foi crescendo e engordando, e o apelido evoluiu conforme os cabelos crespos soltos se encolhiam por baixo de um lenço.
A Nega serviu para tudo, de cozinheira, empregada e babá. Se pudesse até de ama de leite a fariam. Serviu para acalentar o Dr. Faustino tantas e tantas noites, serviu também para anos mais tarde o Carlinhos perder a virgindade. Tivera tempos atrás um filho no bucho. Mas a patroa que não era boba e sabia das aventuras do marido, depressa levou-lhe em uma batuqueira que lhe deu um chá. Até hoje guardava uma dor imaginária no ventre como se aquela situação se repetisse vezes sem conta. Seu filho de sangue e suor lhe escorreu pelas pernas e Teresa ainda acha que foi melhor assim. Que vida teria um mulatinho bastardo naquela casa? Isto se a deixassem ficar lá.

Nega esfregava a camisa do dono da casa com sabão de coco. As mãos pretas torciam, os nós dos dedos se batiam e ela voltava a esconder as mãos na espuma branca. Enxaguava, pendurava e voltava a torcer outra camisa branca. Tinha de deixar os punhos e gola limpos, caso contrário faziam-na lavar novamente. Enquanto isto cantava, suspirava e lembrava do tempo em que ainda era livre, devia ter uns quatro ou cinco anos. Sentava na grama com o vestido sujo de terra e ficava a observar as formigas passarem sobre suas pernas finas. Faziam cócegas. Carregavam folhas enormes sempre em frente, sem perder tempo, sem olhar para os lados. Às vezes segurava uma das folhas só para as ver esperneando como se ainda caminhassem sem se darem conta de que haviam lhes tirado o chão. Depois as deixava ir e elas continuavam como se nada as tivesse interrompido. Devia ser muito chato ter a vida de formiga. Só trabalhar e trabalhar e não ter tempo para viver. Depois de muito chamar, a patroa lhe tinha ido com o robe e cabelos em rolos para a área de serviço. Nega! O que é senhora? – disse em um pulo. To chamando há horas, vem já me apertar o vestido. Seguindo ela pelo corredor ainda lhe pergunta o que estava pensando da vida. A Nega emudece e depois diz com um sorriso áspero que a outra não viu. E eu lá tenho vida pra pensar nela?

Ai a fase anal...



Ohhh até com "sorrisinho" de milho!

Legal mesmo é ter cocozinhos de pelúcia para acalentar os pequenos na hora de se despedirem dos de verdade. Com o Fabian até não foi tão desesperador, contei a tal história (que diziam a mim quando criança) de que o cocô foi para a casinha dele, que a mamãe e o papai o estavam esperando para ......(preencher aqui de acordo como a hora: dormir almoçar, levar na escola, etc). 
Agora legal legal, é alguém ter tido esta ideia. Apesar de ter alguns fofinhos, tem quem compre?

O maravilhoso mundo dos usados

Não fui criada em uma cultura em que as coisas usadas são bem aceitas. Lá os brechós e bugigangas em segunda mão são para os pobres legítimos. E é tão arraigado que alguém só se desfaz de algo se for para colocar no lixo ou doar, mas em péssimas condições. Há lojas que vivem só disto, mas os móveis e roupas que vendem estão em tão mau estado e o preço é tão caro que mais vale por umas notas em  cima e comprar novo, ainda mais com a facilidade em pagar em prestações. 
As coisas de segunda mão me foram apresentadas pela necessidade, estava grávida e o dinheiro estava muito curto e precisávamos mobiliar o quarto do Fabian. Descobri o olx, o custo justo e o quarto dele veio em um conjunto de madeira maciça por um terço do valor que compraria novo. Depois vendemos tudo, fomos para o Brasil e naquela esperança boba, andamos pelos briques a fora (lá chamam-se briques) em busca de algo que se aproveitasse para rechear nosso quase futuro ex-canto que nunca houve. De volta à realidade: valeria mais a pena comprarmos tudo novo. 
Aqui descobri o leboncoin e de lá veio a cozinha, o roupeiro e cômoda, a mesa e cadeiras, carrinho de bebê e a mais nova aquisição é a "fiqueleta" do Fabian. Aliás acho ótimo investir em coisas usadas para crianças porque o tempo de uso é tão curto que encontramos peças praticamente novas. E ao invés de gastarmos em média 100 euros para uma bicicleta nova, gastamos menos da metade. Agora penso duas vezes antes de comprar uma coisa a estrear, vou lá bisbilhotar a ver se acho algo parecido antes de sair me atirando em qualquer loja.


terça-feira, 5 de novembro de 2013

Meu olhar de condescendência para quem (ainda) não tem filhos

Realmente há uma tênue linha que separa quem os tem do resto. Não, minto. Há um universo paralelo, enciclopédias de como educar o filho dos outros, fraldas, choros, peito dolorido, paciência que não estica, um emprego não reconhecido sem direito à férias, enfim...que separa os pais do resto todo que sabe o que faria em cada situação patética  hipotética (mas que com a benção do Senhor, vira as costas e dorme uma noite inteira se-gui-di-nha).
Ora vejam, coitada desta mãe, o que esta criança fez com ela! Hahahah!

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