Sei que não devemos fazer juízos de valor sobre a cultura alheia, mas não consigo deixar de ficar perplexa diante de algumas coisas. Por exemplo, acho muito estranho o jeito fechado das crianças daqui. Não são de maneira nenhuma tristes, são crianças que riem, que brincam, mas entre si. São crianças incapazes de fazer amizade com crianças desconhecidas e quando digo fazer amizade, refiro-me apenas a brincarem juntos naquele momento, não é a amizade do adulto. Tenho notado a ânsia que o Fabian fica de se enturmar em uma brincadeira e noto que muitas vezes apesar das outras crianças regularem de idade com ele, não querem nem saber. Para os franceses vale a máxima: eu já tenho amigos, para que preciso fazer mais? E isto eu já sabia que para os adultos é quase uma verdade absoluta, agora para as crianças, imaginava que ainda reinava alguma espontaneidade, mas estava enganada. Os amigos que uma criança francesa faz são na escola, onde ainda bem, o Fabian já tem alguns. Agora fora de questão tentar fazê-los em um parque, é inútil. Eles ignoram-no completamente. Se já tem amigos, não precisam. Se estão sozinhos, estão bem assim. Ora que povinho difícil hein?!
quarta-feira, 27 de novembro de 2013
Pergunta do dia
Porque as mulheres quando pensam em ter filhos na maioria das vezes preferem menina? Lembro-me de todas, mas todas as vezes que me imaginei mãe, sempre foram de um menino. Posso estar errada, mas a imagem de meninas como sendo muito chatinhas, com voz melosinha e queixinhas me deixa com muita má vontade, se deixa.
segunda-feira, 25 de novembro de 2013
Se os olhos são as janelas da alma, o sorriso é a porta de entrada
Acho muito engraçado a forma como as pessoas tratam os dentes e isto é uma das primeiras coisas que observo nos outros: o sorriso. Há muitas coisas com as quais podemos ser desleixados, a roupa, o banho, o peso. No entanto, os dentes são para mim o cartão de visitas pessoal, e se a pessoa não cuida, se os tem amarelados ou pretos, ou pior se não os tem é muito mal. Tenho notado pelo sorriso desfalcado de muitos colegas que o cuidado bucal não deve ser uma premissa em seus países de origem. Vejo jovens a que faltam um ou dois ou mais dentes e quando sorriem fico envergonhada quando sou inadvertidamente atraída por aquele vazio. Tem uma mulher que espera o filho na escola quando vou buscar o Fabian, já a vi conversando no telefone e ela tem apenas quatro dentes em cima. É uma jovem à volta dos 25 anos ou talvez menos... como pode olhar-se no espelho, como pode sorrir?
Os brasileiros com todas as suas dificuldades financeiras ainda conseguem ser mais cuidadosos que muita gente com melhor condição de vida. Ao menos falo pelo sul do Brasil em que mesmo o pessoal das favelas usa aparelho nos dentes. Isto mesmo! Não é raro ver pessoas humildes com aparelhos ortodônticos e com todos os dentes na boca. Talvez seja cultural, nós com a mania das aparências e do corpo nos trinques, vai daí que arrancar um dente por não querer pagar o tratamento é coisa que não nos entre na cabeça. Então, um dente é para a vida toda! Não nasce outro no lugar. Também as políticas de tratamentos de graça oferecidos pelos estagiários em odontologia, ou nos postos do governo ou nos consultórios particulares financiados em planos de 36x.
Hoje agradeço a minha mãe e ao meu padastro por terem me dado a oportunidade de consertar meus dentes que eram bem tortos. E posso dizer que o meu sorriso é uma das coisas que mais gosto em mim.
domingo, 24 de novembro de 2013
A elefanta
Em cima de nós mora uma elefanta. Uma elefanta de tamanco holandês, ora vejam. Enquanto do lado direito da casa temos um vizinho simpático que ainda pergunta-se do incômodo que é o ouvir partir lenha às quatro da tarde, do outro lado tenho uma elefanta que olha, usa tamancos de holandês. Nunca bati olho no olho com a minha vizinha do lado de lá, só a vejo quando estou fechando ou abrindo as janelas e ela e o marido passam de carro ou indo ou saindo dele. Só a vejo de longe e sei que é gorda. O marido também é, mas é ela que a tem mais consistente. Eles chegaram com o caminhão da mudança no dia seguinte a minha vinda e o proprietário da casa veio com ela até aqui e a apresentou ao marido, dizendo que era do Irã. Agora acho que deve ser por isto mesmo, deve estar acostumada a viver no deserto e Jesus, passa o dia inteiro a andar por cima das nossas cabeças. Não sei como é gorda!! A menos que ande com uma bandeja de bolo nas mãos. Não sou uma pessoa chata (embora o marido discorde), sou razoável com barulhos, tanto que vez por outra escutamos o do lado esquerdo, mas também sou consciente de que sou uma boa vizinha: nunca faço bagunça, nem escuto música alta, nem trepo para todo mundo ouvir, nem deixo meu filho gritar, nem nada. Depois das nove e meia ainda temos mais cuidado porque sabemos que ambos os vizinhos tem filhos bebês e não os queremos incomodar. Agora santa paciência, não acho normal a elefanta andar de madrugada inclusive a pular nas nossas cabeças e a subir e descer as escadas que levam para o terceiro andar onde deve ser o quarto do menino, e nestas pulanças acaba por acordar o meu. Que coitado, dorme bem embaixo da escada onde é a sala deles. Quando o vizinho do lado direito veio falar conosco, o meu marido disse que não nos importamos com o barulho que faz, mas que deusolivre esta outra vizinha!! Ao que ele também respondeu apavorado: parece que ela está na nossa casa! Já eu acho que qualquer hora vai cair na minha cabeça. Se notarem isto muito às moscas já sabem.
Agora sou boazinha e tento ser paciente e consegui por quase três meses, mas este sábado não me contive. Eram sete da manhã de um sábado merdoso de frio e a elefanta a andar para lá e para cá. Pum pum pum. Pum pum pum. O Fabian já tinha passado para a nossa cama e nenhum de nós conseguíamos dormir. Irritei-me. Busquei a vassoura e dei-lhe com força no teto. Uma, duas, três vezes. Os passos vacilaram. Será comigo? Oh! E eu: si'l te plaît!!! Silenceeee!!! Meerrrrrrde!! Dei-lhe mais vezes. Meus gritos era qualquer coisa de louca, roucos e focados na raiva. Os passos amainaram, ficaram mais tímidos por horas e horas. Estranhei o marido não ter me impedido e nem ter falado nada quando finalmente voltei para a cama. Mas pela noite, encostou-se a mim na cozinha e disse que tinha segurado o riso de me ouvir xingando em francês. Começou a me imitar e eu caí na risada literalmente, ri-me tanto, acho que a vizinha pensa que sou de fato uma louca. Só sinto falta de não saber tantos palavrões quanto gostaria. Não é lá a primeira coisa que se faz quando aprendemos uma língua?
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