Ser emigrante depois de um tempo deixa de ser uma condição quiçá temporária e passa a ser um estado de espírito. Andar pelas ruas que não nos conhecem à procura de rostos familiares, de traços do passado que tentamos forçosamente que se encaixem no presente. Ser emigrante é sentir-se só, desenquadrado, por mais que tenhamos amigos ao nosso redor. É andar por entre lembranças em uma constante procura de sentir-se pertencente, protegido. É aprender que lar não é somente um lugar qualquer a que fixamos morada, lar é a conexão à uma identidade em constante mutação. É sorrir quando comentários muitas vezes invejosos, vindos de quem não teve a coragem de mudar, ao ver que sim, nossa vida não é só primavera. É tentar nos convencer das coisas boas que nos prendem aqui, porque a pior coisa é viver na indecisão e arrependimento.
Ser emigrante é talvez a forma mais rápida e eficaz para amadurecer ou envelhecer, depende de como o encaramos. Aceitar, aprender a viver com esta condição de que não cabemos mais em nós mesmos, não cabemos mais em rótulos "brasileiro", "português", "francês"...estamos além e ao mesmo tempo, no ponto de partida. É perceber que quanto mais nos afastamos, mais nos aproximamos de nós.