domingo, 29 de dezembro de 2013

Comigo é assim

Falei uma, duas e três vezes e já não me interessa se é de propósito ou não. Pela terceira vez meu sofá branco foi riscado e a minha resposta foi: desenho em casa nunca mais. Para o diabo que a carregue "expressão artística", se quiser desenhar que o faça na escola. Aqui não tem palminhas para sofás riscalhados, nem moldura em parede pixada. Aqui tem educação, pois que se não for assim daqui a pouco estamos como? O rapaz já quebrou a tv de plasma da minha mãe e lá não pude fazer nada porque não deixaram, mas aqui... ai ai, ele que não pense nisto ou vai lembrar-se por muito tempo. Acho o "Ó" os pais que aplaudem estas "artes" dos filhos, e soltam um resignado "crianças são assim mesmo, querias  o que?".  Será que há meio século atrás era assim ou as crianças andam com as manguinhas muito de fora ultimamente e ninguém quer fazer nada por isto? Pois aqui não.

sábado, 28 de dezembro de 2013

Elisa (parte 6)

Era uma tarde morna de verão quando o rei aproximou-se de seu fiel amigo. Tinha os poucos cabelos loiros que emolduravam a careca a reluzirem no sol. Stephane notou que depois da última campanha, esta tinha aumentado ainda mais. Philippe tomava largos goles do vinho em um cantil de couro com o bico trabalhado em prata. Ofereceu-lhe, mas ele recusou. Não sabe se era do calor ou da saudade da mulher ou do medo de ser descoberto, mas ultimamente fazia o possível para não beber, principalmente quando estavam apenas os dois.
Philippe quebrou o silêncio com sua voz pastosa:
- Parece que vou ter outro filho.
- É mesmo? Parabéns...e que seja homem! - Falou sem demorar-se nos olhos azuis do rei.
- O que houve meu amigo? Não está feliz com o teu rei? 
- Não é isto... - disse o cavaleiro vacilando no tom de voz. - É que faz muito tempo que não vejo os meus. Minha mulher não mandou notícias da última vez que o mercador por lá passou. E a novidade fez-me lembrar do meu pequeno, imagino que esteja quase a andar por suas próprias pernas! - Philippe estalou os beiços pensando que a missão do amigo já tinha terminado há mais de duas luas. Não tinha razões para prendê-lo por mais tempo.
- Então façamos assim: ficas até a festa de anunciação e depois vais para casa. Que tal? - Deu-lhe dois tapas nos ombros como permitia uma amizade que ia desde a adolescência. Amizade esta que a estupidez de sua rainha estava prestes a desmoronar.
Stephane aceitou desta vez um pouco do vinho e nunca o líquido desceu-lhe tão mal pela garganta.
Dominic enchia as mãos de terra e ria quando Marie tentava impedi-lo de colocá-las na boca. Elisa observava da janela enquanto fiava um fio muito fino e tingido de amarelo, que serviria depois para mais uma roupa para o filho. Ao longe na estrada de pedras, aproximava-se o cavalo negro do marido, era uma imagem tão esperada que quando finalmente se tornara real, ela não conseguia acreditar. Dez meses e alguns dias era o que os havia separado. Quando ele partiu, Elisa viu-se livre pela primeira vez na vida e ao invés de ficar imensamente feliz sendo senhora de si mesma e da sua própria casa, começou a sentir um vazio estranho. As folhas balançaram nos galhos, o frio chegou, a chuva, a neve, o orvalho. O sorriso do filho, as gracinhas, viu que já sentava sozinho e agora tentava por-se em pé segurando-se  nos móveis. Quando olhava para Dominic ainda lembrava mais do pai, ele tinha os seus olhos, a sua boca e os cabelos em caracóis. Fora tanto tempo a sonhar com sua vinda que agora era difícil acreditar que ele finalmente voltara. A pergunta agora era "por quanto tempo"?
O marido apeou do cavalo já com os dentes em fileira, agarrou no bebê que o olhou curioso e lhe apertou o nariz. Stephane sorriu e voltou a pô-lo no chão para agarrar a esposa que se encontrava estacada na porta. Pegou-a no colo e mordeu seus lábios com fúria:
- Achava que te livravas fácil de mim, minha pequena? - Elisa viu-se agarrando seu pescoço e permitindo outras demonstrações de carinho.
A mulher gemia quando a outra lhe amarrava o ventre. Todas as manhãs Vianca se submetia a esta pequena sessão de tortura, pois era a única maneira de tornar credível que aquele filho que esperava era legítimo. Às vezes virava para a criada e dizia para apertar mais.
- Mas vai fazer mal ao bebê minha Senhora...
- Aperta! - Dizia com a voz entrecortada de dor.
Tinha certeza de que esperava um menino. Tivera um sonho um mês antes do marido partir, em que via um homem de peito largo e cabelos escuros a vir em sua direção com o pênis ereto. Este homem dizia para que deitasse que ia lhe dar o que o frouxo do seu marido não conseguira. Vianca acordou sobressaltada e ao mesmo tempo com vergonha e molhada de desejo. Não viu o rosto do amante, nem encaixou-o em nenhum dos homens que cruzava diariamente, mas quando o rei anunciou que  ia deixá-la nas mãos de Stephane, seu melhor cavaleiro, fez-se luz.
Com a chegada da décima lua, Vianca viu concretizar-se o maior desejo de uma rainha, a parteira lhe estendia entre panos ainda úmidos de sangue, o menino que havia lhe sido prometido. Chorava de alegria. Era mais de dez anos de tentativas frustradas, de cochichos nos corredores de que tinha o ventre amaldiçoado, de preocupação do marido a pairar sobre alguma disputa futura e provável desmantelamento de seu reino, caso não conseguisse uma boa aliança através de Aurélie. Agora finalmente podia sentir-se segura ou pelo menos o que permitisse de segurança a alta mortalidade infantil daqueles tempos. Se tudo corresse bem nos primeiros anos e se a peste mantivesse-se afastada dali, era bem possível que ele chegasse a rei.
Quando levaram o bebê para Philippe, ele o carregou e foi em direção à lareira para vê-lo melhor. Não perecia nada com um prematuro, embora ele não soubesse grande coisa de prematuros, sabia de outros três bebês de termo que havia segurado anos antes. E este lhe parecia bem robusto, tanto quanto suas filhas o foram. Perscrutou os olhos cinzentos e indefinidos do recém nascido. Talvez ficassem verdes... Depois reparou nas bochechas rosadas e no cabelo negro. Aurélie tinha os cabelos assim quando nasceu e depois caíram para darem lugar a uma cabeleira loura e farta. Suspirou, antes de devolvê-lo para os braços da aia.
- Diga para a Senhora Vianca que é com muita satisfação que o nosso herdeiro carregará o nome do meu avô. Ele vai se chamar Fernand Gautier. - A moça assentiu e saiu silenciosamente, fechando a porta logo atrás de si.
Os meses passaram e a desconfiança aumentava para Philippe. Os cabelos do pequeno Fernand cresciam ainda mais escuros e formavam pequenos caracóis nas pontas. Procurava em vão a lembrança de algum parente a quem tivesse puxado e pela sua parte não fora. Os olhos eram de fato verdes como os de sua mãe e por mais que procurasse parecenças entre eles, sentia ao invés disto, uma raiva crescente em direção à alegria incontida de Vianca. Sabia que a mulher tivera amantes, durante sua vida conjugal ele não fizera questão de conquistar sua simpatia, muito menos o seu corpo. No entanto ela tinha conhecimento de que seus casos, tanto como os dele, tinham de ser discretos e mais ainda, não poderiam nunca lhe trazer um bastardo à porta. No fundo sabia que aquele menino não era seu, mas e agora: continuava com a farsa ou ameaçava tudo que sua linhagem conquistara até então? À medida que as pessoas iam tomando ciência da aparência do futuro rei, cresciam rumores de que este podia não ter legitimidade para reinar. Já cansado de ser alvo de intrigas, Philippe encostou literalmente Vianca à parede.
- Não sei do que o Senhor está falando. Este filho é teu, o sangue dos Bourdignon e Gautier lhe corre nas veias!
- Vou perguntar pela última vez antes de eu mesmo começar a apunhalar tuas criadas pessoais. - Calmamente o homem retirou a adaga e depositou no leito da esposa. Vianca tinha os cabelos soltos e suados, seu peito pulsava ao ritmo do galope de um garanhão selvagem. - Quem é o pai deste menino?
- Posso contar, mas o Senhor promete-me que não irá matá-lo?
- Prometo.
- Foi Stephane... - A mulher deixou cair o seu nome no silêncio carregado da expectativa do marido.
- Desgraçado...como pôde? - Esbravejou o rei ferido de forma fatal em seu orgulho. Poderia esperar de qualquer um, de François, o capelão, de Marc, o chefe da guarda, de qualquer camponês ou harpista, mas nunca dele... Jamais dele... Especialmente ele a quem confiava sua própria vida, suas filhas e seu espólio. Na verdade parte dele sabia, o rapazinho puxava-lhe o tamanho e muito de suas expressões. Se passasse mais tempo com ele, teria chegado a esta conclusão sem ao menos ter de perguntar à Vianca. Guardou novamente a adaga com os olhos pregados no rosto pálido de sua algoz: Vou matá-lo.
- M...mas tinhas dado a tua palavra de honra que não farias nada...
- E não vou fazer nada...ao menino. Já ao pai...nunca te alimentei esperanças, minha Senhora. Tu mesma é que o fizeste. - disse isto e saiu com meia dúzia de homens para além dos muros altos e sombrios. E a rainha desconfiava que o coração do marido jazia igualmente em um fosso tão fundo quanto o que separava o mundo do castelo de pedra.

Elisa (parte 5)

Stephane olhava para a tapeçaria pendurada no outro lado do quarto. Uma mulher nua em tamanho real rodeada de anjos, os seios com róseas auréolas lembrou-lhe Elisa. Mas esta ultimamente os tinha escuros enquanto amamentava o pequeno. Tinha saudades daquela potrinha selvagem, como a chamava em pensamento e, a imagem dela a pairar sobre seus pés delicados, seus cabelos longos em tranças cheirando a gardênias, invadiu-lhe como uma onda de melancolia sem fim. Fechou os olhos de forma a que a imagem desaparecesse, afinal não estava acostumado à tristeza, mas a escuridão apenas pareceu engoli-lo com suas mãos de fêmea ardilosa. Stephane voltou a abrir os olhos, o quarto na semi-penumbra lhe garantia que faltava pouco para o dia amanhecer. Suspirou devagar e levantou-se sem grande alarde, vestiu a camisa de dormir, passou os dedos nos cabelos desgranhados e deixou os aposentos da rainha. 
Vianca levantou-se bem disposta, aliás era difícil o dia em que não estava feliz aquando a ausência do rei. Sentou-se à mesa e começou a enfardar biscoitos de mel com um copo de cevada. Virou-se complacentemente para Aurélie, sua filha mais velha e ofereceu-lhe um dos doces de seu próprio prato. A menina pegou e colocou-o todo na boca, sem conseguir mastigar. Vianca desta vez fingiu que não tinha visto aqueles modos de "camponesa", tinha passado uma ótima noite e não era isto que iria lhe incomodar. 
- Onde está Monsieur Stephane? - Falou da foma mais fria e distante que conseguiu. 
- Está na cocheira com o seu cavalariço, minha Senhora. - Respondeu humildemente a criada.
- Manda-lhe encontrar-me no grande salão...após o almoço. 
Stephane entrou trazendo um pouco de barro nos pés. Tinha ainda os pingos da chuva nos cabelos e o manto sobre a armadura. Fez uma vênia e beijou-lhe a mão. Vianca se encontrava sentada no cadeirão de madeira escura em frente à grande lareira a bordar. Sorriu com seus olhos verdes a acompanhar seu rosto redondo e os cabelos ruivos presos no alto da cabeça. Toda ela sorria nestes últimos meses em que Stephane fazia-lhe companhia  noturna, em que aquelas mãos ávidas exploravam seu corpo roliço e um tanto esquecido da arte do sexo. Stephane fora o primeiro homem que tinha lhe dado prazer, tinha paciência para fazê-la extasiar-se com o orgasmo e quando este vinha, a fazia gemer como uma porca. 
- A Senhora precisa de alguma coisa?
- Senta-te, preciso contar-te.
O homem moreno e alto sentou-se em outra cadeira menor que era destinada às aias de companhia da rainha. Sentia-se quase a representar uma peça, como se soubesse o que era isto...
- Estou de esperanças, Stephane.
- Como assim? - Franziu o cenho surpreso com a ingenuidade ou burrice da mulher, que por certo tinha muitas formas de evitar tamanho desastre.
- Tu sabes como. Sou uma mulher que já não vai para nova, meu querido. Já passei dos trinta e só consegui dar ao Senhor Philippe três filhas e nenhum herdeiro. - Continuou fingindo não ver a cara de desgosto do amante. Passava a agulha para lá e para cá, desenhando a figura de uma cruz. - Faz muito tempo que ele não visita a minha cama e não acredito que tencionava fazer nos próximos anos... Eu não esperava realmente que isto voltasse a acontecer tão rápido. Não me cuidei e não me apeteceu tomar os chás.
- Não vos apeteceu?
- Eu vou ter este filho Stephane. - Os olhos verdes trovejaram de teimosia.
- A Senhora não sabe o que está fazendo...
- O rei voltará em uma semana, por acaso desconhece que depois da guerra nascem muitos "prematuros"?
- É disto que tenho medo.
- Pode ir agora. - Ela sorria triunfante.
Stephane saiu chutando o que encontrou pela frente, pedras, baldes, e quase o franzino cavalariço que lhe forneceu as rédeas do seu cavalo. Montou-o, deu-lhe com raiva na barriga e o animal saiu em disparada tomando o rumo dos celeiros reais. 

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Elisa (parte 4)

Elisa tinha escutado a parteira e tentava apertar a barriga, procurando algum sinal como aqueles que tinha lhe presenteado semanas antes. Um chute, um pé no umbigo. Nada. Permanecia tudo em silêncio dentro de si. Stephane preferiu dormir no quarto de hóspedes para lhe dar mais conforto e Marie dormitava encostada na cadeira ao lado da cama. Lágrimas grossas rolaram, entrando nos lábios, salgando a saliva. Nunca lhe passou pela cabeça pôr a vida do pequeno em risco, mas inconscientemente fora tudo que fizera nestes meses. Talvez fosse uma forma de machucar o marido ou a imagem de esposa que estava se tornando. Tola, tola! Repetia para ela mesma. Se pudesse voltar atrás... 
A mão continuava pousada sobre o ventre numa esperança teimosa de que ainda havia outro coração a pulsar além do seu. De repente, entre súplicas silenciosas à Virgem e ao padre Jacques, algo mexeu-se. No início pareceu uma revoada de pequenas bolhas e depois, de forma mais vigorosa, empurrou-lhe a carne formando um coto. A jovem sorriu entre lágrimas: 
- Ele vive! Ele vive!
Pela manhã, Marie trouxera um copo de leite morno e vibrou ao saber da novidade. Stephane surgiu somente durante a tarde, já aliviado por saber que estavam bem. A parteira achou melhor que a esposa passasse o resto da gravidez em repouso absoluto. Desta forma, por todo o período que faltava e inclusive na primeira quarentena do bebê, Marie ficaria a dormir no quarto ao lado para auxiliar sua senhora.
 O homem sentou-se muito próximo e em um movimento que não era comum, pousou a grande mão sobre a barriga de Elisa. Sentindo o toque, o pequeno ser revirou-se e pela primeira vez o Campeão do rei pôde sentir a vida que ajudara a gerar. Tinha os olhos úmidos e imaginou que por instantes quase perdera ambos. Apesar de sua vida notívaga, não estava mais acostumado a ser só. E se esta necessidade de ter os seus por perto era amor, não sabia, aliás, de amor não sabia nada além das canções dos  trovadores quando os havia na taberna. Com a mão desocupada, retirou um objeto do saco que trazia, colocando-o na mesa perto da cabeceira. 
- Toma, o padre Jacques garantiu-me que ainda não leste este aqui. - Beijou a mão da moça e deixou-a, ainda a tempo de escutar  um "obrigada" em uma voz tímida e fugidia.
Os dias passaram vagarosamente, já havia registrado todas as ilustrações do livro de horas que Stephane lhe ofereceu de aniversário. A parteira a visitava regularmente, pelo menos uma vez na semana. Era a forma do marido mostrar toda sua preocupação para com o destino dela e do rebento. Sabia que estava para parir a qualquer momento, sentia as costas doloridas, o peso dele em suas entranhas que a reviravam por completo até quase ter certeza de que a pequena parte de seu pulmão, habitava espremido na garganta. Naquele dia sentia-se particularmente enjoada, não conseguiu comer nada por mais que Marie insistisse. A criada notando seu mal estar, resolveu não se ausentar para muito longe. Quando Elisa tentou sentar-se, uma dor funda lhe percorreu a espinha e não muito tempo depois, um líquido quente jorrou pelos lençóis não sabe se trazendo alegria ou medo.
 A certa altura perdeu a noção do tempo. As vozes foram ficando cada vez mais pequeninas, a visão lhe parecia embaçada. Apenas escutava de muito longe: faz força! Empurra! E Elisa desmaiava com aquela dor que queria revirá-la do avesso. Gruía quando era acordada aos tapas pela parteira e pelos gemidos ansiosos de Marie. O quarto cheirava a sangue e seu próprio suor. Dava graças por não ver grande coisa além disto, pois se visse ia desesperar-se com a quantidade de panos encarnados que se encontravam encharcados. Ouviu a mulher gorda a falar para a outra que a criança não saía porque estava atravessada. Sentiu que ela depositou os braços pesados e fez força, girando sobre sua barriga. Empurra! Ouviu por entre dentes e obedeceu como se sua vida dependesse disto e na verdade dependia. Juntou as resmas de vitalidade que tinha e fez, seu ato encheu as mãos da criada que sorria enquanto um corpo minúsculo se debatia entre vagidos.
- Este nasceu com sorte. Ainda tem o verão pela frente para se fortalecer, quando o frio chegar já deve estar preparado. Só temos de garantir que ela tenha bom leite. Dê-lhe muita cevada. - dirigia-se à Marie que já tinha a criança mais ou menos limpa entre os braços.
Elisa dormia enquanto Stephane lhe beijou os lábios com Dominic no colo. Ela abriu os olhos e ele lhe confidenciou: é homem! Ela não fez qualquer menção de pegá-lo, estava completamente entregue à exaustão. Tinha lutado mais de doze horas e só o que queria depois de saber que estava tudo bem, era entregar-se ao sono dos justos.
Dominic chorava quando lhe tirava do peito. Mas Elisa sabia que não mamava, apenas gostava de sugar seus mamilos. O marido tinha lhe sugerido uma ama, podia lhe pagar uma camponesa das redondezas para vir algumas vezes por dia alimentá-lo, mas ela não quis. Já sentia-se mal o suficiente por  ter tido uma gravidez irresponsável. Olhou para o lado vazio da cama: Stephane se encontrava por trás dos muros do rei. Lá, naquele castelo o qual ele tanto falava e que tinha as melhores comidas e músicos que havia escutado. Elisa pensou com algum desgosto que por certo as mulheres mais belas também.
 Fazia quase um mês que não o via, para o seu azar Stephane era um dos cavaleiros de confiançaos quais o rei mantinha para guardar a rainha quando ele não estava. Viviam uma vida de guerras, em algum lugar sempre havia um herdeiro insatisfeito, um vassalo que não fora recompensado devidamente, um casamento mal arranjado, qualquer coisa que desequilibrasse o frágil sistema, explodia em disputas e mortes. Até quando todos os reis subjugassem sua sede de poder sob a égide de apenas um, Elisa imaginava que teria muitas noites ainda sem o marido por perto. Estranhamente sentia sua falta, quando não bebia, Stephane era um marido atencioso e um bom pai que garantia-lhes que nada faltasse em sua casa.
O filho aprendeu a segurar sua própria cabeça e ela sorriu enquanto lhe acariciava os cabelos negros e finos:
- Agora que já  ergues o maior bem que possues, nunca meu Dominic, nunca a abaixes para ninguém que não mereça.

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