Se houvesse feito uma resolução de ano novo seria a de parar de me comparar com os outros, ou pelo menos começar a fazê-lo somente com quem tem menos que eu. E isto se deve porque há mais ou menos dez meses minha tia descobriu que tem leucemia, mas não é uma qualquer, é das mais letais, daquelas que dão quase que maioritariamente em crianças. Já fez o tratamento que durou nove meses e tinha muita fé de que não precisasse de mais nada. No entanto se não achar um doador, é apenas uma questão de tempo e de mais tratamentos paliativos para mantê-la entre nós. A tia levou a doença por assim dizer, não o contrário, fez questão de continuar a fazer tudo o que exige uma rotina com três filhos pequenos, sendo a mais nova ainda bebê. Mas esta notícia com que não contava ou, pelo menos fingia que a médica não verbalizaria com todas as letras doloridas, a fez permanecer em silêncio. Não atendeu meus telefonemas para desejar-lhe bom ano.
Em todas as outras vezes que liguei para saber deles, a tia optou por não falar muito sobre a doença, falávamos sobre os filhos, sobre as caduquices da minha vó que está lá "segurando as pontas", sobre o frio daqui, o calor do Rio, enfim... Nunca insisti, mas mantive-me aberta caso ela quisesse desabafar, mas não o fez e talvez agora menos ainda. Diante de casos destes, parece-me tão mesquinho pedir qualquer coisa que não seja mais saúde, pelo menos eu acho, até porque felicidade e paz é como diz o outro: é a gente que faz...
Em todas as outras vezes que liguei para saber deles, a tia optou por não falar muito sobre a doença, falávamos sobre os filhos, sobre as caduquices da minha vó que está lá "segurando as pontas", sobre o frio daqui, o calor do Rio, enfim... Nunca insisti, mas mantive-me aberta caso ela quisesse desabafar, mas não o fez e talvez agora menos ainda. Diante de casos destes, parece-me tão mesquinho pedir qualquer coisa que não seja mais saúde, pelo menos eu acho, até porque felicidade e paz é como diz o outro: é a gente que faz...