sábado, 4 de janeiro de 2014

Poesia do cotidiano

Ao ir lavar a louça e com minha mania de fazer as coisas na penumbra, reparo na árvore do vizinho bem em frente à janela. Os galhos secos e torcidos desvendavam as gotas de chuva sobreviventes que por sua vez brilhavam pela luz que recebiam do poste do outro lado da rua. Era uma árvore de Natal à moda da própria natureza, ali enquanto ia fazer uma das coisas mais chatas da vida doméstica.




Tá certo que as fotos não ficaram grande coisa, mas o que vale é a intenção.

Para que não haja dúvidas



Tenho um medo absurdo quando me perguntam o que eu faço. Não é por ter vergonha de ser dona de casa, mas é mais pela dicotomia entre dizer ou não que sou formada em História. É o olhar de susto das pessoas como se eu fosse um ser extra terrestre que às vezes pode significar nada menos do que pena, se vocês soubessem a situação dos professores no Brasil... 
O medo é justamente da percepção da maioria das pessoas que me acham automaticamente com cara de calendário e sacam de lá uma pergunta: sabe o que aconteceu no dia 18 de abril do século XIX na Rússia? Peraí, calma na carroça. Eu não sei a história do mundo desde que os primeiros homens das cavernas descobriram o fogo. E mais: eu não sei toda a história moderna, desconheço uma série de coisas umas por que não me interessei em saber e outras porque simplesmente não caberia na minha na cabeça, é possível, acreditem! É mais ou menos como exigir que um médico seja perito em uma doença a qual não é sua especialidade. 
Quando lembro-me da cara que os meus colegas de Psicologia faziam quando tínhamos umas meras vinte folhas de um artigo para uma aula, eu ria por dentro. Tá certo que era em inglês, mas nada bate as 100 páginas que tínhamos de ler apenas para uma aula das sete cadeira que estávamos matriculados. Eu li tanto, mas tanto nestes quatro anos que acho que isto devia valer para que no resto da minha vida não precisasse tocar em nenhuma linha.
 Não é só porque é preciso fazer um recorte na História, não é só porque aprendemos a história do Brasil desde os descobrimentos até Jango com descompassos cronológicos ou a história Medieval até a Moderna européia, ficando de fora (embora fossem opcionais) estudos africanos, período pós Guerra Fria, história da Ásia, e América do Norte, etc. É porque para cada assunto chave (ou seja quase todos já que estão no currículo do curso) tínhamos vários pontos de vista de vários historiadores de vários períodos históricos. Para quem tá de fora fica difícil entender, mas a história é mais ou menos como um jogo de detetive, as pessoas vão te dando pistas e temos de ser nós mesmos a "descobrir" quem matou a Dona Branca com o castiçal  na sala de música. Não é nada daquilo que Hollywood faz para aparecer Mel Gibson e seus olhos azuis e litros de sangue artificial. Ou até é se formos analisar como o século vinte fez a releitura sobre determinado fato histórico. Mas como ia dizendo, a História não é uma história como aquelas dos livros infantis, com início meio e fim. É mais parecida com um enredo maleável ao qual milhares de cabeças se juntaram em anos diferentes para dar forma aos personagens que são tão movimentados, (re)inventados e (re)costurados que deles mesmos pouco se sabe. Na história o protagonista somos (e fomos) nós desde sempre.

Chinelinhos à porta

Ainda não sei o quão amplo é este hábito entre franceses (mas já fui em uma casa assim), sei que lá no oriente esta coisa de deixar os chinelos na porta é um sinal de respeito (pelo menos para os chineses e japoneses dos filmes). Quanto aos árabes desconheço a razão e pelos alemães sei que é uma coisa que tem a ver com a sujeira ou a neve nos calçados. Posso imaginar...faz sentido. Quando há neve. Ou barro. E o pior é quando nem calçam os chinelos e andam de meias mesmo. 
Para mim isto não passa de uma neurose braba com limpeza e olha que de neuroses de limpeza eu entendo. Eu sei que estamos no país deles e bla bla bla, em Roma seja como os romanos, maaaaaas na minha casa mando eu. Se eu vou de visita a uma casa cujos moradores tem o seu fetiche por pés semi-desnudos, ótimo, que remédio... Agora aqui em casa não! Por favor, detesto que andem de meia! E depois o estado que ela fica, toda preta, ainda vão dizer que não limpo direito o chão. Tem outra coisa: não consigo me desviar da lembrança da minha querida vó e da sua honrada preocupação pelo frio nos  meus membros inferiores. Escuto ela dizer: vai botar os chinelos guria, vai gelar estes pés! Fora o barulho que faz, é o mesmo dos meus vizinhos de cima que eu tenho certeza de que não usam chinelos. Tum tum tum. Bah!!! A solução é por uma plaquinha no hall: "Il est interdit de marcher en chaussettes."  Ou isto ou compro uns pares de pantufas extras.

Pronto: isto deve satisfazer ambas as partes.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Da segurança

Antes de sair ocorre um dilema existencial aqui em casa: fechamos ou não as janelas? Pode parecer uma cena boba, mas faz todo o sentido para quem já morou no Brasil. Isto porque aqui quase não vemos muros, pelo menos não daqueles versão penitenciária de segurança máxima com todos os arames e cerca elétrica para "adoçar" a vida de quem ousar escalá-los. Moramos em uma casa "alsaciana" em que o portão fica 24 horas por dia aberto, claro que temos de pensar no lixo não? Por isto as casas como as nossas que possuem quintal, deixam apenas encostado quando não escancarado como é o nosso caso. Ninguém entra mesmo a não ser o pessoal da limpeza urbana, os lixeiros que vem à noite. 
Aí o marido começa na sua excursão a fechar os trincos das janelas, sim eu disse trincos! É apenas um pedacinho de metal encaixado em uma argola e por trás só mesmo o vidro. E eu fico imaginando no quão louco pode parecer o desespero de sair e confiar na casa direitinha, fechadinha, na esperança de voltar e encontrarmos tudo no lugar. Daí fechamos tudo sem nos dar conta da janela da cozinha que deve ter para aí um metro e cinquenta de diâmetro de apenas vidro... que dá diretamente para o quintal do vizinho... cujo portão está sempre aberto...

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