sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Bonitinha indelicada



O problema do bom senso, é todo mundo achar que tem.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Eu canso

Costumo racionalizar: há um certo tipo de pessoas com uma visão tão estreita, mas tão estreita que só conseguem correr atrás do próprio rabo, como os cães. Mês passado rolou uma lista elaborada supostamente por um estado unidense sobre as vinte coisas que mais detestou no Brasil. A liberdade de expressão está aí para isto, no entanto o que deixa-me boquiaberta é a facilidade com que se enquadram 200 milhões de pessoas em um esteriótipo que começa do ladrão, mau caráter, egoísta, e por aí vai. E o pior de tudo nem é a visão (ridícula de tão infantil, mas pronto) de um sujeito que viveu um lado pequenino de um país continental, mas os próprios brasileiros a abaixar a bunda para gringo e dizer "pise-me, pode passar". Jesus como me revolta. Porque já morei fora, esta é a minha segunda experiência de emigrante e pessoas mal educadas, que querem levar vantagem, corruptas, existem em todo o lugar, inclusive entre os turistas branquinhos de olhos azuis. 
Os brasileiros que viram-se com fúria para dizer: concordo com tudo, os brasileiros são assim mesmo. Dá vontade de perguntar se ele bate carteira no ônibus, se a sua mãe rebola de fio dental nos bailes funk ou se seu pai é algum vagabundo que passa a tarde a entornar trago no bar. Ah não? Porque se entramos na visão ridícula de colocar todos sob um estereótipo, não podemos esquecer que aqueles que conhecemos também fazem parte do mesmo.  As pessoas julgam-se especiais, todos são assim menos ela e os familiares e amigos, jura? A partir de agora vai um vídeo como resposta a este tipo de pensamento, com a palavra, Caetano:


Os sobreviventes



Hoje na hora do almoço o marido deu para desenterrar o programa de um velhinho português que corria seu país a fora em busca da história de vilas, principalmente aquelas que agonizavam cujos habitantes se contavam nos dedos das mãos. Lembrou de um caso de três casais idosos que eram os únicos que ainda restavam no vilarejo, filmaram a festa das castanhas, os seis sentados com duas ou três no prato e um copo de vinho. O olhar mortificado, quase inanimado, olhar de solidão, de resistência ao próprio existir. Não iam embora, ali era a casa que se fizeram homens e mulheres, que tiveram os filhos, que os viu crescer e ir-se para nunca mais retornarem. Que conversa boa para um almoço, olha lá. Mas ao escutar e imaginar a cena, lembrei-me de Josué Guimarães, do "Enquanto a noite não chega". O livro conta a história de um casal de idosos que são os únicos habitantes que ficaram na cidade, com a exceção do coveiro (não tão jovem) que esperava suas mortes para enfim partir. Os dias eram passados a recordar da vida que existia na cidade, a olhar para as casas e reviver os mortos, os vizinhos a conversarem na cerca, as crianças a correrem e subirem nos pés de pêssegos, laranjas e goiabas. Os dias eram à espera da morte e a profunda esperança que ela lhes levasse em conjunto...até que o coveiro morreu e restou apenas os dois. A escassez  de comida, a pobreza das casas caiadas e de piso de chão batido...uma tristeza sem fim. Chorei quase todas as vezes que começava a ler e por incrível que pareça tenho uma saudade dos personagens quase como se os conhecesse. Naquela conversa os vi a secar o chimarrão no sol para que pudessem tomar outra vez, e outra e outra vez. Para aquecer. Para esquecer. Da vida que já não os circundava e da morte que demorava a chegar.

Enquanto isto, nas aulas de francês...

Il aime la Russie. Pourquoi il ne retourner pas?


É muito interessante analisar o sotaque carregado que cada um de nós luta para diminuir. É estranho porque parece ser uma briga travada entre o que somos e o que queremos ser... como se um pedacinho de nós se recusasse a morrer ou  dar lugar para outra coisa nascer em troca.
 Hoje o professor da outra turma não foi, tivemos aula com os antigos colegas de antes de nos separarmos. Pude ver o quanto evoluiu uma menina do Kosovo, cujos olhos verdes apertavam tanto quanto a sua vontade de compreender o que a professora falava. E quase sempre não conseguia. Hoje entende e fala algumas frases ainda estilo índio, como a maioria de nós. Voltei a ver a mulher do Uzbequistão com cara de pomba: o nariz aquilino, o corpo franzino e levemente gorducho e a fronte que o lenço deixava observar, envergava uns óculos transparentes e grossos. Quando ela ria ficava mesmo parecida com uma pombinha, encolhia os ombros, a cabeça e o nariz quase como se fosse apanhar tímida e rapidamente um miolo de pão ao chão. 
Pela segunda vez Araiek (não tenho certeza se é assim) escreveu sobre o quanto ama a Rússia e a professora sai de lá com uma resposta um pouco mais polida que o tradicional "volta para a tua terra". Ao invés disto perguntou o que afinal fazia na França, porque estava aqui? Como se não soubesse a quantidade de abonos que estas pessoas recebem pelo simples fato de estar em solo francês. Vim pensando nisto enquanto encontro a mãe chinesa (ou coisa que o valha) de um dos colegas do Fabian. Ela tem um jeito característico de caminhar com as pernas abertas, o cabelo comprido que desistiu de ser ruivo, com uma enorme raiz escura de uns bons vinte centímetros. Vinha ela  na minha frente, muito apressada como quase todos os pais que buscam seus filhos. De vez em quando traz o outro menino de uns dez meses junto, embora a maioria das vezes venha sozinha. Abaixou-se e pude ver que estava grávida de uns sete meses, talvez mais. É... eu disse pro marido, ou ele ganha aumento, ou fazemos mais filhos. Assim não dá.
Web Statistics