segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Não me toque

Desconfio de soluções fáceis, principalmente no que diz respeito a se adaptar. Não é tão simples como trocar o chip de um celular e isto que nem estou falando da língua. É claro que sentir-se bem em outro país é uma questão relativa, há quem consiga em três anos e quem o faça em dez. No entanto acho que faz parte da nossa natureza comparar os modos de ser com o nosso. E é em plena era do "estranhamento" a que me encontro. Já sabia que os franceses, para falar a verdade os europeus no geral são mais fechados que os brasileiros. A diferença é que em Portugal depois de uma sisudez inicial é possível fazer amizades, já aqui as pessoas tendem a ser simpáticas no local de trabalho/escola, mas a convivência para por aí. Hoje tive um exemplo que deixou-me perplexa. Depois da aula sentei-me com a professora para que ela corrigisse dois parágrafos que havia traduzido de um conto meu. Quando acabamos, perguntei se caso ela quisesse saber o resto, eu podia enviar por email. Ela esquivou-se dando-me uma desculpa. Senti um choque no ar, que barulho faz duas visões de mundo a esbarraram-se? Na verdade pareceu-me um silêncio escorrido de amarelo, o amarelo do meu sorriso. Então quer dizer que um email é algo pessoal demais para se trocar com um professor que temos aulas há quatro meses? Que seria se pedisse amizade pelo facebook, o endereço ou coisa qualquer (que obviamente não o faria)? De repente desmaiava. Um email...poxa aquilo que se pode fazer um apenas para conhecidos e outro para familiares e amigos, que podemos apagar, que não há envolvimento de fotos, nem nada. Um inofensivo endereço eletrônico. Ou para os franceses nem tanto.

 Ui era só um email, não um pedido de casamento!

A vida não é só salsichão com farinha

Ou nas palavras do Fabian: chichão com saninha. Todos os dias tanto no almoço como no jantar a pergunta é sempre a mesma. Mãe, vou comer chichão com saninha, tá? Não meu filho, hoje não tem. E quando tem só come isto, não quer saber de arroz ou de beterraba ou cenoura. Só chichão. Mas a vida não é só chichão, lhe digo...a vida é carne, é galinha com molho...umas vezes peixe e outras couve flor. Ele olha decepcionado para o prato e suspira. Come bem porque tem fome, mas não repete. Esta é a versão bife com batata frita de quando tinha a idade dele, com a diferença de que eu não era tão insistente. Passavam dias e dias até que por um toque de mágica diretamente das mãos da minha (fada) madrinha comia o meu prato predileto. E eram os dias de estrogonofe, de lasanha, sopa de espinafre, que faziam aquele dia do bife com batatas fritas tão especial. Que fazia eu mastigar saboreando cada centímetro da carne com o molho a escorrer pelas bordas do prato, a que cuidadosamente molhava as batatas nada simétricas que não lembravam as do Mc Donalds, mas eram tão boas... É a espera de termos finalmente o nossas necessidades (fugazes é verdade) satisfeitas que torna a existência tão rara. Isto se acreditarmos que a vida é a la carte e não um rodízio aleatório de sabores...

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Se não existisse devia ser inventado

O marido tem um ex-colega de trabalho que tem um pensamento muito estranho para alguém que já passou dos cinquenta. Resumindo, é como se o mundo todo tivesse de o bajular, e como tal não existe, vive o tempo todo a reclamar. Foi demitido há alguns anos por ser pego a mandar e ler emails com mulheres nuas em pleno horário de trabalho, mas é claro que a culpa não era dele, é do chefe que é um mal humorado, sem nenhum poder de encaixe. Depois foi uma história que tornou pública através do facebook, contando da sua falta de sorte e reclamando dos guardas portugueses que só sabem caçar multa e não estão nem aí para a segurança pública. Isto porque estava com o imposto do selo atrasado há um bom tempo e foi pego por andar cem metros para comprar cigarro. A cara de pau é tanta que além de esquivar-se sempre de sua (falta de) responsabilidade, queria que os amigos fizessem uma vaquinha para pagar os duzentos euros de multa. Agora a última me rachou a cara mesmo. O marido bem intencionado lhe enviou uma proposta de emprego para a França, já que o sujeito gaba-se de falar francês. Além de devolver o email com erros básicos, pediu para o marido traduzir o currículo dele e entregar para a empresa que o marido trabalha. Falou isto como se fosse uma proposta irrecusável, daquelas que começam com "que tal", aliás deve ser isto mesmo, as pessoas tem uma enorme vantagem em lhe ter como amigo. O homem é tão caricato que custa acreditar que não é saído de algum programa de comédia e que não tem menos três anos de idade. Se conselho fosse bom, devia escutar Ana Terra* : "nem sempre podemos barganhar com a vida"...


*Personagem em "O tempo e o vento", de Erico Verissimo.

Bonitinha indelicada



O problema do bom senso, é todo mundo achar que tem.
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