Todo mundo sabe que o ideal de beleza muda conforme a cultura e também dentro da mesma com os passar dos séculos. Antigamente as mulheres gordas/inhas eram tudibom, lá estão elas todas fofas retratadas nas mais diversas obras desde os afrescos da Roma antiga até a Renascença. E a principal razão para que o corpo volumoso ocupasse total apreço era nada menos do que sinal de riqueza. Até os nossos amigos agrotóxicos existirem, a população era constantemente afetada pelo tempo, se chovia demais ou de menos, se uma praga destruísse a plantação, assim como por guerras e consequentemente não haver quem lavrasse a terra e guardasse sementes para a próxima leva, etc. A comida até a idade média e convenhamos que na idade moderna também, era um problema. Como só quem pode comprar são os ricos e só se engorda (muito) quem come bastante, é lógico que envergar aquele pneuzinho em um passeio na cidade era equivalente a ter o Iphone 5, o nike air max e a ferrari hoje. Tudo naquelas dobras a mais. Ah mas e o metabolismo lento e o hipotiroidismo onde é que fica? É, acontece que em se tratando dos pobres, meses ou anos de subnutrição e poucos alimentos frescos disponíveis, assim como dez horas ou mais de trabalho pesado, haja gordura que aguente.
A partir dos anos 40 tivemos um movimento que foi se intensificando com o passar dos anos: "dona de casa livre-se já desta gordurinha". Jane Fonda na década de 70 e suas polainas coloridas entravam pela tv das casas de classe média americana a propagar o saudável que é ser-se magra. A mídia, a moda por sua vez com suas Twyggs de pernas da grossura do braço de muita gente, as mocinhas dos filmes e novelas com cintura de pilão refletiam a mudança gritante de paradigma estético. Começaram a pipocar revistas femininas com mezinhas e dietas para perder os três quilos que toda mulher sonha. Alguns anúncios vendiam até pasmem, tênias para facilitar o procedimento!
Quando vemos na capa de uma revista uma artista curvilínea a deliciar-se com semente de chia, não é apenas a provocação à raiva/pessimismo por não conseguirmos fechar a boca, mas é uma das formas subliminares de dizer: este corpo não é para todo mundo. Ser rico, estar in não é para todo mundo ou não sabemos lá que o modelo capitalista é tão e só a exclusão da maioria? Muita gente pensa tratar-se de apenas estética, mas a verdade é que certos conceitos não nascem apenas do óbvio, mas ao contrário, trazem uma série de questões econômicas, políticas e de relações de poder que a nossa cultura nos devolve com mais uma dieta da estação.