segunda-feira, 24 de março de 2014

Lança menina, lança todo este perfume

Há qualquer regra aqui que eu quebro quase todos os dias. As pessoas me olham, tenho certeza que sim. Ahh, aquela criatura (visualizem os olhos apertados de despeito)! Como ousa? Será o possível que só euzinha tenho a coragem de aparecer assim? É que não vi ninguém até agora a rasgar a bandeira e gritar do alto de um banco: sim, eu lavo os cabelos de manhã! Sim, eu tomo banho to-dos os dias! Juro que estou só comentando...mas vai fazer sete meses que estou aqui e até agora não vi uma, uma só pessoa de cabelo molhado na rua. Claro que isto não quer dizer que as pessoas não tomem banho (fora aquelas que dá para fritar as batatas todas do mc Donalds do fim de semana). Pode ser que sequem antes de sair, mas eu duvido, porque cabelo assim sai voando e fica soltinho e brilhoso. O que acontece é que as pessoas tomam banho à noite, aí levantam de manhã e não "perdem" tempo ficando cheirosas e tals. O problema é que isto não é de fato perda de tempo, porque as crianças a gente desculpa, mas gente bem grandinha fedendo é brabo! As pessoas não se dão conta que de noite a gente sua? E baba e o desodorante vence? 
Tenho muita boa vontade, mas o meu nariz não me acompanha e eu realmente não sei o que é pior: se no inverno que as pessoas acham que não suam e por isto não fedem e por isto continuam a usar over and over again o casaco asudo. Ou se no verão que é um libera geral, abra suas asas, solte suas feras e caia na gandaia.
Qualquer dia destes além de militante do cabelo molhado ainda apareço de air wick em punho e "Lançaaaaa , lança perfume tchi chi". Ninguém merece.

Palavras

Para mim palavras são como as pessoas, umas a gente adora, outras a gente detesta. Odeio ver à baila certas palavras, sei lá, parece que me dão alergias só de ouvir serem pronunciadas. Uma delas por exemplo é chinois, chinês em francês, mas que se diz com um O fechado a escorregar para o A no final, bem escancarado. Diz-se "chinôá" e eu nem sei bem o que me irrita se é a sonoridade da coisa ou se é o movimento bucal, porque lá está, eu tenho tendência a olhar mais para bocas que para olhos. Depois tem outra que nunca me caiu bem no ouvido que é peut-être (pûtétrrê), não tenho certeza se pelo significado (tem lá coisa mais irritante que um talvez dito de um jeito meio blasé?) ou pela ruga no queixo que se forma e depois desvanece ao fim. E claro, depois há as palavras em português tanto do Brasil como de Portugal. Detesto a palavra "raça", parece algo velho e puído como um pano encharcado pousado sobre um tanque de roupa. Não gosto de paralelepípedo porque me lembra daquelas pessoas chatas que querem tudo explicadinho. Não gosto de sujidade, não gosto de embrulho. Não gosto da maioria das palavras francesas que fazem parte da minha memória: abajour, demodê, frisson... E é como aquele desconforto que sentimos diante de algumas pessoas, não sabemos ao certo o porquê, mas incomoda engolir certas palavras.

sexta-feira, 21 de março de 2014

Como eu me sinto quando...


                                 Vejo que não lembro de quase ninguém dos meus contatos do celular


A gente percebe que não dá uma atualizada na agenda do celular quando guardamos o número de um conhecido que morreu há mais de cinco anos!! Não sei o que eu ainda faço com ele nos meus contatos... fora que mais de 80% é de gente que eu já não faço a menor ideia de quem seja. Doutor Torres? Laura? Sérgio (seria o ex da minha tia?)? Logo eu que me orgulhava da minha memória minuciosa...

segunda-feira, 17 de março de 2014

A nova colega

Esta semana fiquei a saber o nome dela. Hafize o tinha escrito em meio a flores no papel para que o professor pudesse sabê-lo. Agora éramos colegas de curso, já que passei para o segundo nível de francês. Magra e alta, tinha os ombros largos que se deixavam marcar no casaco. Hafize é turca e mora aqui há quatorze anos. Todos os dias a via  buscar e levar o filho tantas vezes como eu. Fiquei sabendo que Alpharren é o melhor amigo do Fabian, que inclusive ele sempre aponta para a letra A do amigo e repete. Mãe, é A de Alpharren! Apesar de nos vermos frequentemente e já lhe ter juntado o filho que se estrebuchara a minha frente, ela apenas sorrira para mim. E só o fato de nos tornarmos colegas pareceu hoje  razão suficiente para que estabelecêssemos um diálogo. Hafize havia me chamado a atenção há muito tempo já, por duas razões: primeiro porque sempre traz um turbante preto à cabeça e depois porque lembra muito mesmo uma amiga de infância. Quase a posso chamar de Bruna, não fosse a verdadeira andar milhares de quilômetros longe daqui. Mas nossos filhos são melhores amigos, trocam olhares e frases cada um em sua língua materna. E nós sorrimos, às vezes chamamos a atenção para que não atravessem a rua na larga calçada em que correm. Não sei bem se ando a enganar-me propositalmente, mas é tão bom quando topamos com um rosto conhecido, mesmo que seja um truque da nossa própria mente...
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