terça-feira, 15 de abril de 2014

Beijinho no ombro

É viral. De uma hora para outra a timeline encheu-se de fotos com pessoas beijando o ombro para espantar o recalque. Aí eu pergunto: de quem? Acho quase patológico esta necessidade de sentir-se invejado, sim, porque a inveja é uma coisa que ao mesmo tempo que é rechaçada é um objetivo de vida, pois ninguém inveja gente fracassada. Vou largar meu politicamente correto lá no canto, tá bem? Pronto. 
Todo mundo tem inveja. Em algum momento, por alguma coisa, é inevitável, é humano e por si mesmo, compreensível. Eu tenho inveja, morro, morro, morro de inveja de quem com dois meses de pós gravidez tem uma barriga lisinha, sem aquela gelatina que se transformou a minha. Tenho inveja de quem vai pro Caribe. Caramba, é meu sonho, aquelas cabanas à beira-mar, mergulhar de snorkel, entrar no jacuzzi e ficar olhando o por-do-sol. Sempre que vejo uma foto de alguém se casando, a noiva de branco, o noivo com um sorriso de uma orelha a outra, eu tenho inveja. Gente, não existe inveja branca, a menos que se faça um degradê de azia que vai do desde "queria levemente ter/ser isto" a o "desgraçado/a quero que você morra!" Não acredito nisto, inveja, é inveja. Inveja não tem cor. 
O problema está em ultimamente termos vivido em uma cultura da ostentação. Aí o cara coloca uma piscina de plástico no quintal e acha que está ostentando. Quem vai para a praia, mesmo que seja no nosso mar chocolatão do sul, manda beijinho no ombro para quem fica torrando na cidade, quem tem um Galaxy ou um Iphone, manda recado para quem tem um nokia fudido. A sério que entendo esta revanche, que nada mais é do que gente que está ascendendo socialmente porque gente rica mesmo não precisa se auto afirmar a todo tempo. Isto vai cair na mesma polêmica do rei do camarote: na verdade todos nós ostentamos do ponto de vista de quem tem menos que nós. Mas não pensamos nestes e sim em acusar aquele que tem a mais de ostentação e de nos criar este sentimento tão amargo que é a inveja.  Portanto, cada vez que vejo alguém mandando beijinho no ombro acho uma puta de uma hipocrisia, pois parte do objetivo não é espantá-lo e sim despertar o recalque nos outros. Embora tenha casos que só me façam rir (como o da piscininha de 1000 litros), imagino que seja para quem o faz uma fonte de auto-estima e sucesso. Ser invejado é estar  na moda.

Fabionices

Olhando pela janela:
- Pai, não dá pra sair, tá muito fio! O vento tá misturando a árve!

            *           *          *

- Fabian bota logo estes tênis!! - Já perdendo a paciência.
- Tá, mãe ti acalmeja. Já buti.


Oi?

domingo, 13 de abril de 2014

Just turn around now, cause you're not welcome anymore

Eu tinha uma amiga que começava a caminhar em sua velha esteira mecânica ao som de Gloria Gaynor, I will survive. Costumava rir dela, pois para mim naquela época exercício físico era quase um vício e não achava aquilo minimamente estressante, muito menos um caso de vida ou morte. Mas como sempre, a vida tem um certo dom para fazer-nos engolir nossas verdades uma a uma, e hoje a fatídica música faz parte do meu repertório no ipod. Bem sei que a letra fala sobre uma mulher indignada perante a volta do outrora amante, e dá cá uma raiva deste sujeito mesmo sem conhecê-lo! Ah, a raiva também é um excelente combustível para enfrentar o treino de cárdio tanto quanto a depressão o é para a escrita. Estando eu lá em movimentos frenéticos, ou correndo ou pedalando, trato de por um rosto neste meu ódio quiçá gratuito. Tenho imensa raiva de ter engordado de novo, de ter novamente me abandonado e ter travado uma disputa sobre quem engolia mais: eu ou o medo. O problema é que nesta luta ele sempre ganha, mas quem fica com os quilos sou eu. Não há como voltar a balança para trás, só me resta pegar humildemente a toalhinha e fazer aquele trabalho de formiga, tomando cuidado para não olhar muito para o espelho. O cara da música da Glória pode ter sido o maior cafajeste, enchendo-a de bombons e falinha mansa, deixando-a na fossa depois, mas que ele tá muito parecido com vilão da minha história, isto tá!

Para matar a saudade:

sexta-feira, 11 de abril de 2014

O mico nosso de cada dia

Pensa em uma pessoa cansada. Não, tipo bem cansada, com as pernas latejando depois de um treino de uma hora e meia. Cheguei trazendo shampoo, creme e gel de banho. Ufa! A água quente nas costas mesmo que por 17 segundos (me dei ao trabalho de contar) retirando o suor do corpo. Fechei os olhos por pouquíssimo tempo e de repente ouço tocar o alarme do prédio. Insistente e monótono como o bonjour do motorista do ônibus. Ai meu Deus, o que que eu faço? Saio correndo enrolada na toalha porta a fora? E se for um teste? A espuma escorria dos meus cabelos. E se neste momento tá rolando o maior fogaréu no saguão? Olhei para o canto do vestiário que conseguia avistar: nem viva alminha. E agora José? Com o creme, o shampoo e o gel na mão pronta para correr (e provavelmente levar um tombo) escuto a voz vinda das caixas de som. Mesdames e messieurs o que? Só podem estar brincando comigo, tenho a impressão que o sujeito colocou uma batata na boca de propósito antes de falar! Isto é uma emergência ou n'est pas uma emergência? Ele disse "permaneçam calmos" ou "boa sorte e que let the game begin"? Do mesmo jeito que a voz apareceu, sumiu do nada, sem explicação nenhuma. E o alarme continuava. Imaginei logicamente que se houvesse real urgência de evacuar a academia, alguma criatura havia de checar se alguém tinha ficado para trás...tomando banho...pensando se devia correr ou passar o segundo creme nas pernas.
Foi um alívio entrar no vestiário e ver ele como de hábito, com gente se preparando para sua sessão básica de tortura. Vesti-me e saí. O alarme ainda estava tocando. Nunca vou esquecer como se sentem aquelas vovós que não entendem/escutam o que a gente fala. Nota mental: na dúvida, haja naturalmente (ainda bem que não saí correndo com a toalha)!
Web Statistics