segunda-feira, 12 de maio de 2014

Mormaço (epílogo em construção)

A guitarra do Santana esvaia-se no ar quente daquela tarde. Cause you're so smooth... As palavras e o som se encontravam e derretiam sob  seus ouvidos preenchidos pelos gemidos um do outro. Ele dedilhava seu corpo nu, ia descendo pelas costelas e pelas curvas até chegar em sua vulva pulsante. Ela gemia. Tinha os cabelos escuros escorridos pelos seios e costas tal como um rio deslizante e vivo quando todo o corpo se mexia. Ele alisou os seus lábios, não os de cima, os de baixo, até finalmente encontrar o clitóris. Massageava com pouca pressão, quase como se uma pena pousasse e voltasse a subir. Passaram alguns minutos até a música terminar e voltar tudo ao silêncio do mormaço de um agosto em Paris. 
Os olhos dele puseram-se pregados nas vigas de madeira escura do teto. Um apartamento de 30 metros quadrados que lhe sugava quase metade do seu salário. Se não fosse a proprietária ter gostado de sua "atenção", digamos assim, ele nunca conseguiria morar no terceiro arrondissement. Ficavam sempre assim depois do sexo, ele perdido no passado, ela tonta de luxúria repousando em seu peito. Ana abraçou-o ao primeiro gesto dele ao se levantar, mas desistiu no meio do caminho. Seus olhos cruzaram por poucos segundos, culpados, e ela pensou se seria a única que pensava no marido quando trepava com o amante.

O lado bom

Para uma pessimista convicta, ver o lado bom é um exercício constante. Tenho me perguntado o que eu mais gosto daqui além da nossa casa e cheguei a conclusão que não é a educação que nos faz soltar bom dias mecânicos a cada desconhecido, mas a simpatia ao modo francês. E esta simpatia está espalhada entre todos os motoristas de ônibus. É só ele (ou ela pois que há muitas mulheres nesta profissão) ver alguém desesperado correndo lá na outra esquina para esperar sempre. O Fernando diz que até fora do ponto eles abrem a porta, mas isto eu já tenho vergonha de pedir. Além disto, dirigem bem sem nos deixar com o famoso sentimento de carne de açougue. Claro que não posso falar pela França toda, nem sei se em Paris é assim. Sempre que me refiro à França ou aos franceses o faço com um recorte do cotidiano que experimento, até porque nem teria como falar por um país tão grande. 

domingo, 11 de maio de 2014

Dar um jeito

A música oficial da Fifa está uma bela merda, para ser sincera. Rimas fáceis estilo coração com paixão, amar com esperar, que chegam a dar vergonha alheia. Mas incrivelmente combina com a maneira que tem sido tratada a copa no Brasil. Dar um jeito, fazer de última hora, superfaturar obras, no maior estilo "logo que vê".
obs: A única coisa que se salva (um pouco) é o Santana.

E hoje é dia...

das mães no Brasil. O facebook está lotado de fotos e declarações para as melhores mães do mundo, tão boas, tão perfeitas. Interessante ver uma das minhas amigas que me disse verbalmente que só teve filho porque o marido quis e que por ela a criança não precisava existir, estar estampada em uma das fotografias. Embaixo os dizeres de sempre: mudaste a minha vida, te amo mais que tudo bla bla bla. Meus olhos passam por dezenas, arriscaria dizer centenas de frases de agradecimento e amor incondicional e não consigo deixar de pensar quantas já não andaram aqui pelo meu blog. Quanto a mim, tive de fazer o esforço de ligar para a minha mãe, dizer coisas vazias e ouvir coisas igualmente vazias e sem sentido. É...deve ser isto que sentem as pessoas que não gostam do natal. 
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