quarta-feira, 14 de maio de 2014

Na casa do Alparren


Hoje eu e o Fabian fomos à casa do amigo turco da escola para eles brincarem um pouco. Aqui nas quartas não há aulas, portanto é complicado estar com meninos tão agitados sem fazerem nada o dia todo. O Fabian surpreendeu-se com a quantidade de brinquedos que o menino tem: quatro barcos enormes, uma caixa cheia de carrinhos de lata, um quarto, sim, um quarto só para brinquedos de todos os tamanhos. O pai do menino (ainda não decorei os nomes, sou péssima nisto), disse-me com um olhar triste que quando pequeno só conseguia brincar com os brinquedos que achava no lixo e que por isto, decidiu que nenhum filho iria passar pelo mesmo. Sua resposta ao destino foi comprar até não poder mais, até empilhar caixas e caixas com caminhões de um metro de comprimento desde que sua esposa engravidou. Eu achei lindo e triste ao mesmo tempo, é uma ferida que permanece apesar de todo tempo que passa, como se aquela criança atrás de lixo ainda me olhasse através daqueles olhos negros e fundos. 
Foi a primeira vez que alguém de outra nacionalidade me convida a frequentar sua casa. Até o casal de portugueses, com quem nos relacionamos,  nós tivemos de dar o primeiro passo. Confesso que gostei muito, senti-me muito à vontade, adorei falar do Brasil, e inclusive ensinar português para a filha mais velha, que a cada frase que eu dizia, traduzia pelo google. A certo tempo ela me perguntou se eu deixava que ela fizesse uma tatuagem de henna na minha mão. Pousei -a sobre a perna e ela foi desenhando caracóis como tinha feito a sua mãe umas semanas antes. Enquanto secava, o Fabian jogou-se sobre mim,fazendo com que ficasse um pouco borrada, a minha mão e a dele. Na próxima quarta vai ser a nossa vez de recebê-los aqui em casa. Adorei o convívio, estava mesmo precisando de estar com outras pessoas... pois vida de emigrante  é muitas vezes ter a solidão como uma visita resistente em ir embora.  

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Mormaço (epílogo em construção)

A guitarra do Santana esvaia-se no ar quente daquela tarde. Cause you're so smooth... As palavras e o som se encontravam e derretiam sob  seus ouvidos preenchidos pelos gemidos um do outro. Ele dedilhava seu corpo nu, ia descendo pelas costelas e pelas curvas até chegar em sua vulva pulsante. Ela gemia. Tinha os cabelos escuros escorridos pelos seios e costas tal como um rio deslizante e vivo quando todo o corpo se mexia. Ele alisou os seus lábios, não os de cima, os de baixo, até finalmente encontrar o clitóris. Massageava com pouca pressão, quase como se uma pena pousasse e voltasse a subir. Passaram alguns minutos até a música terminar e voltar tudo ao silêncio do mormaço de um agosto em Paris. 
Os olhos dele puseram-se pregados nas vigas de madeira escura do teto. Um apartamento de 30 metros quadrados que lhe sugava quase metade do seu salário. Se não fosse a proprietária ter gostado de sua "atenção", digamos assim, ele nunca conseguiria morar no terceiro arrondissement. Ficavam sempre assim depois do sexo, ele perdido no passado, ela tonta de luxúria repousando em seu peito. Ana abraçou-o ao primeiro gesto dele ao se levantar, mas desistiu no meio do caminho. Seus olhos cruzaram por poucos segundos, culpados, e ela pensou se seria a única que pensava no marido quando trepava com o amante.

O lado bom

Para uma pessimista convicta, ver o lado bom é um exercício constante. Tenho me perguntado o que eu mais gosto daqui além da nossa casa e cheguei a conclusão que não é a educação que nos faz soltar bom dias mecânicos a cada desconhecido, mas a simpatia ao modo francês. E esta simpatia está espalhada entre todos os motoristas de ônibus. É só ele (ou ela pois que há muitas mulheres nesta profissão) ver alguém desesperado correndo lá na outra esquina para esperar sempre. O Fernando diz que até fora do ponto eles abrem a porta, mas isto eu já tenho vergonha de pedir. Além disto, dirigem bem sem nos deixar com o famoso sentimento de carne de açougue. Claro que não posso falar pela França toda, nem sei se em Paris é assim. Sempre que me refiro à França ou aos franceses o faço com um recorte do cotidiano que experimento, até porque nem teria como falar por um país tão grande. 

domingo, 11 de maio de 2014

Dar um jeito

A música oficial da Fifa está uma bela merda, para ser sincera. Rimas fáceis estilo coração com paixão, amar com esperar, que chegam a dar vergonha alheia. Mas incrivelmente combina com a maneira que tem sido tratada a copa no Brasil. Dar um jeito, fazer de última hora, superfaturar obras, no maior estilo "logo que vê".
obs: A única coisa que se salva (um pouco) é o Santana.
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