terça-feira, 20 de maio de 2014

Vergonha de ser brasileiro

Eu fico indignada quando alguém fala isto. Não consigo entender como uma pessoa pode sentir vergonha de sua identidade, de sua cultura, de seu país. E não é porque romantizo a situação do Brasil, mas porque eu acho que as pessoas devem ser específicas na sua vergonha. Poderiam começar assim: tenho vergonha dos políticos brasileiros, da corrupção, da falta de segurança... Se fossem bem honestas, poderiam olhar para o próprio rabo e dizer que também sentem vergonha de sentir vontade de corromper e serem corrompidos pelo sistema. Eu jamais teria vergonha de ser brasileira porque para mim o meu país não resume-se a estes defeitos. Nunca teria vergonha do samba, nem de Caetano Veloso, nem de Lupicínio e Noel Rosa. Nunca teria vergonha de Machado de Assis, de Erico Verissimo e Carlos Drumond de Andrade. Tampouco de Nelson Rodrigues, do vaneirão e do forró, de Fernanda Montenegro, Raul Cortez, Antônio Fagundes e tantas outras coisas. O que as pessoas não entendem, é que ir contra um país é negar toda a sua riqueza cultural e até mesmo as suas origens pessoais. Entendo que anda todo mundo de saco cheio, mas peço mais uma vez, tenham vergonha na cara antes de dizer que tem vergonha do seu país. Obrigada.



                                        "O Brasil é muito impopular no Brasil." 
                                                     Nelson Rodrigues

Prova de que o mundo parece estar contra os gordinhos:

quando até na academia, durante a sessão de cardio, temos a televisão sintonizada em um canal de culinária.


                       

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Fabionices

Mãe, to esperando um bebê!

Diz o Fabian com a bola enfiada no casaco e com as duas mãos na cintura.

Na casa do Alparren


Hoje eu e o Fabian fomos à casa do amigo turco da escola para eles brincarem um pouco. Aqui nas quartas não há aulas, portanto é complicado estar com meninos tão agitados sem fazerem nada o dia todo. O Fabian surpreendeu-se com a quantidade de brinquedos que o menino tem: quatro barcos enormes, uma caixa cheia de carrinhos de lata, um quarto, sim, um quarto só para brinquedos de todos os tamanhos. O pai do menino (ainda não decorei os nomes, sou péssima nisto), disse-me com um olhar triste que quando pequeno só conseguia brincar com os brinquedos que achava no lixo e que por isto, decidiu que nenhum filho iria passar pelo mesmo. Sua resposta ao destino foi comprar até não poder mais, até empilhar caixas e caixas com caminhões de um metro de comprimento desde que sua esposa engravidou. Eu achei lindo e triste ao mesmo tempo, é uma ferida que permanece apesar de todo tempo que passa, como se aquela criança atrás de lixo ainda me olhasse através daqueles olhos negros e fundos. 
Foi a primeira vez que alguém de outra nacionalidade me convida a frequentar sua casa. Até o casal de portugueses, com quem nos relacionamos,  nós tivemos de dar o primeiro passo. Confesso que gostei muito, senti-me muito à vontade, adorei falar do Brasil, e inclusive ensinar português para a filha mais velha, que a cada frase que eu dizia, traduzia pelo google. A certo tempo ela me perguntou se eu deixava que ela fizesse uma tatuagem de henna na minha mão. Pousei -a sobre a perna e ela foi desenhando caracóis como tinha feito a sua mãe umas semanas antes. Enquanto secava, o Fabian jogou-se sobre mim,fazendo com que ficasse um pouco borrada, a minha mão e a dele. Na próxima quarta vai ser a nossa vez de recebê-los aqui em casa. Adorei o convívio, estava mesmo precisando de estar com outras pessoas... pois vida de emigrante  é muitas vezes ter a solidão como uma visita resistente em ir embora.  
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