sábado, 24 de maio de 2014

De todos os vícios...

o marido tinha logo de ficar no America's Got Talent? É que não se aguenta...até ópera ouve. Está ali a cozinhar e o celular no máximo de altura a tocar um Pavarotti anônimo em busca dos seus minutos de fama. Volta para a Candy Crush, please!!

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Sob o véu

Eu contei. Era a única da fileira que não usava nenhum tipo de véu para esconder os cabelos. Todas as mulheres a minha volta estavam com lenços, turbantes e inclusive quatro delas com o traje completo do "não me olhem". Duas moças tinham uma quase burca (que no entanto é a alternativa permitida destes tempos de democracia francesa): o rosto mostrava apenas o necessário, dois olhos, nariz e boca. O queixo e metade da testa se encontravam tapados. Eu confesso, senti-me desconfortável no meu mini vestido e sandálias baixas e creio que o mal estar é recíproco. Como podem duas realidades tão opostas colidirem em olhares de segundos e ao mesmo tempo deixar-nos indiferentes? Ainda não consigo achar natural, quem sabe um dia mude de ideia, mas por ora acho no mínimo desconfortável ver mulheres tapadas dos cabelos aos dedos dos pés. No entanto, a religião muçulmana tem várias nuances proibitivas em relação à mulher, mas já chegaremos lá.
Na primeira vez que falei com Azá, a jovem que lembra-me muito a Liv Tyler quando mais nova, foi em uma aula em que eu estava especialmente de bom humor. Não recordo bem porque assunto começamos, mas conversa vai, conversa vem, acabei por esbarrar inocente em suas saias escuras pelos joelhos. Perguntei se com a chegada do calor ela iria aderir às minis, já que corpo esguio não lhe falta, e ela me disse com um sorriso nos lábios grossos e vermelhos, que não. Não podia. Então porque? A resposta que se seguiu servia para as demais perguntas que fiz: sou muçulmana e meu irmão não deixa. Morava ela, a mãe, a irmã e um irmão mais velho de 22 anos e ele possuía nas mãos todo o seu livre arbítrio. Imagino que o seu e das demais familiares sob o mesmo teto. Só não usava o véu porque ainda era solteira.
Há na minha turma três turcas contando com a mãe do Alparen. Usam roupas ocidentais, calças, camisas e blusas, mas tem um jeito particular de esconder o cabelo. Rodam-no em uma espécie de pano comprido até ficar como aqueles turbantes de faquir. Um dia destes, perguntei a Hafize se ela frequentava as piscinas públicas no verão, pois não imagino o que de mais divertido possa se fazer em uma cidade sem praia, quente como o raio nos dois meses que temos de verão. Ela disse-me que leva os filhos lá, mas não entra, "c'est interdite pour moi". Fez movimentos vagos com seus braços longos ao redor do corpo para dizer que deveria continuar com a mesma roupa que vestia naquele instante. Fiquei sem saber o que dizer, se lamentava ou se concordava, nem sei, mas acho que balancei a cabeça afirmativamente como fazem aqueles médicos que fingem escutar os pacientes.
Obviamente é uma questão cultural a qual estas mulheres estão sendo influenciadas desde que nasceram, mas não pude deixar de sentir (friso) nestes dois casos, uma certa melancolia por não poder fazer o que se quer. E não é uma roupa, uns centímetros a mais de pele à mostra, os responsáveis por este sentimento, mas a impossibilidade de ser dona de seu corpo. Porque é preciso preservar-se de olhares masculinos para seu bem estar e mais: é preciso abster-se de provocar tais olhares para que o outro não seja levado em tentação. Por enquanto acho indissociável este estranhamento entre os meus cabelos soltos e roupas curtas e o turbante de Hafize, as saias nos joelhos de Azá. Na barreira do idioma, muitas vezes cheia de reticências, nossos sorrisos se cruzam em silêncio...fico a pensar que esta é por enquanto a melhor fonte de conexão entre nós.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Fabionices

- Mãe... - Diz o Fabian alisando minha canela.
- Hum.
- Tu não tem barba na perna igual o papai?

Então é assim

Acho que quando Deus manda as crianças aqui para baixo, ele  (poupe-me de todas as maiúsculas, por favor) pensa: esta aqui vai comer bem ou vai dormir bem? E coloca-lhe um carimbo invisível na testa e cai-nos a sorte que tiver de ser. Na minha teoria achológica das coisas, o mundo é dividido entre os bebês e crianças que comem sem dar nenhum trabalho, tudinho, tudinho...desde espinafres na sopa com pedaços até melancia, passando pelos chuchus e beterrabas, terminando nas laranjas ácidas. E depois aqueles que dormem desde nenéns oito, dez, doze (!!) horas seguidas e proporcionam  aos pais, o sono que todo cristão deveria ter. Adivinha onde o Fabian se encaixa? Ah pois é. Faz três noites que não dorme e não deixa dormir. Aliás, deixa aqui eu contar nos dedos quantas vezes podemos dizer que ele dormiu uma noite inteira...hummm teve aquela vez que...não, ele acordou uma vez às 6 horas e isto não é hora decente para ninguém  levantar...e aquela outra vez que...não, ele pediu umas novecentas vezes a chucha para dormir... Não lembro. Sério que não. Vai ver é porque os neurônios comentem suicídio a cada noite interrompida... e são muitas. 
Uma vez li  uma pesquisa que dizia que o sono ido nunca será recuperado, por mais que consigamos por um milagre meter doze ou mais horas no final de semana. E que ao fim da infância, os filhos roubam em média dois anos de sono aos pais (como se estivéssemos nos divertindo na balada este tempo todo).  Agora, vou fazer o esporte preferido das outras mães que é obviamente gabar-me da minha felicidade: quem é que tem um rico filho que come de tudo? E que não precisa brigar, nem fazer aviãozinho, nem prometer a Disney lá para 2020? Ah e que come todas as frutas, é só fazer uni duni tê que ele traça? É bom não é? Porque eu tenho inveja sim senhora, quando dizem aos quatro cantos que aos três meses a criancinha já está fazendo uma noite completa! A estas eu penso maliciosamente: aguardo-as na hora da sopa!! Muahahahah!! A natureza não tem o seu quê de equilíbrio?


Choro? Só se fosse para pedir mais.

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