A moda da vez são os sucos verdes instagramizados acompanhados de um #bomdia, #começandobem, #projetoverão. Bla bla bla. Aviso aos navegantes que esta sopa crua que alguns ousam chamar de smootthie, meu padrasto já tomava há vinte anos atrás. Lembro que o coitado teve de se submeter a sucos verdes por um mês em uma dieta que os hipsters alimentícios gostam de chamar detox, mas não foi para emagrecer e sim uma tentativa de reverter o processo de um caso de transplante de fígado. Deu certo, tanto que está aí até hoje. Mas foi um mês: manhã, tarde e noite, além de banho de água do mar a que íamos buscar com garrafas de cinco litros para encher a piscina de plástico. Acho que se falassem para ele sobre os tais sucos e que há uns que os tomam de livre e espontânea vontade, ele os chamaria loucos. E vai ver até tem razão. Vão mais é parar de frescura como se tivessem inventado a roda!
terça-feira, 27 de maio de 2014
Férias
Este ano é a primeira vez em quase oito anos de casamento que o meu marido tira férias, duas semanas corridas em agosto. Aqui há uma lei que obriga os funcionários a tirarem no mínimo estes dias durante o recesso escolar, creio eu para que os pais passem ao menos um pouco de tempo com os filhos. E tenho certeza de que se pudesse, o marido optava por tirá-los em setembro ou mesmo no final do ano, visto que detesta calor e como vamos ficar em casa mesmo...sem praia por perto, ele até tem razão. Uma coisa que não me agrada nada é a possível vinda do meu enteado para cá. Já tinha falado aqui o quanto me desagrada lidar com alguns familiares do Fernando e depois do que aconteceu com a morte do seu padrastro, teria que ter no mínimo cara de pau para me encarar de novo. Eu sei que ele já andou lendo o meu blog, portanto até acho que as coisas seriam mais fáceis se ele entendesse este recado: nossa vida agora é a três. E é como disse a minha outra enteada que sequer reconhece o meu filho como seu irmão, já por muitas vezes colocou-se desta forma, hoje somos uma família completa, o passado está lá atrás, não tenho raiva, mas eu não quero conviver novamente com algumas pessoas.
Quanto a mim e ao Fabian, as férias estão logo ao virar da esquina, para meu desespero. Nestas horas sinto muitas saudades de Portugal e de viver perto do mar...não sei se tenho paciência para piscinas públicas, enfim.
sábado, 24 de maio de 2014
De todos os vícios...
o marido tinha logo de ficar no America's Got Talent? É que não se aguenta...até ópera ouve. Está ali a cozinhar e o celular no máximo de altura a tocar um Pavarotti anônimo em busca dos seus minutos de fama. Volta para a Candy Crush, please!!
quinta-feira, 22 de maio de 2014
Sob o véu
Eu contei. Era a única da fileira que não usava nenhum tipo de véu para esconder os cabelos. Todas as mulheres a minha volta estavam com lenços, turbantes e inclusive quatro delas com o traje completo do "não me olhem". Duas moças tinham uma quase burca (que no entanto é a alternativa permitida destes tempos de democracia francesa): o rosto mostrava apenas o necessário, dois olhos, nariz e boca. O queixo e metade da testa se encontravam tapados. Eu confesso, senti-me desconfortável no meu mini vestido e sandálias baixas e creio que o mal estar é recíproco. Como podem duas realidades tão opostas colidirem em olhares de segundos e ao mesmo tempo deixar-nos indiferentes? Ainda não consigo achar natural, quem sabe um dia mude de ideia, mas por ora acho no mínimo desconfortável ver mulheres tapadas dos cabelos aos dedos dos pés. No entanto, a religião muçulmana tem várias nuances proibitivas em relação à mulher, mas já chegaremos lá.
Na primeira vez que falei com Azá, a jovem que lembra-me muito a Liv Tyler quando mais nova, foi em uma aula em que eu estava especialmente de bom humor. Não recordo bem porque assunto começamos, mas conversa vai, conversa vem, acabei por esbarrar inocente em suas saias escuras pelos joelhos. Perguntei se com a chegada do calor ela iria aderir às minis, já que corpo esguio não lhe falta, e ela me disse com um sorriso nos lábios grossos e vermelhos, que não. Não podia. Então porque? A resposta que se seguiu servia para as demais perguntas que fiz: sou muçulmana e meu irmão não deixa. Morava ela, a mãe, a irmã e um irmão mais velho de 22 anos e ele possuía nas mãos todo o seu livre arbítrio. Imagino que o seu e das demais familiares sob o mesmo teto. Só não usava o véu porque ainda era solteira.
Há na minha turma três turcas contando com a mãe do Alparen. Usam roupas ocidentais, calças, camisas e blusas, mas tem um jeito particular de esconder o cabelo. Rodam-no em uma espécie de pano comprido até ficar como aqueles turbantes de faquir. Um dia destes, perguntei a Hafize se ela frequentava as piscinas públicas no verão, pois não imagino o que de mais divertido possa se fazer em uma cidade sem praia, quente como o raio nos dois meses que temos de verão. Ela disse-me que leva os filhos lá, mas não entra, "c'est interdite pour moi". Fez movimentos vagos com seus braços longos ao redor do corpo para dizer que deveria continuar com a mesma roupa que vestia naquele instante. Fiquei sem saber o que dizer, se lamentava ou se concordava, nem sei, mas acho que balancei a cabeça afirmativamente como fazem aqueles médicos que fingem escutar os pacientes.
Obviamente é uma questão cultural a qual estas mulheres estão sendo influenciadas desde que nasceram, mas não pude deixar de sentir (friso) nestes dois casos, uma certa melancolia por não poder fazer o que se quer. E não é uma roupa, uns centímetros a mais de pele à mostra, os responsáveis por este sentimento, mas a impossibilidade de ser dona de seu corpo. Porque é preciso preservar-se de olhares masculinos para seu bem estar e mais: é preciso abster-se de provocar tais olhares para que o outro não seja levado em tentação. Por enquanto acho indissociável este estranhamento entre os meus cabelos soltos e roupas curtas e o turbante de Hafize, as saias nos joelhos de Azá. Na barreira do idioma, muitas vezes cheia de reticências, nossos sorrisos se cruzam em silêncio...fico a pensar que esta é por enquanto a melhor fonte de conexão entre nós.
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