Volta e meia vozes se levantam contra a adultização das crianças e eu dou razão em parte. Não creio que seja benéfico preencher todos os horários mal deixando-lhes tempo para brincar, no entanto fico ao mesmo tempo pasma com a forma inflexível desta outra visão: a que prega um retorno idílico ao que (pensam que) foi a infância paterna. Meu filho estuda em uma turma mista que vai dos três anos aos cinco. Portanto é normal que ele tenha lições de como "desenhar" letras e números, assim como saber a primeira letra que compõe o seu nome. Não vejo nada de mal nisto, sério. Ele adora "escrever" no quadro que demos a ele e agora tem estado muito feliz a preenchê-lo de quatros por todo lado. Sabe todo o alfabeto francês de cor através das músicas que a professora os ensina e que ele pede para pormos no youtube. Mas não é por ele saber estas e estar aprendendo outras coisas que sua infância não esteja sendo respeitada. Pelo contrário, o estado de sujeira e furos nas calças com que chega em casa, é uma prova de que ele mexe-se, corre, anda de bicicleta, vai atrás do seu amigo inseparável, and so on. Esta história de que ah as crianças não devem saber isto ou aquilo, devem apenas brincar eternamente parece-me coisa dita por pais de crianças que não costumam se encaixar neste processo de aprendizagem. E inclusive acredito que há até um pouquinho de ciumeira, pois do contrário o discurso mudava para apregoar a inteligência e o destaque dos seus filhos, não há nenhuma dúvida.
Na creche que o Fabian frequentava no Brasil, que se baseava nesta linha de pensamento do brincar sem limites, não possuía imagens de animais nas paredes, nem eram-lhes ensinado absolutamente nada a não ser fazer bolos e deixá-los correr (isto para crianças entre três e quatro anos). Não gosto nada destes extremismos porque isto me remete à ideia de que as crianças não tem de aprender, e sei que elas não tem ainda a real necessidade de saber o zoo inteiro, mas é desde pequeno que se estimula a descoberta e daí a importância de se começar por algum lado. Estas pessoas e estas listas tão amplamente divulgadas nas redes sociais, que dizem o que uma criança deve aprender na primeira infância, ou seja apenas brincar e ter tempo com os pais, na minha opinião são tão redutoras quanto a ideologia a que se contrapõem. Não levam em consideração que há crianças que desejam mesmo saber até mais do que lhes é proposto (como é o caso do meu filho quando descobriu as letras) e nem que quando eram os pais crianças também andaram a contornar vogais com linhas e feijões e nem por isto deixaram de ralar joelhos e colecionar roxos pelo corpo.