quarta-feira, 11 de junho de 2014

Como eu me sinto quando

a pessoa com quem eu converso não fala nada além de sua língua materna e francês.


                            Sendo que geralmente a língua materna é russo, chinês, turco, árabe...little help please?

A construção da maternidade



Baseado no livro de Elizabeth Badinter "Um amor conquistado - o mito do amor materno"*, o qual pretendo falar nele mais tarde.




*Obrigada Zrs!

Karma



Até me tornar uma menina comportada e calma eu era um bebê como qualquer outro: completamente sem noção. Engatinhava na praia e saía a morder os dedões das mulheres que tomavam sol estendidas em toalhas gigantes. Puxava o cabelo de qualquer um que se aproximasse só porque sim. E ficava hirta e séria a esperar que a minha mãe tirasse um por um dos meus dedos para libertar a minha vítima. Pois, o karma.... mal sabia eu ao entrar no ônibus em plena tarde com um vestido curto de verão e uma sacola de ginástica pesada como uma sacola de ginástica. Passei o cartão, dei bonjour ao motorista. Fui  indo em direção ao fundo, quando um bebê sentado em seu carrinho olhava para mim. Lembro de ter pensado que era muito feio e talvez à laia de destino, o karma me acertou em cheio quando apenas senti que o vestido não mais me tapava as pernas e estava com a bunda de fora. O bebê feio havia me puxado a roupa e só tive tempo quando já era tarde demais. Sentei ainda com os passageiros que iam na contra-marcha a rirem-se: um pai gordo e seu filho esmirrado, duas mulheres masculinizadas e a cara da mãe que entre riso e vergonha me pediu desculpas. Esbocei um meio sorriso como quem prova do próprio veneno. Não senti vergonha, nem raiva. A única coisa que me passava pela cabeça era qual calcinha eu tinha vestido. Não lembrava de jeito nenhum. E o bebê lá continuava a chacoalhar braços e pernas em uma alegria audível, desconhecendo por certo que daqui uns anos vai ser ele no meu lugar. 

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Porque não gosto do politicamente correto

Imagina a dor, mas imagina o alívio de dizer o que se pensa.


Porque não adianta nada. É só uma maquiagem para acalentar todo o preconceito para baixo do tapete, e quem diz ou vive o politicamente correto sem revê-los aos menos de vez em sempre é quase tão culpado quanto os que deixam os seus bichos à solta.
Certo dia vi um programa americano sobre perturbações neurológicas e nele contaram a vida de um homem que sofria de Coprolalia. Esta doença nada mais é do que todos os nossos pensamentos mais escrotos que procuramos esconder, virem à luz do dia e...não é bonito. A equipe de filmagem acompanhou uma ida ao mercado com o pobre  a xingar Deus e o mundo, a escapar de bolsadas, olhares fulminantes e socos entre os corredores. Olhava para um homem musculoso de camisa colada e gritava "viado", olhava para uma senhora e dizia "gorda do caralho". Depois em casa, ele chorava e lamentava o que não conseguia controlar...nesta hora pensei justamente naqueles que são completamente contra a falsidade e fazem questão de inundar o facebook com mensagens do tipo. A verdade é que somos todos preconceituosos e que muitas vezes o mundo só resiste graças a uma grande dose desta. Se sairmos por aí dizendo tudo que se passa na cabecinha, seria bom checar se o seguro  de saúde (ou de vida) cobre acidentes por franqueza extrema.
É um fato que o humor brasileiro é firmemente baseado no nosso preconceito. Não adianta colocar a culpa na sociedade e não se tocar que fazemos parte dela. É ver os humoristas a gozarem com o negro, com o gordo, com o gay, com as minorias enfim. E achamos graça na maior parte das vezes tão somente porque esta linguagem politicamente incorreta dialoga com os nossos preconceitos mais arraigados. E se a nossa sociedade é racista, xenófoba, gordofóbica, nós também o somos. A notícia boa é que ao tomar consciência disto  podemo-lo desconstruir, mas não é trocando negro por afrodescendente ou bicha por homossexual  que muda alguma coisa se o que pensamos (mas não dizemos) continua intocável.
Eu sinceramente queria ver se todos os neuróticos pró-sinceridade iriam aguentar ouvir o que os outros pensam de si o tempo todo. Para já ia ser uma ótima experiência sociológica se a rede de relacionamentos mais famosa do mundo propusesse um dia da verdade. Um dia em que falássemos tudo o que pensamos sobre as postagens, sobre as fotos alheias. É claro que não rola...era capaz mesmo de se iniciar uma terceira guerra mundial pelo egocentrismo ferido. De qualquer forma, o que vale mesmo é o que faremos depois disto, se ajustaremos continuamente esta tal balança regulatória entre o que deve ou não ser revelado, sempre tendo em mente que é impossível nos fazermos de vítima da falsidade.
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