quarta-feira, 11 de junho de 2014

Because I'm happy

Como ser feliz? - A gente explica! Já pagou  pegou o seu golden ticket?


Eu não sei se existe pessoa mais sem paciência para coaching's da felicidade e bem-estar do que eu. Simplesmente não me entra na cabeça como alguém paga ou não paga, apenas lê em blogs do gênero uma série de conselhos ditos por estranhos tão capacitados quanto qualquer outro. Aceito quando psicólogos/psiquiatras escrevam livros e deem por sua vez palestras fruto não só de vivência profissional como também de embasamento teórico, e para mim é completamente diferente do que um indivíduo que fez um curso técnico sabe lá onde, que deu-lhe o diploma de treinador da felicidade alheia. 
E os que são mais irritantes são aqueles que se debruçam sobre como devemos criar os filhos, sempre  recheados de coisas mirabolantes estilo: pais, não se preocupem com as notas deles. Pais, não xinguem, conversem. Não deem palmadas, mesmo mesmo que eles batam em vocês. Eu leio e a água já começa a ferver. E eu fervo em pouca água. La la lai vamos educar, criar adultos felizes, crianças com auto-confiança, vamos ser os melhores pais que conseguirmos o tempo todo! Disciplina é amor, uma criança amada se esforça para se comportar bem!
Não sei se quem lhes deu o diploma foi o Willy Wonca, mas eu aqui acho que criança precisa de limites. Não digo isto apenas por má vontade aos pretensos professores, mas pela minha própria experiência, lembrando quantas vezes digo docemente: Fabian não faz isto, assim ou assado... porque (explicar é importante) acontece isto e a mãe não quer. Devo dizer umas três. Ou quatro vezes. Primeiro docemente, depois a olhar nos olhos. E sabe o que acontece? Ele não fica feliz por eu educá-lo, ele continua fazendo seja a merda que estivesse fazendo antes. E aí vem o anti-pedagógico tapa na bunda. A ameaça de se não juntar os brinquedos vou buscar o saco de lixo (agradeço a ti Carla), se não se portar melhor não vai à pracinha, and so on. 
Antes me sentia mal com isto, como se eu estivesse tal qual Pavlov e seu cão salivante em uma educação behaviorista. Mas depois pensei melhor e no fundo acho que ao meu modo, ensino um pouco de como as coisas funcionam. Na vida toda ação tem uma reação. Se mais tarde o rico filho bater em algum colega mais forte, ele não vai receber palavras de amor, nem lenga lenga de "porque fizeste isto? É porque estás triste? Vamos conversar sobre o que sentes?", não, ele vai receber uma reação compatível com o que fizera.  Isto não quer dizer que a cada vez que pisa o risco, receba uma punição, mas é avisado algumas vezes, geralmente três. Caso insista no erro, aí então agimos de acordo com a gravidade da traquinagem. Ninguém provavelmente lhe dará mais do que três chances de se endireitar. O patrão, a namorada, o instrutor do exame de condução... 
Ensinar que o mundo tem a obrigação de preocupar-se com os seus sentimentos independente do que eles façam, é contra-producente, é acima de tudo criar indivíduos que não conseguem lidar com frustrações. Voltando ao coaching sobre parentalidade, acho no fundo, que há fantasia demais para vivência e conhecimento acadêmico de menos. Imagino se realmente aquela gente consegue fazer aquilo que prega ou se quando a paciência e o diálogo com  "o meu rico filhinho" acaba, se não voa um chinelo para cima como qualquer pai e mãe desesperado. 

Como eu me sinto quando

a pessoa com quem eu converso não fala nada além de sua língua materna e francês.


                            Sendo que geralmente a língua materna é russo, chinês, turco, árabe...little help please?

A construção da maternidade



Baseado no livro de Elizabeth Badinter "Um amor conquistado - o mito do amor materno"*, o qual pretendo falar nele mais tarde.




*Obrigada Zrs!

Karma



Até me tornar uma menina comportada e calma eu era um bebê como qualquer outro: completamente sem noção. Engatinhava na praia e saía a morder os dedões das mulheres que tomavam sol estendidas em toalhas gigantes. Puxava o cabelo de qualquer um que se aproximasse só porque sim. E ficava hirta e séria a esperar que a minha mãe tirasse um por um dos meus dedos para libertar a minha vítima. Pois, o karma.... mal sabia eu ao entrar no ônibus em plena tarde com um vestido curto de verão e uma sacola de ginástica pesada como uma sacola de ginástica. Passei o cartão, dei bonjour ao motorista. Fui  indo em direção ao fundo, quando um bebê sentado em seu carrinho olhava para mim. Lembro de ter pensado que era muito feio e talvez à laia de destino, o karma me acertou em cheio quando apenas senti que o vestido não mais me tapava as pernas e estava com a bunda de fora. O bebê feio havia me puxado a roupa e só tive tempo quando já era tarde demais. Sentei ainda com os passageiros que iam na contra-marcha a rirem-se: um pai gordo e seu filho esmirrado, duas mulheres masculinizadas e a cara da mãe que entre riso e vergonha me pediu desculpas. Esbocei um meio sorriso como quem prova do próprio veneno. Não senti vergonha, nem raiva. A única coisa que me passava pela cabeça era qual calcinha eu tinha vestido. Não lembrava de jeito nenhum. E o bebê lá continuava a chacoalhar braços e pernas em uma alegria audível, desconhecendo por certo que daqui uns anos vai ser ele no meu lugar. 
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