sábado, 19 de julho de 2014

O verão tem cheiro de cloro

Esta semana fomos pela primeira vez na piscina pública mais próxima de casa, que ainda assim fica a uns 20 minutos (ou mais) de passos de formiga do Fabian. Surpreendeu-me a limpeza apesar de tanta gente estendida nas toalhas e circulando nos arredores. Quatro euros, o que eu quero? Paz, mas a paz é muito cara e o calor e um filho irrequieto fizeram com que conscientemente eu desejasse aquela agitação toda.  Não há muçulmanas, conforme me haviam dito, pois no perímetro da piscina só se pode entrar com trajes de banho. Fico a matutar pensando naquele ex-colega, será que esta proibição é anti-democrática? Será que deviam deixar as mulheres entrar de véu e vestido? Ou será que ao invés de culpar o Estado deveríamos responsabilizar a religião por culpabilizar seus corpos pelo assédio masculino?... Cabeças se encontrando, o Fabian de bóias nos braços, um mergulha e passa raspando, deixando um rastro de bolinhas. Um thimbum, um chuá, outro é só gritos. E o Fabian agarrado no meu pescoço com um medo de 60 centímetros de profundidade. Ensino-lhe a bater os pés e a saltar timidamente para dentro d'água. E os risos seguem, as bolas infláveis vez por outra fazem uma vítima. O salva-vidas passa a cada dez minutos para ver se alguém já morreu e volta para a sua cadeira alta a fingir que não olha para a moça de biquini rosa fucsia. Mulheres grávidas quase a parir lustram a barriga no sol, bebês com fralda impermeável desfilam com suas perninhas tortas e os irmãos mais velhos afogam os mais novos em uma brincadeira vingativa por terem de ser eles a os vigiarem, enquanto a mãe enfarda batatas com ketchup. 
E depois ao repetir a experiência, vemos os mesmos rostos desconhecidos, o Fabian volta a desejar o picolé e eu volto a dizer que não, que já comeu em casa. Saio de lá zonza e cansada, quase como se tivessem me passado no moedor e triturado meus ossos. Atiro- me no sofá e entrego o filho ao pai, para que gaste um pouco mais da bateria. Meu cérebro é uma gelatina e tudo que penso é que amanhã há mais.  Estes são os quatro euros mais bem pagos deste verão.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Tanto tempo perdido

Ah se eu soubesse... Se tivessem me dito que não custava nada, que eu não precisava ter dito tantos nãos (ai os anos na completa ignorância!), que eu poderia correr livre e solta...eu tinha usado  um absorvente interno antes. 

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Na sala de espera

Depois de falar incontáveis vezes que eu não estava doente, que a médica iria apenas examinar algumas partes do meu corpo para ver se estava tudo bem, o Fabian insistia no dodói na minha barriga. Até que eu cedi. Ele perguntava, eu tacava-lhe "hum hum" sem pestanejar. Ele virou-se para a estante repleta de folhetos informativos e sacou um dos ginecológicos que mais lhe chamou a atenção. Ficou longo tempo a olhar as figuras, folheava, depois voltava. " Mamãe, já sei poque tua barriga tá doendo". Ah é, porque? Sim, mãe, tua barriga tá cheia de bolinhas...ó! Vira-me o folheto e me mostra o desenho de um canal vaginal cheio de espermatozóides...

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Mãããããeeee olha o "cófaço"

E é assim incontáveis vezes no dia. Mããe. Ô mããe. Manhê! Olha, olha, olha o cófaço*! Vou olhar a coisa espetacular e é um pulo seguido de um despencar sobre o sofá. Ou um gesto a bagunçar o cabelo. Ou uma empinada discreta no patinete. Quando estamos eu e o marido então é uma guerra. Intromete-se quando falamos para olharmos qualquer coisa que ele está fazendo neste momento. Eu já me peguei gritando para o Fernando: olha de uma vez porque aí ele pára!! E de fato isto apazigua o pequeno por instantes até inventar uma nova dança ou coisa do tipo.  
Já vi pais falando mal da adolescência, do quanto o filho não quer saber de ninguém, que chega em casa e se tranca no quarto e só sai de lá para comer. No quanto sentem-se tristes porque os filhos não os  acompanham nos programas de antes e que agora tem tempo só para o casal, tempo demais. Escuto com toda a atenção possível e tento simpatizar com a dor deles, mas tudo o que penso é que esta fase ermitã parece o céu depois da overdose de interação na primeira infância. 
Vá, me dêem um desconto que estou há três dias com o Fabian em casa, faz frio e chove sem parar. 



*o que eu faço
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