terça-feira, 22 de julho de 2014

Muda de vida se tu não vives satisfeito

Adoro esta música do António Variações! Ele é legítima versão portuguesa do nosso querido Raul Seixas, e vejo muitas semelhanças para além da barba farfulhenta e do jeito meio nem aí para o mundo. Mas voltando ao que me trouxe aqui, dizia o marido que esta semana passada mais um amigo/conhecido ficou desempregado e perguntava se ele podia ajudar enviando currículo e indicando sites de emprego. Ora, eu sinceramente não sei o que ainda fazem alguns dos nossos amigos em Portugal, sendo que cada dia mais aperta o cerco e o mercado de trabalho principalmente da informática, não é tão grande como isto. Temos um que passou meses e meses desempregado e agora vai pulando de emprego com contrato renovável mensalmente com ganhos de 1500 euros brutos a recibos verdes. Para quem estava acostumado a receber quatro mil, isto é um salário baixíssimo e convenhamos que a crise veio para ficar, nem que seja duas décadas. Se para os portugueses que tem família, filhos pequenos e tal, é admissível um certo apego ao país, para nós que emigramos e deixamos tudo para trás, o que nos impede de fazê-lo novamente? O que nos prende mais? 
Uma coisa que tenho aprendido (e ultimamente tenho aprendido tanto...), é que a vida não espera por ninguém. Nem a vida, nem os amigos, nem nada. Se as pessoas ficam estacadas em um lugar reclamando à espera de soluções do governo ou do patrão ou dos números do euromilhões, vai ser uma espera em vão. Mudar não é fácil. Não é mesmo. Mas às vezes o caos completo é a única forma de reajustar nossas necessidades e talvez nossos desejos. As ruas pelas quais passamos, mudam, o restaurante preferido fecha, os amigos se mudam ou simplesmente mudam e com isto levam a nossa amizade. Nada é garantido. E por incrível que pareça podemos ser felizes em qualquer lugar, desde que haja dinheiro. E quem disse que Portugal detém o monopólio de qualidade de vida (como nos disse um amigo como maior motivo para não se ir embora)? Há muitos países com um potencial enorme para recomeçarmos... É claro que eu sei porque não vão embora: o medo é maior do que a vontade de mudar de vida. E nós tivemos uma sorte do caramba, um empurrão do destino, vá lá. Eu nunca pensei que um dia pudesse dizer isto, mas se não fosse aquela tramóia do português, provavelmente estaríamos na mesma vida de antes, contando as cabeças dos colegas que já foram para rua. Vivendo refugiados com um medo de peru em véspera de Natal... Onde está a qualidade de vida nisto?
Muda de vida - António Variações

sábado, 19 de julho de 2014

O verão tem cheiro de cloro

Esta semana fomos pela primeira vez na piscina pública mais próxima de casa, que ainda assim fica a uns 20 minutos (ou mais) de passos de formiga do Fabian. Surpreendeu-me a limpeza apesar de tanta gente estendida nas toalhas e circulando nos arredores. Quatro euros, o que eu quero? Paz, mas a paz é muito cara e o calor e um filho irrequieto fizeram com que conscientemente eu desejasse aquela agitação toda.  Não há muçulmanas, conforme me haviam dito, pois no perímetro da piscina só se pode entrar com trajes de banho. Fico a matutar pensando naquele ex-colega, será que esta proibição é anti-democrática? Será que deviam deixar as mulheres entrar de véu e vestido? Ou será que ao invés de culpar o Estado deveríamos responsabilizar a religião por culpabilizar seus corpos pelo assédio masculino?... Cabeças se encontrando, o Fabian de bóias nos braços, um mergulha e passa raspando, deixando um rastro de bolinhas. Um thimbum, um chuá, outro é só gritos. E o Fabian agarrado no meu pescoço com um medo de 60 centímetros de profundidade. Ensino-lhe a bater os pés e a saltar timidamente para dentro d'água. E os risos seguem, as bolas infláveis vez por outra fazem uma vítima. O salva-vidas passa a cada dez minutos para ver se alguém já morreu e volta para a sua cadeira alta a fingir que não olha para a moça de biquini rosa fucsia. Mulheres grávidas quase a parir lustram a barriga no sol, bebês com fralda impermeável desfilam com suas perninhas tortas e os irmãos mais velhos afogam os mais novos em uma brincadeira vingativa por terem de ser eles a os vigiarem, enquanto a mãe enfarda batatas com ketchup. 
E depois ao repetir a experiência, vemos os mesmos rostos desconhecidos, o Fabian volta a desejar o picolé e eu volto a dizer que não, que já comeu em casa. Saio de lá zonza e cansada, quase como se tivessem me passado no moedor e triturado meus ossos. Atiro- me no sofá e entrego o filho ao pai, para que gaste um pouco mais da bateria. Meu cérebro é uma gelatina e tudo que penso é que amanhã há mais.  Estes são os quatro euros mais bem pagos deste verão.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Tanto tempo perdido

Ah se eu soubesse... Se tivessem me dito que não custava nada, que eu não precisava ter dito tantos nãos (ai os anos na completa ignorância!), que eu poderia correr livre e solta...eu tinha usado  um absorvente interno antes. 

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Na sala de espera

Depois de falar incontáveis vezes que eu não estava doente, que a médica iria apenas examinar algumas partes do meu corpo para ver se estava tudo bem, o Fabian insistia no dodói na minha barriga. Até que eu cedi. Ele perguntava, eu tacava-lhe "hum hum" sem pestanejar. Ele virou-se para a estante repleta de folhetos informativos e sacou um dos ginecológicos que mais lhe chamou a atenção. Ficou longo tempo a olhar as figuras, folheava, depois voltava. " Mamãe, já sei poque tua barriga tá doendo". Ah é, porque? Sim, mãe, tua barriga tá cheia de bolinhas...ó! Vira-me o folheto e me mostra o desenho de um canal vaginal cheio de espermatozóides...

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