Queria eu ter a coragem desta mulher e admitir o que sinto, abandonando de vez aqueles sorrisos tortos e os pensamentos contraditórios que me roubam a franqueza. Depois que li a reportagem desta mãe com sentimentos tão análogos aos meus, pensei ter encontrado minha alma gêmea da maternidade e garanto que esta é muito mais difícil de achar do que a vulgar da música que segue com duas metades da laranja, dois amantes, dois irmãos.
Ainda é tarefa hercúlea desvincular a maternidade de uma imagem única, a do altar de sacrifício, ao estático e inquestionável amor materno, amor incondicional. Eu realmente acredito que existe, mas acho redutor afirmar que só as mães possuem acesso a este bem precioso que um Deus reservou apenas à metade da humanidade.
Acho incrível como ainda se julga em dois pesos duas medidas a atitude de uma mulher que não quer ter filho, ou pior de uma que tem mas que não se sente abençoada com este papel, enquanto o homem tem sempre qualquer coisa que desculpe sua opção, abandono ou omissão. O lugar de um filho é com a mãe, os bois mugem. Será que é? Será que a vida é assim o preto no branco?
Nunca me disseram que se arrependeram de serem mães, e no entanto há aí aos montes, quase trezentos comentários no blog. Todos os dias chegam com a mesma pergunta ardendo no peito. Serei a única a sentir isto? Imagino-as a digitarem a frase com culpa solitária, os dedos carregados de raiva, medo e muitas vezes, lágrimas. Umas chegam, leem silenciosamente e vão embora. Outras voltam, partilham suas histórias tão diferentes, mas ao mesmo tempo tão semelhantes. Outras vem todos os dias. Vivemos nas sombras, e eu queria ter a coragem desta mulher, mas não tenho. Até quando vamos alimentar esta falácia de que a mulher nasceu para ser mãe? Que a mulher só é completa se for mãe? Que só se descobre o que é mesmo amar quando se é mãe? De fato admito que há aquelas em que o papel serviu perfeitamente, mas e as outras? E se as outras forem a maioria?