terça-feira, 28 de outubro de 2014

Assim como são as pessoas, são as criaturas

Algumas pessoas estão de luto porque o seu candidato não ganhou as eleições. Já xingaram, espalharam a culpa pelos pobres, pelo bolsa família (que quando lhes convém reivindicam a paternidade do psdb), já compararam pessoas a porcos. Não vou fazer o mesmo com aquele ditado das pérolas, mas alguns dos discursos que li, se assemelhavam muito com o daquelas pessoas que pregam no centro, as que costumamos chamar lunáticas. Ditadura comunista? Onde? Quando? Se foi neste período em que tivemos  maior enriquecimento de grandes indústrias  e bancos com obscenos lucros? Que ditadura é esta que permite que sejamos constantemente livres para debitar desde indignações justas ao xenofobismo desnudo e livre nas redes sociais?
O Brasil precisa mudar, os brasileiros andam sedentos pela mudança e eu concordo. Mas e qual será a mudança que queremos? Diminuir a maioridade penal, acabar com o sustento de "vagabundos", acabar com as cotas nas universidades? Mais segurança para andar na rua?  Se eu contasse minha história, possivelmente se dariam conta de que eu seria a última  pessoa que pensaria em estar vivendo fora do Brasil, e muitos talvez julguem que por isto mesmo nem tenho razão de me manifestar. Mas como vivemos em uma democracia, também quero falar um pouco sobre mudança. 
Quando pensamos em uma mudança social profunda, é inevitável não pensar em ganhar menos: em salários com menos discrepâncias face ao salário mínimo, e também em pagar mais impostos. Nós  pagamos 50% de imposto e sim, é verdade que a França é um pais mais igualitário, mas também é verdade que para que assim seja, muita gente recebe benefícios do Estado. Nós  não temos direito a nada, embora tenhamos um filho, talvez só  a partir do segundo (mas isto agora não vem ao caso). O fato de pagarmos e não recebermos pode parecer injusto e eu confesso que havia um lado coxinha dentro de mim e foi preciso lutar para derrotá-lo. Garanto-vos que não foi necessário o uso da força: bastou abrir os olhos. 
Aqui as pessoas recebem auxilio moradia, ou mesmo um lugar para morar com o custo de acordo com a renda, famílias recebem abonos conforme o número  de filhos, as grávidas  recebem 900 euros para gastarem no enxoval da criança (ou no que quiserem); o governo ajuda com o pagamento de babá  ou creches (já que não existe estabelecimentos públicos voltados para a faixa de 0 a 3 anos) e finalmente, a partir da primeira série  até o final do percurso escolar estas ganham por volta de 300 euros no início  de cada ano letivo. Não é vergonha receber subsídios, é tão e só  um direito de cada cidadão que se enquadra nas exigências do sistema. É claro que entre milhões de beneficiários, sempre haverá quem use de ma fé, no entanto isto não é motivo para invalidá-lo. 
Um dia li uma crônica  sobre um emigrante na Suíça falando que justamente o que fazia sentir-se seguro ao abrir um lap top nos transportes públicos, era o fato de receber menos. Porque entre o valor que um lixeiro ganha e um engenheiro, médico ou professor não há o abismo que encontramos no Brasil. Para dar um exemplo próximo, um salário de 3000 euros na Alsácia  é considerado  alto, e tendo em conta que o salário mínimo é 1445 euros, e quanto mais alto, mais pagamos, é bem difícil  enriquecer por aqui.
 Voltando ao Brasil, a questão que se coloca é o porquê  da insistência acusatória dos que pagam as ajudas do governo através dos impostos, frente aos que recebem-nas. O problema está  em sustentar "vagabundo" ou na impossibilidade da classe média e alta de desfrutar das mesmas benesses? O problema está  na ignorância do valor irrisório do bolsa família ou na revolta por um vagaroso, porém crescente recuo da desigualdade? 
E ainda continuo sem entender como se veste de luto quem rezou tanto para o Santo Aécio nos livrar do mal da corrupção. Um santo do pau oco, um santo que possui um aeroporto ligado ao tráfico  de drogas nas terras de seu tio: uma obra de 14 milhões de reais desviados dos cofres públicos. Mas isto não interessa nada, afinal as pessoas queriam milagres e quando esperamos milagres principalmente de tais figuras políticas , abandonamos toda e qualquer lógica. 

domingo, 26 de outubro de 2014

Ninguém assiste aos filmes do seu filho no facebook

Fato. Mas eu ponho mesmo assim. Hahahah!




Obs: tem legenda.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Mudar para pior também é mudança

  Assim que li pela primeira vez me surpreendi com tamanha indigência intelectual, mas depois achei digno, pelo menos assumia-se. Dizia a criatura que votava no Aécio Neves para presidente e sabia que ele não era flor que se cheirasse (desculpe o trocadilho*), mas que estava cansada do PT e que devíamos colocar outros para roubarem em seu lugar. Pelo menos era mais lúcida, que para mim esperar qualquer mudança para melhor no Brasil vinda deste candidato, é o mesmo que sentar à janela na véspera de Natal na expectativa de ver as renas passarem. 
Não sou petista, e reconheço o mar de corrupção e alianças que o partido fez, no entanto, também enxergo todos os programas sociais e ações afirmativas que fizeram com que miseráveis se tornassem menos miseráveis. Que as gerações antes condenadas a seguirem os passos semianalfabetos dos pais, hoje conseguissem se escolarizar e entrar em uma faculdade pública . 
Acho puro cinismo esperar que Aécio mude qualquer coisa que não sejam os nomes de quem irá mamar na teta de cargos de confiança. Acima de tudo, não aceito um discurso de exaltação da meritocracia vindo de alguém que nunca trabalhou na vida; alguém que encara politica como profissão, e que não por acaso, a tem como uma tradição familiar. 
Vivemos hoje um estado de ódio febril, cego, hipócrita. Estas eleições apenas descortinaram o óbvio:  a raiva à ascensão social, a intolerância da convivência em espaços antes exclusivos a uma elite retrógrada  que acha o cúmulo  pobre viajar de avião (alô Danuza!), agora timidamente conquistados pelos últimos.  Ainda nos trouxe o grito de direita de uma classe média com aspirações burguesas, que vê-se espremida entre o povão e cada vez mais longe do seu padrão de desejo.
É sucesso garantido gritar digital e histericamente um #foradilma, #foraPeTralhas, #vtcpresidANTA. Os likes de aprovação vem em reflexos tão automáticos quanto uma martelada no joelho. Mas infelizmente isto não passa de um retrato de gente que não vai além disto, não sabem porque nem quando, não sabem debater propostas dos candidatos e acima de tudo, não sabem que o trem para a mudança passou, com alguma sorte, no primeiro turno. Mas pelo menos se o Aécio ganhar, haverá quem fique satisfeito por alguém diferente estar roubando que não o PT. Em alguma coisa eles tem razão: do jeito que está não podemos ficar, e não vamos mesmo...vamos ficar é muito pior.



Ponte Aérea

O marido esteve em casa neste fim-de-semana e passou tão rápido como um sopro. Mal deu tempo para nos acostumarmos à rotina de casal e já era domingo à tardinha... Nunca a famosa depressão de domingo fez tanto sentido. O pai despede-se do filho, da um beijo ligeiro à mulher e sai rumo ao aeroporto. E de repente lembro-me da nossa trilha sonora de ultimamente. Assim chegar e partir são só dois lados da mesma viagem, (...) a hora do encontro é também despedida. Vivemos em espasmos contados; horas e segundos marcados, vivemos mais, talvez com a ansiedade de alguém consciente do pouco tempo de vida que lhe resta. 
Depois dele ir, o tempo volta a viajar em carro de bois, sacolejando distraidamente os centésimos de segundos que duram uma eternidade para partirem. Ja dizia-se que o tempo é relativo, e é. Pena mesmo que o amor não seja.

Web Statistics