quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Se é para o meu bem e felicidade exclusiva do meu coração...digam ao povo

Que me mudo!

Queria ter a inocência ou a cabeça dura de outros tempos em que acreditava em soluções definitivas e vibrar com esta notícia. Não que uma parte de mim não exulte, mas lá no fundo há uma certa desconfiança, pois que a vida mostrou-me que não nos quer muito  parados já que é a oitava vez que arrumo as malas em um período de dois anos. E no entanto, esta é a única que acredito mesmo ser para melhor...só não sei até quando. 
Desde que o marido agarrou com unhas e dentes este emprego na Alsácia, sabíamos que era apenas um recomeço, uma linha nova, um ponto de partida temporário, visto o salário ser muito justo não permitindo grandes aspirações que não viver um dia após o outro fazendo uma ginástica para chegar ao fim do mês. Um ano se passou em que não via o seu trabalho reconhecido, em que o salário mantivera-se muito abaixo do  limite de sua experiência. Os sacanas dos franceses mostraram-se negociantes como os de qualquer parte do mundo, em que explorar o desespero alheio é apenas um detalhe, um objetivo a preencher na meta ao fim do mês.
Porém quando tudo encaixou tão perfeito, com uma sincronia absurda, eu comecei a acreditar que aquilo só tinha mesmo de ser, como naquele ditado: quando é para acontecer, até quem atrapalha ajuda. E assim sem nem ter procurado, a vaga pulou no colo do Fernando e as entrevistas e o resultado vieram na mesma semana. Um longo período de separação, ponte aérea Nice-Strasbourg, passagens promocionais, depressão, quilos (a mais para mim, a menos para ele), um Fabian choroso, um outono frio para cacete, e enfim, respira, estamos quase na linha de chegada! A sina do apartamento também está quase. Quase como eu pedi. Grande, perto de um maternal, da estação do trem, da praia e com um terraço (que "num guento" estender roupa dentro de casa). Agora é correr atrás de empresas de mudança mais em conta, colocar este imóvel para alugar, comprar o bacalhau para o Natal e, talvez algures entre o meio (meu aniversário) e o final de janeiro, estejamos entrando com o pé esquerdo, lá está, sou canhota, logo o esquerdo é que é bom, na nossa nova casa. Ano novo, vida nova. Por mim parava por aqui. Não me importava nada de ficar velhinha pegando o meu chapéu e a cadeira de praia para enterrar meus pés no mar da Cotê d'Azur. 

sábado, 29 de novembro de 2014

Que será será

Amanhã fará precisamente três meses que lancei os dados, empurrei o marido rumo ao sul e me encastelei no nosso castro alugado. Aproxima-se o dia em que iremos saber se todas estas fichas foram bem apostadas: se ganharemos uma vida com a qual sempre sonhamos, perto do mar e com um salário que nos permitirá pela primeira vez estarmos mais folgados ou...nada. Se vamos observar apaticamente que a vida nos raspe as esperanças todas de uma só vez. 
Acordei mais rabujenta do que nunca, com um frio que não me saiu do corpo nem mesmo com um banho quente. Às vezes acredito estar em alguma espécie de show da vida tal como naquele filme do Jim Carrey. Parece tudo tão artificial, as pessoas com quem troco um bonjour, que sorriem apenas porque a polidez as obriga, as que esbarro na entrada ou saída da escola. Parece tudo um plano para ver até quando vou aguentar este isolamento auto infligido. Alterno raiva e impaciência. Não nasci para esperar e detesto não ter controle sobre o destino. É verdade que fazemos escolhas, mas há uma grande parte em que ficamos à deriva de nossas próprias expectativas. Iremos a bom porto ou de encontro a uma tempestade furiosa? 
Em meio a uma ansiedade que não me deixa, entrego-me sem cerimônia aos doces e já tenho alguns quilos a mais para se juntarem aos outros, seria mesmo sensato pensar que estou de esperanças. Ou de medo ou os dois... gêmeos que dividem o mesmo corpo e me sugam com igual intensidade. 


quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Das coisas que detesto

L
Eles partilhavam listas. Não partilham mais.


Listas. Listas sem fim. E pessoas que acreditam nelas. As dez coisas que não se deve dizer para o namorado; as quinze coisas que nunca devemos dizer para os filhos, para a mãe, para a sogra, para o cachorro, periquito, para a vizinha que tem tara que é uma atriz pornô. E são sempre coisas óbvias, tipo não devemos ter uma DR* depois do marido bater com o mindinho na quina da porta. Não devemos xingar a sogra de hummm...qualquer dos nomes queridos que nos passem pela cabeça. Não devemos dizer que o Aroldinho não estaria aqui (#benzaDeus) se não tivéssemos tomado aquele antibiótico que terminou por cortar o efeito do anticoncepcional. Oh céus se nos escapa alguma alarvidade pela boca, vai ser um traumatizado pelo resto da vida, um daqueles quarentões que vão me trazer meias sem pares para lavar, cuja sorte amorosa estará em minhas mãos! Começo por apresentar a do 704 que tem mais pelos de gato do que... Não, péra. 
E as coisas que devemos fazer antes de morrer? Skibunda em alguma praia do Nordeste, sexo selvagem com um desconhecido, gastar o décimo terceiro com sapatos, lançar um blog fashion adviser. E logo eu que odeio blogs fashion adviser! 
E a lista de coisas para ser feliz hein? Hein?! Quem diria que comer panqueca com frutinhas de mato ia me fazer tão realizada... "Tire momentos a sós". E tudo o que uma mãe pensa é que vai ser o máximo poder fazer cocô sem ninguém a dizer a cada cinco segundos: blérc! Mas como faz? Já inventaram um WC bunker? 
Obviamente não podemos esquecer da lista para um corpo perfeito! Beba água! Coma de três em três horas, corte frituras! Corte refrigerante! Corte doces! Corte os pulsos! 
As únicas listas de que verdadeiramente gosto são as de sugestões de lugares turísticos, de resto passo bem sem estes conselhos. Só tenho receio de que letras minúsculas tragam aquelas coisas de que se não passarmos esta lista idiota para doze pessoas, vamos queimar no inferno cibernético, ter a nossa conta de e-mail deletada, ninguém mais irá aceitar nossos pedidos de amizade, nem curtir as nossas selfies com bico de pato. O Armagedom de nossos tempos nos tornará mais ignorados do que testemunhas de Jeová em manhãs de domingo, nos deixará em um completo e indefinitivo ostracismo virtual! 


* discutir a relação.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Há emigrantes e emigrantes

Ouvindo a minha vó contar sobre uma amiga portuguesa da época obviamente de quando minha tia vivia em Portugal, quase fiz aquele suspiro de pesar. Oh, coitada, vai ter de sair do país dela e tudo...sei como é! Mas a vó continuou dizendo que ela já estava morando no Rio e que inclusive estava aos poucos se instalando em um apartamento...no Leblon. 



Poker face do outro lado da linha, mas a vó não percebeu. Depois de um longo silêncio, ainda disse embasbacada: tem certeza vó, só no Leblon?!" Só" o cenário preferido das novelas do Manuel Carlos em que uma Helena desfila num doce balanço a caminho do mar? Tá bem então! Parece que o marido dela vem como um dos diretores da Oi, empresa de telefonia brasileira...

                                                                     ***
Ontem estava acompanhando uma discussão em um fórum de brasileiros em que uma mulher casada com um francês estava sofrendo muito com a proposta que tinham feito ao marido. Acontece que ele é diretor de uma empresa que implantou uma sede no Brasil (diz que por ideia do próprio) e agora lhe ofereciam a oportunidade de gerí-la por três anos. Três anos em que pagariam um salário maravilhoso, manteriam o alto padrão de vida ajustado aos custos da cidade de São Paulo que é caríssima, pagariam escola para suas filhas. Mas não uma escola qualquer, e sim a melhor escola da cidade, arriscaria dizer do país, uma internacional com ensino em francês além de inglês. E não satisfeita, a mulher torcia para que o marido se desse mal com os futuros colegas e detestasse viver no Brasil, pois ele poderia voltar a qualquer momento e reocupar o cargo deixado na França.
Quisera eu ter sido um destes tipos de emigrantes, aos quais é reservado o direito de reclamar das banalidades da vida, e olha que até me considero bem sortuda. Nunca passei fome nem precisei enveredar pela chamada vida fácil que de fácil não tem nada. Já dizia Zeca Pagodinho "na vida coisa mais feia é gente que vive chorando de barriga cheia". 
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