Queria ter a inocência ou a cabeça dura de outros tempos em que acreditava em soluções definitivas e vibrar com esta notícia. Não que uma parte de mim não exulte, mas lá no fundo há uma certa desconfiança, pois que a vida mostrou-me que não nos quer muito parados já que é a oitava vez que arrumo as malas em um período de dois anos. E no entanto, esta é a única que acredito mesmo ser para melhor...só não sei até quando.
Desde que o marido agarrou com unhas e dentes este emprego na Alsácia, sabíamos que era apenas um recomeço, uma linha nova, um ponto de partida temporário, visto o salário ser muito justo não permitindo grandes aspirações que não viver um dia após o outro fazendo uma ginástica para chegar ao fim do mês. Um ano se passou em que não via o seu trabalho reconhecido, em que o salário mantivera-se muito abaixo do limite de sua experiência. Os sacanas dos franceses mostraram-se negociantes como os de qualquer parte do mundo, em que explorar o desespero alheio é apenas um detalhe, um objetivo a preencher na meta ao fim do mês.
Porém quando tudo encaixou tão perfeito, com uma sincronia absurda, eu comecei a acreditar que aquilo só tinha mesmo de ser, como naquele ditado: quando é para acontecer, até quem atrapalha ajuda. E assim sem nem ter procurado, a vaga pulou no colo do Fernando e as entrevistas e o resultado vieram na mesma semana. Um longo período de separação, ponte aérea Nice-Strasbourg, passagens promocionais, depressão, quilos (a mais para mim, a menos para ele), um Fabian choroso, um outono frio para cacete, e enfim, respira, estamos quase na linha de chegada! A sina do apartamento também está quase. Quase como eu pedi. Grande, perto de um maternal, da estação do trem, da praia e com um terraço (que "num guento" estender roupa dentro de casa). Agora é correr atrás de empresas de mudança mais em conta, colocar este imóvel para alugar, comprar o bacalhau para o Natal e, talvez algures entre o meio (meu aniversário) e o final de janeiro, estejamos entrando com o pé esquerdo, lá está, sou canhota, logo o esquerdo é que é bom, na nossa nova casa. Ano novo, vida nova. Por mim parava por aqui. Não me importava nada de ficar velhinha pegando o meu chapéu e a cadeira de praia para enterrar meus pés no mar da Cotê d'Azur.